Durante uma conferência de imprensa em Adis Abeba, capital da Etiópia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou os líderes dos países que cortaram a contribuição para a agência da ONU de assistência aos refugiados palestinianos
“O que está a acontecer na Faixa de Gaza não é uma guerra, mas um genocídio”, afirmou Lula durante uma conferência por ocasião da sua visita à União Africana.
“O que está a acontecer na Faixa de Gaza com o povo palestiniano não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse o presidente durante a conferência de imprensa que encerra a sua visita à Etiópia.
No âmbito da sua tournê por países africanos, Lula foi questionado sobre a sua decisão de fazer novos repasses de recursos para a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio (UNRWA) — responsável por alimentar, educar, dar saúde e moradia a milhões de refugiados palestinianos não apenas na Faixa de Gaza, mas também na Cisjordânia, Síria, Jordânia e Líbano.
A crítica de Lula sobre a descontinuidade do auxílio por parte dos países vem num momento de calamidade na Faixa de Gaza em que o sistema de saúde da região se encontra em colapso e a ajuda humanitária muitas vezes não chega até aos refugiados e vítimas civis do conflito entre Israel e o Hamas.
A ajuda à UNRWA foi interrompida, quando Israel alegou que alguns dos seus funcionários teriam participado nos ataques terroristas do Hamas contra civis israelitas no dia 7 de Outubro do ano passado.
A ONU manifestou-se sobre a questão, abrindo uma investigação para que as Forças de Defesa de Israel (FDI) apresentem as suas provas, mas até ao momento diz ser incapaz de confirmar qualquer participação dos seus funcionários nas acções do Hamas.
“Quando eu vejo o mundo rico a anunciar que parou de dar a contribuição para a questão humanitária aos palestinianos, eu fico a imaginar qual é o tamanho da consciência política dessa gente? […] E qual é o tamanho do coração solidário dessa gente que não está a ver que na Faixa de Gaza não está a acontecer uma guerra, mas um genocídio?”, acrescentou Lula.
Para o presidente, a assimetria de poder entre Israel e o Hamas é imensa, razão pela qual ele sempre destaca o número de mulheres e crianças vítimas do conflito.
“Não é uma guerra entre soldados e soldados. É uma guerra entre um exército altamente preparado e mulheres e crianças.
Olha, se teve algum erro nessa instituição que recolhe o dinheiro, apura-se quem errou. Mas não suspenda a ajuda humanitária para o povo que está há quantas décadas a tentar construir o seu Estado”, concluiu Lula.
Apesar de destacar a importância do envio da ajuda, Lula não revelou o tamanho do repasse já que, segundo ele, não é o presidente quem decide isso, mas fez questão de destacar que se o repasse não acontecer, reconstruir Gaza será ainda mais difícil.