A Procuradoria de Segurança do Estado do Egipto decidiu ontem libertar todos os detidos por terem participado na quartafeira num protesto de apoio à Palestina, junto ao sindicato dos jornalistas no Cairo, sem especificar o seu número.
O advogado dos detidos, Nabeh Elganadi, anunciou através da sua conta oficial na rede social X (antigo Twitter) a “libertação de Mohamed Awaad, Mostafa Ahmed e Nour Adel, além de todos os que foram interrogados por causa da manifestação do sindicato dos jornalistas”. “A decisão de libertá-los já foi cumprida e estão todos a caminho de casa”, acrescentou o advogado, que desejou “milhões de felicitações” aos envolvidos, sem adiantar pormenores sobre o número de detidos.
Também o líder do Sindicato dos Jornalistas Egípcios, Khaled alBalshy, partilhou no seu perfil da rede social Facebook uma felicitação pela “libertação de todos os detidos após o protesto de quarta-feira passada em frente ao sindicato” e agradeceu aos que trabalharam para conseguir esta libertação.
Fonte judicial precisou à agência noticiosa EFE que a decisão de libertar os detidos foi tomada horas depois de o Ministério Público ter emitido uma ordem de prisão para quatro pessoas acusadas de “participar num grupo terrorista” e “espalhar notícias falsas”, além de “manifestarem-se sem autorização”.
Na quarta-feira, entre 100 a 200 pessoas reuniram-se nas escadas do sindicato dos jornalistas em solidariedade com os palestinianos na Faixa de Gaza, o local habitual para este tipo de protestos face à proibição legal de manifestações públicas no país. Durante a madrugada seguinte, 11 participantes foram detidos sob a acusação de “participarem em manifestações sem pedir autorização, provocando o caos e o vandalismo”, bem como de “perturbarem a paz social”, disse à EFE uma fonte de segurança de alto nível, sob anonimato.
Um dia depois, de acordo com a mesma fonte, o número de detidos subiu para 19, todos acusados dos mesmos actos e as autoridades procuravam um número indeterminado de outros participantes no protesto para mais interrogatórios. A fonte acrescentou que os protestantes entoaram palavras de ordem consideradas pelo governo egípcio como “contra figuras e dirigentes do Estado”, além de “incitarem a queimar embaixadas e praticarem actos hostis contra missões diplomáticas”.
Foram também ditas frases que promoviam “ideias erradas”, acusando o Estado egípcio de ser responsável pela guerra e a crise humanitária vivida em Gaza. O Governo egípcio condenou a campanha militar israelita na Faixa de Gaza e, juntamente com os Estados Unidos e o Qatar, tem tentado promover um cessar-fogo entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas. Em paralelo, proibiu a maioria dos protestos públicos, num conte to em que as relações do país Arabe com Israel constituem um tema muito fracturante na sociedade egípcia.
Em 1979, o Egipto liderado então pelo Presidente Anwar Al Sadat assinou com Israel um tratado de paz que implicou o estabelecimento de relações diplomáticas entre o Cairo e Telavive. Sadat seria assassinado em Outubro de 1981. Em 2013, o Governo egípcio de Abdel Fattah el-Sisi declarou a Irmandade Muçulmana uma “organização terrorista”, após os militares terem derrubado o falecido presidente Mohammed Morsi – proveniente da Irmandade e o primeiro chefe de Estado a ser eleito no país por sufrágio universal – após 12 meses de um turbulento mandato.
Desde então, as autoridades egípcias têm reprimido todas as formas de dissidência política e proibido os protestos no país. Calcula-se que existam actualmente no Egipto 60.000 presos políticos. Desde o início da guerra Israel-Hamas em 07 de Outubro de 2023, e de acordo com uma organização egípcia de defesa de direitos humanos, já foram detidos dezenas de manifestantes pró-palestinianos.