Atribui-se, insistentemente, a um antigo governante a patente pela frase o ‘cabrito come onde está amarrado’. Embora o fizesse ecoar, num mundo cheio de criativos, até mesmo na era analógica, é possível que os direitos de autor venham a ser um dia reclamados por outros cidadãos.
A verdade é que o mesmo já não faz parte do mundo. Repousa, hoje, num cemitério, mas, sempre que nos lembramos deste aforismo, não há como não ter em mente aqueles indivíduos que, exercendo determinadas funções públicas, não se coíbem em colocar as mãos naquilo que é de todos, sobretudo as verbas destinadas ao serviço público.
Por estes dias, a batalha parece estar centrada a nível dos empresários ou supostos empresários que tiveram acesso às obras do Programa Integrado de Intervenção aos Municípios (PIIM), uma iniciativa presidencial, onde aos poucos se pode começar a divisar a existência de indivíduos de má índole que não se sabe como tiveram acesso às empreitadas.
Recentemente, o governador de Malanje, Marcos Nhunga, insurgiu-se contra alguns destes construtores por causa da incapacidade dos mesmos. O pior é que nesta província, onde, por sinal, a tese do ‘cabritismo’ teve um dos seus maiores defensores, uma única empresa se terá apossado do grosso das obras do PIIM, facto que fez com que se sugerisse, inclusive, a entrada em cena da Procuradoria-Geral da República.
Na altura, o governador disse que ‘‘Não é aceitável e não é compreensível no caso do PIIM que haja uma única pessoa a nível da província que tenha criado sete empresas e que essas empresas detêm 27 ou 28 obras, não é normal que alguém não tenha dado conta”, disse o governador.
E acrescentou: ‘essa pessoa para fazer isso é porque teve implicações de outras pessoas’. A situação em Malanje parece ter sido apenas a ponta do iceberg. Haverá, noutras províncias, casos de empreiteiros incapacitados e muitos que podem ter tido acesso às obras por intermédio de práticas condenáveis. Há denúncias no Cuanza-Norte, afastados no Bié e alguns descontentamentos no Moxico.
Os últimos anúncios feitos pelo Serviço Nacional de Contratação Pública, convocando os responsáveis de empresas construtoras e as de fiscalização, sugerem que alguns dos actuais responsáveis públicos podem não ter perdido os vícios de outrora, ou então não terão sido suficientemente cautelosos na escolha daqueles a quem confiaram largos milhões de Kwanzas do Estado para a edificação de escolas, centros de saúde, terraplanagem, estradas e outros empreendimentos.
Não é sequer aceitável que algumas delas não tenham um domicílio onde possam ser contactados, a julgar pelo que menciona um dos comunicados desta instituição afecta ao Ministério das Finanças, que hoje encontra dificuldades em encontrar alguns destes supostos prevaricadores. Infelizmente, parece que estes deverão sentir a mão pesada do Estado.