Qual é a utilidade prática do Instituto Geológico de Angola?
Além de pesquisar os dados cartológicos e os recursos minerais, o Instituto Geológico de Angola (IGEO) está vocacionado para estudos ambientais, bem como pesquisas de materiais de construção civil, a qualidade dos solos para o sector agrícola, ou seja está representado em quase todos os sectores do país.
Estamos a efectuar cartografia de solo no canal do Cafú, na província do Cunene, para saber as propriedades que possui para o fomento agrícola e ajudar as famílias que vivem ao redor do canal no cultivo de alimentos para a sua subsistência. Igualmente, estão em curso estudos de pesquisa de água subterrânea, ensaios de rochas ornamentais, a gectonea (estudo de terreno).
Por outro lado, estamos a fazer estudos costeiros, porque os rios arrastam muitos minerais e estão a ser retiradas amostras para a avaliação. Está em curso um programa que será apresentado ao Órgão de tutela em cooperação com outros organismos porque está capa- citado para efectuar mais actividades geológicas, geofísicas e geoquímicas.
Qual é o grau de execução do Plano Nacional de Geologia?
O Plano Nacional de Geologia (PLANAGEO) foi criado para responder aos grandes desafios inerentes ao desenvolvimento sustentável de Angola, teve início em 2013 que, no entanto, falta concluir as investigações geológicas na parte do Leste do país. Os trabalhos do PLANAGEO consistem em trabalhos de levantamentos aerogeofísicos, cartografia, mapeamento geológico e geo- químico, bem como a actualização e elaboração de cartas geológicas a várias escalas, assim como na elaboração de cartas de minerais metálicos, minerais para a construção civil, geomedicina e geologia aplicada à engenharia (geotecnia) Podemos dizer que faltam em cerca de 20% para concluir os trabalhos de investigação e pesquisa, e detalhar alguns elementos.
Qual é utilidade das informações geológicas para as empresas?
Com a informação geológica que o IGEO disponibiliza, as empresas poupam tempo em pesquisas, principalmente as empresas mineiras, sendo que toda a informação que for actualizada é comparada a dos anos anteriores. Angola é rica em recursos minerais com destaque para o ouro, níquel, cobalto, cobre, fosfato, ferro, diamantes, terras raras, rochas ornamentais, materiais de construção, minerais preciosos, não ferrosos, sendo que indicamos as áreas para a exploração deste segmento. A título de exemplo, temos uma empresa que está a fazer estradas na província do Moxico e pediu a nossa colaboração para pesquisar rochas para fazerem as estradas.
Das pesquisas efectuadas pela vossa intuição que materiais já estão a ser explorados?
Para uma empresa fazer pesquisa leva mais ou menos de 10 a 15 anos de prospecção e o PLANAGEO não tem muitos anos em funcionamento, quer dizer que a informação de ocorrência dos recursos minerais não são resultado do programa, mas sim estudos antigos como é o caso da exploração de ouro em Cabinda e Chipindo (Huíla), reservas das terras raras no Longonjo (Huambo). No que toca às rochas ornamentais, o IGEO disponibilizou informações a duas empresas porque são mineiras fáceis de serem encontrados.
Temos minerais que foram descobertos pela primeira vez?
Sim, o lítio, o níquel ambos servem para fazer baterias, enquanto o cobalto estão a ser realizadas pesquisas e prospecção na província do Cunene e ainda temos o titânio.
Qual é quantidade de empresas que solicitam os vossos serviços?
São muitas, com destaque para a Rio Tinto, AngloAmerican a quem fornecemos os dados e informações iniciais para que pudessem investir no país e, posteriormente, as empresas tem de continuar a pesquisar, sendo que as empresas para explorarem precisam de da- dos para iniciarem.
O IGEO tem tido financiamentos para efectuar estes projectos?
O Instituto depende do Orçamento Geral do Estado (OGE). O estudo do PLANAGEO foi um projecto estruturante do Estado angolano com investimento global avaliado em USD 405 milhões. As pesquisas continuam dentro das possibilidades, sendo que não temos recursos próprios e algumas vezes trabalhamos com parceiros como as empresas chinesas e nacionais do sector como é o caso da Sonangol, Agência Nacional de Petróleo e Gás ANPG e a Endiama. Este ano o orçamento foi reduzi- do a 82 milhões de kwanzas o que nos impedi de dar continuidade alguns projectos, sendo que este valor não chega para gerir a estrutura, muito menos para a manutenção do espaço.
Em Março do presente ano, o Instituto Geológico de Angola (IGEO) e o Gabinete de Geologia e Recursos Minerais de Jiangxi rubricaram alguns acordos de cooperação. Pode detalhar do que se trata?
Estes acordos vão permitir o Instituto Geológico da China efecturaem trabalhos de pesquisa a cus- to zero. Os técnicos chineses vão fazer trabalhos de cartografia, geológico e de geoquímica, bem como pesquisa de minerais que Angola possui. No entanto, se durante a pesquisa descobrirem áreas do seu interesse poderão investir. Angola precisa de apoios para aturar, detalhar os recursos que possui e no âmbito do PLANEGEO escolhemos áreas que se chamam anomalias que precisam de investigações. É uma Instituição que está muito avançada em termos de equipamentos e possui as próprias mi- nas, onde conseguem retirar investimentos para poderem aplicar noutros segmentos e estão a investir em quase toda África.
