Cardeal disse que era “doloroso” ver alguns católicos apoiarem leis antihomossexualidade. O Vaticano opõe-se à criminalização da homossexualidade, esclareceu, esta segunda-feira, o cardeal argentino Victor Manuel Fernández, conselheiro teológico de Francisco, chefe do Dicastério para a Doutrina da Fé.
Esta posição foi partilhada durante a apresentação de um novo texto dedicado ao respeito pela “dignidade humana”, que critica as “barrigas de aluguer”, a mudança de sexo e a “teoria de género”, defendendo os direitos das pessoas LGBTQIA+ e dos migrantes. Segundo cita a Reuters, o cardeal Victor Manuel Fernandez considerou as leis que punem a homossexualidade “um grande problema”. “É claro que não somos a favor da criminalização”, afirmou, em declarações aos jornalistas.
Fernandez, nomeado por Francisco como chefe do Dicastério para a Doutrina da Fé do Vaticano há menos de um ano, disse que era “doloroso” ver alguns católicos apoiarem leis anti-homossexualidade. Designado de ‘Dignitas infinita’, o texto aprovado pelo Papa Francisco resulta de cinco anos de trabalho e foi publicado pelo Dicastério para a Doutrina da Fé, o poderoso órgão da Santa Sé responsável pelo dogma que lista casos de “violações concretas e graves” da dignidade.
No documento, a maternidade de substituição ou “barrigas de aluguer” é descrita como estando “em total contradição com a dignidade fundamental de cada ser humano”, uma prática deplorável através da qual “a criança, imensamente digna, se torna um mero objecto”. Criticada veementemente é a mudança de sexo e a “teoria de género”, que é classificada pelo Vaticano como uma “colonização ideológica muito perigosa”, visando “negar a maior diferença possível entre os seres vivos: a diferença sexual”.
Ao mesmo tempo, a Igreja sublinha o direito ao respeito das pessoas LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgénero, queer, intersexual, assexual e outras pessoas de orientações sexuais e identidades de género diversas), denunciando “o facto de, em certos lugares, muitas pessoas serem presas, torturadas e até privadas do bem da vida apenas por causa da sua orientação sexual”. O documento censura também a violência contra as mulheres, afirmando que “o fenómeno do feminicídio nunca será suficientemente condenado”, mencionando igualmente a “violência digital” que “põe em risco a boa reputação de qualquer pessoa com notícias falsas e calúnias”.
É reafirmada ainda a necessidade de defender a dignidade dos migrantes e condenado o tráfico de seres humanos, o comércio de órgãos e tecidos, a exploração sexual de rapazes e raparigas e o trabalho escravo, assim como o tráfico de drogas e de armas, o terrorismo, o crime organizado internacional, as “condições de trabalho ignominiosas” ou o despedimento de pessoas com deficiência.