O Governo alemão criticou o apelo do Papa Francisco para a Ucrânia “levantar a bandeira branca” e iniciar negociações para acabar com a guerra, dois anos após o início da invasão russa
“Não compreendo”, reagiu a ministra dos Negócios Estra ngei ros, Annalena Baerbock, numa entrevista à televisão pública ARD, no Domingo à noite, citada pela agência francesa AFP.
“Penso que certas coisas só podem ser compreendidas se as virmos com os nossos próprios olhos”, acrescentou a ministra, que visitou Kiev várias vezes desde o início da guerra, em Fevereiro de 2022. Um porta-voz do chanceler Olaf Scholz disse, ontem, que o chefe do Governo alemão “não partilha a opinião do Papa”.
“A Ucrânia está a fazer frente a um agressor, beneficia de um amplo apoio internacional e está a agir no âmbito do seu direito à autodefesa ao abrigo do direito internacional”, acrescentou Steffen Hebestreit.
Numa entrevista à televisão pública RTS transmitida no Sábado, o Papa Francisco, quando questionado sobre a situação na Ucrânia, apelou às pessoas para que não tenham “vergonha de negociar antes que as coisas piorem”.
“Acredito que os mais fortes são aqueles que vêem a situação, pensam nas pessoas e têm a coragem de levantar a bandeira branca e negociar”, afirmou.
Após a divulgação da entrevista, o Vaticano esclareceu que o Papa não estava a falar de rendição, mas sim de negociação.
A chefe da diplomacia alemã disse que Berlim acredita que não haverá paz se a Ucrânia e os aliados ocidentais não mostrarem força frente à Rússia.
“Temos de apoiar a Ucrânia e fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para garantir que o país se pode defender”, acrescentou Annalena Baerbock.
A Alemanha é o segundo maior fornecedor de ajuda militar à Ucrânia, a seguir aos Estados Unidos.Kiev também reagiu de forma dura ao Papa Francisco, no Domingo, com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, a afirmar que a Ucrânia “nunca se renderá”.
O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, na mensagem de vídeo diária, disse que os ucranianos de todas as religiões têm defendido o país desde o início da invasão russa.
“Cristãos, muçulmanos, judeus, todos… Apoiam-nos através da oração, da conversa e da acção”, afirmou. “É aí que a Igreja deve estar, junto das pessoas.
E não a 2.500 quilómetros de distância, com uma mediação virtual entre alguém que quer viver e alguém que quer destruir-nos”, acrescentou.