Quando é que a delegação do IGEO da China estará em Angola?
A delegação chinesa chega ainda este mês de Abril para dar início às investigações e ajudar Angola no segmento dos recursos minerais e anomalias.
O Instituto dispõe de três laboratórios, sendo um em Luanda, outro em Saurimo e na Huíla. Qual é o grau de funcionamento?
Os laboratórios estão a funcionar e foram implementados com as exigências da União Europeia. O laboractório de Luanda tem solicitação de testes de amostras todos os dias, apesar de que, neste momento, paramos um pouco a recepção de amostras, porque estamos a fazer avaliação para acreditação do Serviço Nacional de Acreditação da China (CNAS) e temos um trabalho interno que tem de ser feito. A validação do serviço nacional de acreditação da China serve para avaliação de conformidade, na qual fala das actividades do laboratório como: Justiça, confidencialidade, pessoal, instalações e condições ambientais, equipamentos, rastreabilidade metrológica, produtos e serviços de fornecedores externos, método, amostragem, a validação do contrato, registos técnicos, incerteza de medição, controlo de qualidade, relatório de teste, reclamação, trabalho não conformes, documentos do sistema, registro, avaliação interna, a validação e gestão actividades de acreditação. Por esse motivo, estamos a receber somente as amostras urgentes porque caso atender todas as solicitações que chegam ao IGEO vamos reduzir o trabalho interno. Já os laboractórios de Saurimo e Huíla pertencem ao IGEO recebem as amostras das regiões em que estão alocados para não virem até Luanda. Igualmente estão em funcionamento a fazer trabalhos de ensaios de rochas ornamentais para saber a dureza, absorção da água e pesquisas de materiais de construção.
Quando acontece a validação do laboratório de Luanda por parte do Serviço Nacional de Acreditação da China (CNAS)?
No mês de Junho do ano em curso, concretamente do dia 3 até 8 vem a Angola uma equipa do Serviço Nacional de Acreditação da China com cinco peritos para fazerem uma revalidação presencial para constatar os métodos analíticos, tendo em conta a certificação ISO 125 e aumentar o reconhecimento internacional, sendo que durante a pandemia já fomos validados, mas foi online e agora será presencialmente. No laboractório de Luanda fomos certificados com 18 métodos, Huíla com 9 métodos e Saurimo 6 métodos. Actualmente os laboractórios dispõem de 88 métodos de análise geoquímica e de mineralogia, são 58 métodos certificados,e com esta acre- ditação queremos aumentar mais o escopo de acreditação.
A falta desta creditação reduz o número de clientes que recorrem ao estrangeiro para fazerem alguns testes e perdem muito dinheiro?
Sim, porque as certificações são reconhecidas internacionalmente e aumenta a confiança dos clientes para solicitarem trabalhos no nosso laboratório, mas os laboratórios não são centros de arrecadação de receitas, porque teríamos muitos custos na compra de reagentes, claro que também teríamos algum dinheiro para as nossas actividades. Em 2020, o laboratório de Luanda recebeu um total de 12610 amostras, ao passo que em 2021 totalizou cerca de 14531, já em 2022 foram analisadas 20825 testes e em 2023 cerca de 3 mil 500 amostras e este ano conta- mos com 450 amostras.
Quanto é que o laboratório per- de por falta desta certificação?
O laboractório perde muito com a falta desta certificação, quando foram feitos os estudos tínhamos uma previsão de receber 20 mil amostras por ano e não temos este número. No presente ano, até agora contamos com cerca de 450 amostras, sendo que tínhamos um número maior quando o PLANAGEO inseria as amostras das operadoras, porque não podia enviar para o exterior. A de- pender das análises que se pretende efectuar os preços variam o equivalente entre 15 a 35 dólares.
Esta redução no número de amostras recebidas pelo IGEO não periga o funcionamento dos equipamentos, porque irão ficar paralisados e vão carecer de manutenção?
Não, porque esta avaliação que está a ser realizada para a acreditação para recebermos a usamos todos os equipamentos e como temos poucos técnicos cada um deles algumas vezes são forçados a manusear dois equipamentos da mesma linha.
Quantos técnicos estão a funcionar nos laboratórios?
Em Luanda contamos com 36 técnicos, ao passo que Saurimo 12, enquanto na Huíla temos 24 funcionários e dispomos de 190 equipamentos diversos. Os laboratórios são geridos por nacionais, sendo que os técnicos chineses tratam da assistência técnica porque os equipamentos foram instalados por eles. O Instituto reduziu o número de pessoal porque foram encontradas pessoa com dupla efectividade, sendo que tem capacidade para empregar 450 funcionários, mas conta com menos de 200. Acredito que posteriormete são os nacionais que vão cuidar da assistência técnica porque estão a ser formados. Recentemente, os técnicos receberam uma formação da norma ISO 17/25 no Instituto Superior Politécnico de Tecnologias e Ciências (ISPTEC).
O que está a ser feito para dar visibilidade ao vosso trabalho?
Para dar a conhecer os nossos trabalhos temos participado em vários workshop do Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, entre outros eventos.