Quando mais novos, alguns lembrar-se-ão, sempre que víssemos um espaço com água de forma recorrente, o que se dizia era que aí pudesse existir uma sereia. E sempre foi assim.
Aliás, embora de uma figura mitológica se tratasse, houve quem acreditasse na sua existência para além dos contos dos livros. É que Luanda possuía muitas zonas inundadas, apelidadas de cacimbas, algumas das quais acabaram secando sem que se encontrasse fósseis de uma sereia ou qualquer outro artefacto que pudesse adensar a presença destas.
Na verdade, em muitos dos casos era a própria incapacidade humana que não permitia que se sanassem certos problemas ligados ao saneamento básico, que fizeram e ainda fazem com que ruas estejam intransitáveis apesar da falta que muitas delas representam para a melhoria da circulação dos cidadãos, incluindo na província de Luanda.
Além das zonas inundadas, a capacidade criativa dos angolanos transferiu as sereias das lagoas para as estradas intransitáveis, esburacadas e até para aquelas que se encontram sem quaisquer esperanças de serem reabilitadas ao longo dos anos e dos números planos que vão sendo gizados.
Hoje, por exemplo, acredita-se que existirá uma sereia que possa estar a emperrar a reabilitação da estrada que liga o Estádio 11 de Novembro ao conhecido Calemba 2 em Luanda. Trata-se de uma importante via de comunicação que se encontra degradada há anos, não obstante a sua localização e necessidade premente por estar ligada ao maior e principal estádio do país.
Quando se viu na obrigação de recuperar o Estádio 11 de Novembro, por conta do estado calamitoso em que este se encontrava, e também devido à possibilidade de a Selecção Nacional e as equipas nas afrotaças puderem jogar noutros campos, acreditava-se, igualmente, que se fosse recuperar a via para conferir maior dignidade ao recinto.
Infelizmente, reabilitou-se o estádio, mas não se fez qualquer arranjo. O curioso é que, independentemente do local em que estejam alojadas as Selecções ou clubes estrangeiros, apenas um único trajecto podem fazer: passando necessariamente pela conhecida via expressa. Ou seja, caso ocorra qualquer incidente que inviabilize a referida via, poderemos qualquer dia passar vergonha porque não se olha para os demais acessos.
Luanda vai aos poucos ganhando um novo tapete em muitas vias. Nalgumas até em que se notava não haver necessidade, as autoridades fizeram questão de melhorar, arrancando o velho asfalto que ainda poderia resistir.
Mas, por outro lado, há outras vias que quase se vão mostrando esquecidas, como é o caso da via que liga o nosso principal estádio de futebol a umas das zonas mais populosas da capital. É isso que faz com que alguns pensem na existência de uma sereia naquele trajecto como única explicação para compreender porque não se olha para a via com o mesmo interesse que se vê noutros pontos da capital.