A morte do músico Justino Handanga, ocorrida nesta segunda-feira, 18, aos 55 anos, vítima de diabete, no Complexo Hospitalar de Doenças Cardiorrespiratórias Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, em Luanda, deixou consternados os familiares, colegas e fãs que muito apreciam o seu trabalho
Contactados pelo OPAÍS, vários são os artistas que expressaram a sua dor pelo passamento físico deste um ícone da música nacional, tido como uma das mais queridas e apreciadas vozes da região centro-sul do país, que deverá ser enterrado na província do Huambo, sua terra natal e onde sempre viveu até a data de sua morte.
Hortênsio Handanga, um dos filhos do malogrado, contactado pelo nosso Jornal, mostrou- se indisponível para avançar detalhes sobre a morte do pai. O jovem, também músico, que se encontra em Luanda, acompanhado de outros familiares, disse que estão a cuidar do processo de transladação do corpo. Hortênsio prometeu que a família irá se pronunciar sobre a data das exéquias fúnebres que deverão acontecer no bairro de São João, na residência do malogrado.
Para muitos, Justino Handanga é um nome que dispensa apresentações no panorama musical nacional, um artista com um vasto repertório repleto de sucessos, fruto de mais de 30 anos de carreira musical. Autor de vários sucessos, dentre os quais “Abílio”, “Olonamba”, “Tenho saudades”, “Paulina”, “Carlito” e “wiliposse”, Justino Handanga chegou de lançar dois álbuns no mercado, sendo o primeiro “Ondjonguele Ya Telisiwã (Alvo Atingido)”, lançado em 2004 e o segundo “Homenagem ao empresário Valentim Amões”, em 2011. Consternado, o músico Calabeto referiu que a morte de Handanga representa uma perda irreparável não apenas para a música, mas para a cultura em geral, referindo que se calou a voz de um músico que trazia na sua musicalidade a história e as raízes culturais dos vários povos da região centro-sul de Angola.
“Justino Handanga era um artista que dispensava apresentações, era um músico muito bem referenciado, um gigante da música na região sul e centro sul do país, com certeza a sua morte traz um grande vazio na cultura em geral”, manifestou. Para o também músico Robertinho, o passamento físico de Handanga é, de certeza, um vazio que se impõe na cultura nacional, em especial no musical, tendo considerado tratar-se de uma referência que se preocupava em promover, através de suas músicas, a identidade cultural dos povos da sua região.
Quem também manifestou a sua tristeza pelo desaparecimento físico de Handanga foi o músico e ex-director nacional da Cultura Euclides da Lomba que destacou a dimensão do malogrado como alguém que incansavelmente deu o seu contributo na promoção, preservação e divulgação dos valores culturais nacionais. Euclides da Lomba disse que Justino Handanga, enquanto em vida, escreveu o seu nome nos mais respeitosos anais do mosaico cultural do país, cantando para diversos povos e culturas, mas sempre preservando a sua essência, privilegiando a sua língua regional.
Com a sua morte, considera Euclides da Lomba, Handanga juntase assim aos vários nomes da música nacional que já partiram, mas cujas obras continuam sendo para nós uma relíquia musical, sobretudo aos artistas da região do centro-sul de Angola, citando nomes como Jacinto Tchipa, Vini Vini, Beto de Almeida, e outros. “Hoje perdemos um exímio canta-autor que tinha um registo vocal muito específico e singular, que sempre representou dignamente e com prestígio a região centro-sul de Angola”, sublinhou o artista.
Projectos por Terminar
Se para uns a morte de Handanga representa uma perda irreparável no musical, para outros é ainda pior, significa a interrupção de um sonho, um projecto musical o qual o mesmo era o mentor, pois fica “pendente” com o seu desaparecimento do mundo dos vivos. A cantora Edna Mateia expressa profunda tristeza pela morte do seu mentor a quem esta chama de “mano”, com quem trabalha num projecto artístico que viria agregar mais valor ao mercado musical da região sul. Inconsolável com a perda daquele que era também seu amigo e conterrâneo, Edna Mateia mostra-se incrédula pelo sucedido e diz não ter palavras para expressar o tamanho da sua dor e o vazio que a morte de Handanga representa em sua vida. “Além da música, era quase meu mentor, estávamos a trabalhar num projecto, era meu amigo, apesar de ser muito meu mais velho, na nossa cultura chamamos mesmo de “mano”, então é difícil exprimir o que sinto”, expressou.
Ministro da Cultura e Turismo endereça os pêsames à família
O ministro da Cultura e Turismo, Filipe Zau, endereçou, através de uma nota, os seus mais profundos sentimentos de pesar à família de Justino Handanga, falecido esta segunda-feira,18, em Luanda, vítima de doença. Na nota, Filipe Zau refere que foi com bastante tristeza que tomou o conhecimento sobre o passamento físico do músico, compositor e agente da Polícia Nacional, Justino Handanga, ocorrido numa das unidades hospitalares de Luanda, onde esteve internado lutando contra a diabete. “Nesta hora de luto para a Cultura Nacional, o ministro da Cultura e Turismo, Filipe Silvino de Pina Zau, endereça à família enlutada, em seu nome pessoal e de todos os seus colaboradores e responsáveis, os sentimentos de pesar”, lê-se no documento a que este jornal teve acesso.
Percurso artístico
Justino Handanga nasceu a 1 de Janeiro de 1969, na aldeia de Ndoluka, comuna da Luvemba, município do Bailundo, província do Huambo, região onde sempre viveu desde os tempos dos conflitos armados até a sua morte. Conhecido nas leads como músico do estilo popular, preservando sempre a sua essência cultural e as raízes do seu povo, iniciou a carreira musical na década de 80, após ter perdido os seus progenitores, com a participação no concurso denominado “PioPio” um concurso de imitação de artistas nacionais e internacionais, realizado, na altura, aos domingos, pela Organização de Pioneiros Agostinho Neto (OPA), no município do Bailundo.
Aos 17 anos, com o eclodir da guerra civil que assolava o país, Justino Handanga viu-se obrigado a interromper o sonho de artista para ingressar às fileiras das ex-Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) onde, devido à sua habilidade musical, fez parte de um grupo musical da corporação, denominado “Pela Paz”. Participou, em 2005, da 15.ª edição do Top dos Mais Queridos da Rádio Nacional de Angola, ficando em 3.° lugar, com a conhecida música “Paulina” e, em 2006, ficou em 5.° lugar, partilhando o mesmo palco com o músico Bangão, de feliz memória.