A Associação de Autores da Huíla vai proceder, hoje, 7, ao lançamento de um trabalho de pesquisa sobre a música folclórica dos povos que compõem a região Sul do país, intitulado “Cancioneiro do Sul”, cuja produção teve a duração de uma década
O cancioneiro de música folclórica realizado pela Academia de Autores da Huíla, com a coordenação do professor e autor Abílio Lupenha, inclui música folclórica do grupo etnolinguístico nyaneca-nkumbi, ovimbundu, herero e nganguela.
O trabalho comporta cerca de 90 músicas populares cantadas nas línguas nyaneca, umbundu e nganguela, cujas letras traduzem os hábitos e costumes dos povos da região Sul, com realce para o casamento, a puberdade, a circuncisão, a criação do gado e as conversas geracionais.
Para a sua compilação, Abílio Lupenha viajou pelas regiões de Chipindo, Kuvango, Gambos, Quipungo e Lubango, na província da Huíla, e Moçâmedes, Bibala, no Namibe, para a recolha de músicas tradicionais dos povos destas regiões.
Segundo o coordenador da investigação que culminou com a produção do cancioneiro, o objectivo desta recolha é de garantir a preservação do espólio musical tradicional do Sul, de modo a que seja consumido para as futuras gerações e assim garantir a sua conservação.
“Podem aparecer para ouvirem de facto aquilo que é nosso, a nossa música local. Estamos a respigar todas as músicas do Sul de Angola, começamos primeiro com o cancioneiro huilano, Caconda, Caluquembe em umbundu; parte de Caconda, Cicomba e Matala temos os cokwe, e dali para o Leste, Kuvango, Jamba e Cimpindo, temos os vanganguela, todo o Centro e Sul temos os nyaneca-nkumbi e lá nos Gambos nas áreas de Cafala temos algum renascente dos ovambos, a nível do litoral Sul temos os hereros, cuja tradição oral e musical recolhemos”, disse.
Abílio Lupenha revelou que não foi fácil recolher toda a informação relativa aos povos do Sul, sobretudo por falta de instrumentos musicais utilizados na sua composição já não serem de uso actual. Segundo disse, o número de 90 músicas para o Cancioneiro do Sul deveu-se à imensurável riqueza cultural dos povos do Sul de Angola, o que fez com que para cada língua, discriminadamente Umbundu, Nganguela e Nyaneca fossem recolhidas 30 canções.
Com esta ideia, referiu, conseguiu-se abarcar quase todas as línguas desta região do país. “Nós tínhamos pensado em recolher apenas uma ou outra música de cada língua, mas quando nos colocamos no terreno, encontramos tanta, mas tanta riqueza e agora temos uma quantidade de música, que tornou o trabalho bonito, como é o caso da música em língua nganguela, segundo a qual “uma jovem apressou-se em casar com o primeiro homem que lhe apareceu, quando os melhores ainda não tinham chegado e, por isso, vive arrependida”, disse.
Músicos aconselhados a ir ao encontro das nossas raízes Por outro lado, Abílio Lupenha alertou à nova geração de músicos angolanos a irem ao encontro das nossas raízes, sem perder a velocidade do modernismo no que diz respeito ao uso dos instrumentos musicais.
Por esta razão, segundo o coordenador do projecto de recolha da música folclórica tradicional, é necessário que se faça a pesquisa das músicas nacionais, sem perder de vista os instrumentos usados na sua execução.
“Há um casamento, entre aspas, no seio dos novos cantores ou intérpretes e a música folclórica tradicional, mas não é perfeito. É preciso retirar este adjectivo de perfeito.
Seria bonito se, de facto, regressássemos um pouquinho mais aos nossos instrumentos; ao kissange, ao batuque, aos chocalhos.
Seria bonito, pois além dos instrumentos electrónicos, seria bonito tentarmos ir respigar, tentar rebuscar os nossos instrumentos tradicionais, porque acredito que daí o som é muito bonito”, disse.
Por: João Katombela, na Huíla