O encontro, que tem por finalidade celebrar o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, que se assinala hoje, vai ainda elevar os géneros de música e de dança, a Tchianda e Kizomba, na mesma categoria, conforme avançou a directora do Instituto Nacional do Património Cultural, Cecília Gourgel. A elevação da Marimba e do Quissanje resulta da sua ampla divulgação a nível internacional, como bens de identidade angola- na que gozam de elevado prestígio.
No caso da Kizomba, explica, por se tratar de uma manifestação cultural angolana, que se tornou num dos ritmos musicais e estilo de dança mais difundidos mundialmente. “Nós temos feito, ao longo destes anos, levantamentos e inventários do património cultural, quer material como imaterial, a nível do país.
Para o efeito, constatamos que para a comunidade estes bens são relevantes na localidade onde estão inseridos, se fazem parte da sua memória colectiva, passada de geração a geração”, disse a responsável em declaração ao OPAÍS. Sobre estas classificações, o músico e compositor Gabriel Tchiema disse que a elevação da Tchianda vai valorizar aquilo que nós somos, a nossa angolanidade e a nossa cultura.
“Se is- to está a acontecer, digo que é um bem-haja! Na verdade, a cultura é para partilharmos. A cultura é para quem sente os pés no chão deste país. Por isso, se calhar, vai ser um momento especial, muito bom para o ego dos angolanos e das pessoas que gostam da sua cultura”, disse.
Para a preservação deste estilo musical e dançante considera que muito ainda tem que ser feito, o que depende das políticas que gizam qualquer país. Ao falar de manifestações culturais, conta que ocorrem em algumas províncias, onde podemos encontrar movimentos culturais fervorosos de cultura.
Mas deplora o facto de estas acções não serem divulgadas noutras áreas no país, por falta de políticas bem centraliza- das para a preservação de vários géneros, desde a própria dança, música, até mesmo as esculturas. “Os vários géneros devem ser preservados. Isso aí é o Estado que tem que o fazer.
Os ministérios de tutela têm de tomar providências para que os nossos géneros, em termos de cultura, possam sobreviver e ter alguma visibilidade”, apontou. No caso da Marimba e do Quissanje, o músico percussionista, Jorge Mulumba disse que, depois da Dizanka, com estes dois teremos a elevação de três instrumentos musicais tradicionais a Património Cultural Material Nacional.
O que considera como uma boa iniciativa desta instituição de utilidade pública, que contou com o apoio do ministério da tutela, ao apresentar estas propostas ao Conselho de Ministros e passar para a promulgação dos Decretos. Apesar de observar o facto como sendo um acontecimento positivo para a política cultural do país, defende a criação de um plano de salvaguarda destes bens culturais, conforme ocorre noutros países, nestes casos.
O plano de salvaguarda, explicou, vai ditar metas para a continuidade do patenteamento, com a criação de uma comissão que vai integrar criadores que preservam os vários instrumentos musicais classificados. “Amanhã vamos fazer um ano com a elevação da Dikanza. Tem- se feito um bom trabalho para a divulgação, expansão e massificação destes instrumentos tradicionais, mas não há um plano de salvaguarda. Este plano ajuda na criação da sustentabilidade destas pessoas que trabalham com os mesmos, para que as próximas gerações possam dar seguimento”, asseverou.
Património material
O programa de actividade vai ainda destacar a classificação da Igreja da Missão Católica do Cuvango, na província da Huila, como património Cultural Nacional Material, uma construção dos finais do século XIX.
O espaço, que além de representar a fixação do cristianismo na região, constitui uma das mais belas construções da arquitectura religiosa do Sul do país. O Colégio de São José de Cluny, localizado no Kinaxixi, em Luanda, que vai merecer a mesma elevação, é um edifício que agrega um significativo conjunto de valores de ordem histórica, urbana, uso e antiguidade que o distinguem das demais construções da sua época e estilo arquitectónico.
Na província de Malanje, a Igreja Metodista Unida de Malanje também verá a mesma classificação, uma das mais notáveis construções da sua época e testemunho de um vigoroso desenvolvimento urbano que começa nos princípios do século XX, conservando-se único do seu género na cidade de Malanje. A directora referiu que, depois deste passo os cidadãos devem preservar estes bem materiais e imateriais.
No caso dos instrumentos musicais adiantou que é dado o contributo para que sejam mais divulgados e utilizados, isso, por constatar que os nossos ritmos musicais tradicionais utilizam estes instrumentos. “Os decretos são claros; é para serem preservados. Não é classificar por classificar. São preservados, são promovidos e valorizados.
Os fazedores da Massemba, da Rebita, do Semba, e outros ritmos, como a dança e música Tchianda. Se for acompanhar a Dikanza, parece um renascer do instrumento, onde todos querem aprender a tocar”.
Elevar o nível de reflexão
O Dia Internacional dos Monumentos e Sítios foi instituído em 18 de Abril de 1982, pelo Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios (ICOMOS). O programa da celebração do 18 de Abril deste ano, procura não só prosseguir, os objectivos formula- dos pelo ICOMOS, mas reflecte, sobretudo, as preocupações e propósitos adoptados pelo Estado angolano no âmbito das suas políticas públicas a favor do Património, combinando um conjunto de acções e de actividades culturais diversas.
Cecília Gourgel avançou que a data tem servido para reflexão e levar o nível de consciência pública, relativemente à nossa diversidade cultural, assim como o património e os esforços que têm sido feitos pelo Executivo e o Ministério da Cultura através do Instituto Nacional do Património Cultural para proteger, elevar e promover estes patrimónios.