O presidente da Rede Angolana das Organizações de Serviços de Sida e Grandes Endemias (ANASO), organização não-governamental angolana, em áudio partilhado nas redes sociais, relata a “situação difícil” de organizações da sociedade civil em Angola, que diz estar a obrigar ao seu encerramento, por falta de financiamento.
“A situação é preocupante, a maior parte das organizações está a fechar as portas por falta de apoio, os agentes comunitários de saúde estão amarrados e sem alternativas de trabalho”, disse António Coelho, referindo que pessoas vivendo com o VIH/Sida estão a desistir do tratamento “devido à fome e falta de apoio social”.
O número de novas infecções por VIH “está a aumentar e o número de mortes relacionadas com a Sida também, continua a haver rotura de anti-retrovirais, de testes, de reagentes e de preservativos”, referiu.
Segundo o líder desta ONG angolana, fundada em 1994, no país não há investimento comunitário e nem dinheiro para as campanhas públicas para mudança de comportamento.
“Não há apoio alimentar para as pessoas vivendo com o VIH, porque não há sensibilidade para apoiar os que sofrem e precisam. O estigma e a discriminação estão a afastar as pessoas da luta e os grupos de ajuda mútua desapareceram”, lamentou.
A sociedade angolana, observou, deixou de ser solidária e a saúde “passou a ser apenas hospitalar, ninguém fala da prevenção e, quando o fazem, é para justificar a resposta medicalizada”.
António Coelho considerou que a política comunitária de saúde e o seu plano estratégico em Angola continuam em “standby” e “ninguém sabe se a versão final levou em conta as consultas e contribuições da sociedade civil”.
“Não está fácil, mas nós que dedicamos toda a vida a ajudar Angola e os angolanos a lutar pela vida, fazendo da luta contra a Sida um compromisso de todos os dias, não podemos desistir agora, as pessoas acreditam e contam connosco, a missão ainda não terminou, vamos continuar a lutar”, frisou.
O activista da luta contra o VIH/ Sida no país assegurou ainda que vai continuar “para fazer ouvir a voz, mas de forma organizada sem ofensas e em fórum próprio”.
A sociedade “precisa de saber que não estamos satisfeitos com a resposta nacional à epidemia da Sida e que entendemos que não estamos a aproveitar bem os apoios internacionais e nem a valorizar a contribuição comunitária”, concluiu o responsável da ANASO.
Cerca de 340 mil pessoas estão infectadas com HIV/Sida em Angola, sobretudo mulheres, estimando-se que a taxa de abandono dos tratamentos devido aos problemas socioeconómicos ultrapassa os 52%, segundo a ANASO.