O óbito encontra-se na sede do grupo, na Ilha de Luanda, aos cuidados da família e do próprio grupo que dirigia, nesta que era a sua segunda casa, que acolheu várias actividades e outros encontros dirigidos por ele, a tratar de assuntos ligados ao grupo e ao carnaval, no geral.
António Custódio era considerado como um grande expoente do Carnaval de Luanda, ao levar o grupo União Mundo da Ilha à conquista de vários troféus, além de impulsionar os distintos conjuntos a massificarem o carnaval no país.
O comandante do grupo, Salomão Manuel, disse estarem desolados por terem perdido aquele que era o suporte do grupo, um grande líder, que os motivava, diariamente, a seguir neste evento considerado como a maior manifestação cultural no país. “Recebi a notícia ontem de amanhã.
Neste momento, estamos sem chão; … estamos sem palavras para descrever este sentimento. Mas, temos de ter o pé e a cabeça no lugar para aguentar esta situação”, disse, desolado. Manuel Rocha, presidente do União Sagrada Esperança, soube do ocorrido através de uma publicação no Facebook.
Consternado, conta que o carnaval perdeu mais uma peça fundamental, junto da máquina que todos os anos tem de funcionar. “Deparei-me com o assunto no Facebook. Isso desmoronou-me completamente. Não sei como vamos reparar isso, mas é uma grande perda ao nosso carnaval”, frisou.
Grupo tradicional
Nestes anos a desfilar na Marginal de Luanda, Manuel Rocha observa que o União Mundo da Ilha é um dos conjuntos que não fugiu da sua essência, daquilo que são as características dos grupos carnavalescos no litoral do país.
Por estes e outros feitos, considera este conjunto um dos impulsionadores, que difundiram a realidade cultural do carnaval no país, onde, durante os oito anos que dirigiu, conseguiu levá-los ao pódio.
Ao falar da dimensão cultural do presidente do União Mundo da Ilha, disse haver apenas duas com o mesmo punho que António Custódio, sem citar os nomes. Mediante a situação, acha necessário os membros da associação de carnaval, dirigido por ele, reunirem-se no sentido de criar métodos para serem transparente igual ao malogrado.
“Fui uma pessoa ligada a ele, falávamos, trocávamos impressões. Então, tenho a certeza o quão grande é a perda nesta área cultural do país. Ele não é um líder com uma idade muito avançada, passou a fazer parte do grupo numa altura em que o conjunto não conseguia ocupar grandes lugares nas competições e inverteu a situação”, exaltou.
Sobre a associação de grupos carnavalesco, questionou-se como hão-de tratar a mesma, que era liderada por ele. Apontou a necessidade de se organizarem mais, ao ponto de se criar elementos fundamentais igual ao António Custódio.
Líder de um grupo emblemático no país
Maravilha dos Santos, presidente do União Kiela, igualmente aos outros, disse estar desolada com o passamento físico de um líder que muito fez para ver os grupos carnavalescos unidos, visto por muitos como a força máxima do Carnaval de Luanda.
Lembra que se trata do dirigente de um dos grupos mais emblemáticos no país, com mais títulos, a força motora do União Mundo da Ilha. Refere ainda que António Custódio foi o porta-voz da associação de carnaval que apoiava e defendia os direitos dos grupos.
“Muito triste, saber que perde- mos alguém de grande importância, uma mais-valia ao Carnaval de Luanda. Mais do que falar, lamentamos pelo seu passamento físico, porque não caiu bem para todos nós. Não sei o que será do União Mundo da Ilha de agora em diante”, lamentou
APROCAL lamenta a sua morte
O Secretário da Associação Provincial do Carnaval de Luanda (APROCAL), António Oliveira “Delón”, descreve António Custódio como uma pessoa prestável, com quem trabalhou constantemente, além de dirigir um dos maiores conjuntos do Carnaval de Luanda.
“A nossa posição é de total lamentação. Era muito jovem, sabia ouvir, sabia liderar. É um pouco difícil fazer uma abordagem daquilo que foi a dimensão cultural do malogrado, mas foi uma pessoa que se engajou directamente a vários assuntos sobre o carnaval, deu tudo de si para o bem desta manifestação cultural no país”, recordou.
