Não é preciso avançar muitas páginas para se sentir a vertigem. Na verdade, basta contar três linhas para se perceber ao que vamos. “Se quiserem, podem considerar o que vão ler como uma mensagem do além, o meu além” (quarta linha, antes do relato de uma experiência de quase morte; pausa para respirar).
Estas são as palavras que Matthew Perry escolheu para dar as boas-vindas ao leitor de Friends, Amantes e Aquela Coisa Terrível, agora editado em Portugal (Casa das Letras, tradução de Renato Carreira).
Um livro de memórias que teve o seu lançamento original em 2022 – um ano antes da notícia chocante, mas não totalmente inesperada, da sua morte, a 28 de Outubro último, trazendo ao conhecimento público uma batalha que vinha sendo travada no sigilo possível, entre muitas idas a hospitais e internamentos em unidades de reabilitação.
A batalha contra o alcoolismo e a dependência de opiáceos. “Para me manter vivo, tinha-me transformado num doente profissional”, conta. Friends, Amantes e Aquela Coisa Terrível está repleto de frases assim, directas, absolutamente avessas a qualquer dourar da pílula e empenhadas em manter o humor à tona, para afastar a depressão das imagens evocadas.
Na realidade, outro tom não seria de esperar do actor que deu vida a Chandler Bing na série de sucesso internacional Friends (1994-2004), o tipo da masculinidade anedótica, vulnerável, com charme sarcástico a rodos.