Já não me lembro a primeira vez em que vi e ouvi falar sobre câmaras acopladas em fardamentos da Polícia Nacional e das Forças Armadas. Creio que tenha sido através de uma reportagem no canal brasileiro Globo, onde se acreditava que essa junção pudesse ajudar a esclarecer determinadas situações envolvendo policiais e os próprios cidadãos. Na época aguardava ansiosamente para que o mesmo pudesse ocorrer em Angola.
Onde todos os dias muitos cidadãos se queixam do comportamento de determinados agentes da ordem, assim como estes também inúmeras vezes atribuem culpas aos próprios cidadãos, muitos dos quais acabam nem sequer por respeitar a farda. Quando menos esperava, ontem, apercebi-me que, afinal, entre nós já existem equipamentos semelhantes.
A província de Benguela parece ser a pioneira e os agentes de trânsito os primeiros a beneficiarem de tais câmaras, porque o comandante provincial da Polícia Nacional, na terra das acácias rubras, acredita que poderá ajudar a esclarecer muitas situações envolvendo agentes e os cidadãos. Porém, se o que se deseja é essa melhoria, a verdade é que os agentes da corporação não parecem nada satisfeitos que as suas vidas e actuação sejam escrutinadas como se de um Big Brother fosse.
Só eles saberão as causas, porque naqueles países ou localidades em que os agentes usam câmaras os resultados têm sido satisfatórios. Consta que neste momento, a nível da província de Benguela, mais de 30 efectivos terão sido suspensos por se recusarem usar as câmaras nos seus fardamentos. Apesar de todos os benefícios que se acredita que os equipamentos vão criar na relação entre cidadãos e policiais, não se esperava sequer que pudessem criar borburinhos como os que se observam agora em Benguela.
São poucos os angolanos que já se devem ter esquecido dos pronunciamentos de um antigo responsável da Polícia Nacional que há alguns anos dissera que ‘a gasosa era um entendimento entre o cidadão e o polícia no terreno’. Caso se dissemine os aparelhos para todas as unidades do país, poderão também ficar à vista de todos os meandros de algumas negociatas que possam existir, assim como os expedientes muitas vezes usados para se extorquir os pacatos cidadãos ou até mesmo como muitos destes procuram aliciar os agentes da ordem.
Distante de qualquer especulação que se possa fazer, não fica nada mal perceber junto dos próprios policiais as razões que fazem com que fujam das câmaras? Acreditamos que muitas das respostas estarão ao nosso alcance, mas é bom que sejam eles mesmos a mencionarem. E os 30 suspensos em Benguela podem ser um bom ponto de partida.