Independentemente de ser do referido grupo, segundo Delón, trabalhou directamente com APROCAL, no sentido de aconselhar, assim como apoiar vários grupos financeiramente, inclusive. Através da sua dinâmica, interacção, no seio do carnaval, tinha sempre uma palavra.
“O nosso carnaval, em suma, a nossa cultura, sai a perder, tendo em conta a grande evidência de quem foi António Custódio, a sua participação, o seu engajamento, a sua forma de interagir, de estar, de fazer carnaval: sabia ganhar, também sabia perder. Para ele, o importante era fazer a festa do carnaval”, contou.
Morreu o professor de dança Sakaneno João de Deus
O professor de dança, Sakaneno João de Deus, foi encontrado sem vida na sua residência, na tarde de ontem, em Luanda
A causa da morte ainda não foi identificada, e está a ser investigada pelas autoridades. Mas fontes próximas contam que Sakaneno não era visto na porta de casa como era habitual, há cerca de uma semana.
O presidente da Balet Tradicional Kilandukilu, Maneco Vieira Dias, na sua página de Facebook, referiu que Sakanenko, em 1985, foi a pessoa, enquanto coreografo, que passou o ABC ao grupo, que daí seguiu adiante.
Segundo Maneco, quando decidiram revitalizar o movimento da dança no país, há sensivelmente oito anos, fizeram espectáculos durante dois dias, com mais de 300 bailarinos dos mais variados géneros, no Palácio de Ferro.
“Decidimos homenagea-te por tudo que havias feito pela dança, pois, enquanto vivo, se devem prestar tributo às pessoas e assim o fizemos. Infelizmente, fomos impotentes diante de tudo que vivestes nos últimos tempos. Obrigado por tudo Professor… Companheiro de momentos bons e maus momentos”, lê-se. Sakaneno foi professor, coreógrafo e bailarino.
Foi director da Academia de Dança em 1989, 1990, 2000, 2001, 2002 e 2003. O malogrado foi um professor de referência dada a sua competência profissional no domínio das artes, em particular na dança, quer na organização e preparação, quer na formação. É autor de vários projectos de artes e realização a nível nacional e internacional.
Na sua folha de serviço, conta ainda que foi membro efectivo do Conselho Internacional de Dança CID/ UNESCO e da IOV. Sakaneno teve participação internacional em conferências, palestras, festivais, workshop, debates e formação em vários países de África, América e Europa como prelector na prática e na teoria de dança.
Criou várias coreografias, entre as quais de abertura e encerramento da Taça das Nações Africanas em Futebol, que o país albergou em 2010. Sakaneno começou a ensinar dança com apenas 10 anos, na aldeia em que nasceu, no Uíge.
Em 1978, veio a Luanda e começou logo a frequentar o seu primeiro curso de instrutor de arte, ministrado no Teatro Avenida, pelo malogrado pintor Vittex. No ano seguinte, partiu para Cuba onde frequentou o curso superior de artes, que veio a terminar em 1986, altura em que regressou a Angola.
Antes de voltar, fez, em Cuba, alguns trabalhos, quer a nível da escola onde estudou, como em orfanatos. Chegou a exercer o ensino artístico. Trabalhou com crianças órfãs vindas da Nicarágua e outros países, segundo a Angop.
O primeiro prémio foi-lhe atribuído pela União dos Artistas e Compositores, UNAC, o prémio Identidade. Foi ainda o primeiro a organizar o Festival do Dia Mundial da Dança no país.
O Fenacult foi um dos seus primeiros trabalhos e o primeiro festival cultural organizado pelo Ministério da Cultura, tendo sido o autor da coreografia de abertura e do fecho, onde participaram muitos dançarinos, entre eles as Gingas do Maculusso que, na altura, tinham os seus 8, 9 anos. Foi igualmente vencedor do Prémio Nacional de Cultura e Artes na Categoria de Dança, em 2018.