Trata-se de um professor, coreografo e bailarino, natural do Uíge, nascido a 24 de Novembro de 1962, defensor da cultura nacional, que deixa o seu legado na dança ao formar vários quadros.
Para o presidente do Ballet Tradicional Kilandukilu, Maneco Vieira Dias, Sakaneno tinha uma dimensão imensurável, e por ele passaram várias geracões, inclusive os bailarinos deste conjunto, em 1985, aquando da primeira formação, numa altura em que o processo era ainda exíguo.
Pelos seus feitos, considera-o como um dos pioneiros do ensino académico das artes no país, onde atingiu mesmo o posto de director da Academia de Dança.
“Com a sua partida, é claro que ficamos mais empobrecidos, muito por conta do conhecimento que ainda tinha para partilhar e transmitir. Mas, ainda assim, ficamos com tudo o que ele pôde passar”, frisou.
O corpo do malogrado foi encontrado na sua residência, no passado domingo, na Urbanização Nova Vida, onde decorre o óbito, em estado de decomposição.
O funeral está previsto para quarta-feira, 12, no Cemitério do Benfica. Quanto a esta situação, Maneco preferiu não abordar, por considerar ser um assunto muito delicado, que mexe com a integridade humana.
“A sua morte piora ainda mais na
pobreza da dança”
O presidente da Associação dos Grupos de Dança de Angola, (AGRUDANÇA), Adriano de Sousa, lembra que algumas vezes participou em concursos que teve como Júri o professor Sakaneno, descreve-o como um professor com uma pedagogia vertical, o que observa resultar da sua formação em Cuba enquanto estudante do curso de dança.
“Fora de ser um dos primeiros professores de danças folclóricas no país, do ponto de vista sistémico, ajudou muita gente. Eu, particularmente, nas pesquisas das nossas defesas de trabalho de curso, dos nossos planos curriculares enquanto cursos ministrados com a associação”, descreveu.
Adriano conta que Sakaneno quando abordado por membros da associação, aquando de uma visita, por alguma desilusão, num estado depressivo, não queria ouvir falar de nenhum dos rostos da dança, daqueles gurus, cujos nomes a nossa fonte preferiu não citar.
Lembra que estava descontente com os últimos fenómenos da dança, lamentava ainda a ingratidão que tinham com ele, e muitos outros projectos em que o seu nome não era tido e excluído por afinidade ou interesses de uns. Com a sua morte, analisa, piora ainda mais na pobreza que já existe entre a classe da dança no país.
Com o seu passamento físico, nas condições que ocorreu, considera chocante e lamenta profundamente. “Se forem na página oficial da AGRUDANÇA, temos uma nota de falecimento, onde dizemos que tomamos conhecimento e pedimos perdão pela forma como o professor morreu, o que demonstra o quanto a classe da dança está dividida em fatias”, lamentou.
Interação com várias gerações
Ainda sobre o assunto, o coreografo Inocêncio Oliveira disse que o professor Man Saka, para os mais próximos, tinha uma visão particular sobre o ensino das artes, sobretudo da disciplina da dança no país.
Lembra que há muito se foi debatendo para a criação de uma técnica específica só para a dança angolana, visto que já existiu uma técnica universal mais baseada para as danças ocidentais.
“Então ele sempre esteve a trabalhar, no sentido de fazer um estudo apurado para uma técnica específica de dança angolana”. Inocêncio referiu que o malogrado lamentava a falta do seu conhecimento social, como por parte dos titulares do ministério da Cultura, sendo ele um dos primeiros formados de dança que trabalhou com quase todas as gerações ao nível da dança.
Com vários projectos em carteira, avançou, Sakaneno carecia de apoios para o desenvolvimento dos mesmos, uma vez que sentia a necessidade de um auxílio da sociedade, no geral, para executá-los, e de outras pessoas com poderes de decisão.
Em detrimento destas situações, explicou Inocêncio, muitas vezes sentiu-se ‘frustrado’, em função de alguns projectos que tencionava realizar, sem apoios, sendo ele um ícone da dança ao nível do país.
“Ele esteve durante muito tempo na Escola nacional de Dança, desenvolveu muitos projectos ao nível da dança e dizia que a sociedade não lhe dava a devida atenção merecida, o que fazia com que se sentisse chocado e abandonado”, contou.
O coreografo acha conveniente o reconhecimento dos artistas ainda em vida, como forma de prestigiá-los, para que se evite situações do género. . “Acho prioritário, acho que deve ser feito agora para evitarmos situações como esta.
O que aconteceu com o professor Sakaneno, com certeza, está a acontecer com muitos artistas, homens de cultura, que não têm nenhum provimento do Estado, nenhum aporte. No final de tudo, quando acontece isso, algumas instituições querem aparecer bonito com elogios”, deplorou.