O facto aconteceu no município do Kilamba Kiaxi, propriamente no bairro Popular, no dia 10 de Maio, quando a menina Carla se encontrava no quintal de sua casa, a brincar, e apareceu o cachorro da vizinha. Sem motivos aparentes, o cachorro de raça caniche, mordeu a menor num dos dedos da mão.
Após o incidente, a menor assustada e em companhia de alguns amigos, dirigiram-se à casa do tutor do animal, a fim de informarem sobre a ocorrência, pelo que foram expulsos, sob a alegação de que não se responsabilizariam com o que havia acontecido, como contou ao jornal OPAÍS, Teresa Barroso, mãe da vítima.
Tanto a mãe quanto o pai de Carla, tão logo chegaram à casa, ao terem visto que a menina estava inquieta, procuraram saber o que se passava e foram pedir esclarecimentos junto dos vizinhos responsáveis do animal, principalmente relacionado a regularidade das vacinas do cão em causa. No dia, não tiveram sucesso.
Após se passarem alguns dias, a mãe da menor voltou a entrar em contacto com os responsáveis do cão que, até então, não haviam mostrado nenhum interesse pela situação, e os mesmos desta vez garantiram que o animal estava vacinado. Exigiram que lhes fosse apresentado o cartão de vacina, mas a procura pelo cartão levou muitas horas, e até dias.
Eis que aparece um cartão, novo, que os tutores apresentavam como sendo do animal, comprovando que este tinha a vacina antirrábica. Os familiares da vítima, desconfiados com a veracidade do documento decidiram confrontar os donos do animal, que insistiam que o documento era verdadeiro.
Sinais da instalação da doença
Passados dias, a menina começou a se comportar de forma diferente, já não saía para brincar com os amigos, estava com perda de apetite e, apesar de os pais a terem perguntado se estava tudo bem, ela dizia para não se preocuparem.
Após quase um mês do incidente, a menor começou a passar mal durante a madrugada e foi levada de imediato ao Hospital Neves Bendinha (especializado para questões de queimaduras), onde foi atendida no banco de urgência, com desconfiança dos pais de que se tratava de paludismo, mas se queixava de fortes dores num dos braços e na região da garganta.
Horas depois foi estabilizada, mas os sintomas voltaram com mais intensidade, fazendo com que começasse a convulsionar, delirar, até ficar agressiva tanto com os seus pais, quanto com a equipa de médicos que a assistia.
Os médicos desconfiados dos sintomas que a menina apresentava, decidiram fazer novos exames onde descobriram que estava com raiva. Quando perguntaram aos familiares estes confirmaram que ela tinha sido mordida por um cão da vizinha.
Foi transferida para o hospital Maria Pia. “Depois de um tempo, Carla voltou a se acalmar, mas no Maria Pia desconfiamos, pela demora dos doutores em prestar informações, que o seu caso já não tinha solução e a única coisa por se fazer era deixar que o veneno do animal terminasse de fazer o efeito no seu corpo.
Vi a minha filha a delirar, a espumar na boca e a se despedir de todo mundo”, conta a mãe. Os médicos disseram que não havia mais nada a fazer senão rezar e esperar pela sua morte, uma vez que o vírus da raiva já estava instalado no sangue.
De acordo com a família, o proprietário do animal está neste momento detido e a contas com a justiça, pois, lá na esquadra, até mesmo o agente do SIC disse que o cartão de vacina era novo, o que levantava suspeitas sobre a administração da vacina antirrábica ao cachorro. Os tutores do cachorro viram-se obrigados a mudar de bairro, carregaram todas as mobílias e sabese da vizinhança que o caniche foi morto e deitado fora.