Diferentes líderes de associações juvenis, entre políticas e da sociedade civil, expressaram ao OPAÍS as suas opiniões em torno da nomeação de Rui Falcão a ministro da Juventude e Desportos. Enquanto uns apoiam e vislumbram dias melhores para o MINJUD, outros há que consideram o novo ministro “um homem fechado para o diálogo” e antevêem dias difíceis para a juventude
O Presidente da República, João Lourenço, enquanto titular do Poder Executivo, exonerou, na passada quarta-feira, 14, a ministra da Juventude e Desportos, Palmira Barbosa, e para o seu lugar nomeou Rui Luís Falcão Pinto de Andrade, antigo secretário para Informação e Propaganda do MPLA.
A designação de Rui Falcão no pelouro da Juventude e Desportos tem estado a gerar opiniões divergentes, com uns a favor, mas outros contra a sua nomeação, cuja tomada de posse ocorreu na tarde desta quinta-feira.
Nelito Ekuikui, líder da juventude da UNITA, considerou ser uma nomeação que respeita os termos legais e, mais, por ser alguém da conveniência política do Presidente da República, mas deseja ao novo ministro bons dias à frente do Ministério da Juventude e Desportos.
No entanto, em relação àquilo que ficou por se fazer, no anterior consulado, o também deputado considera que existem questões estruturantes que Rui Falcão deva ter em conta, nomeadamente maior aproximação com a classe desportiva (em todas as modalidades) e maior apoio moral, sobretudo a estas organizações.
“O apoio nem sempre significa material ou financeiro, mas o ministro deve estar próximo da classe desportiva, todas elas, sem excepção.
Se não estiver lá ele, que ao menos delegue alguém no sentido de garantir que o acompanhamento seja permanente”, vaticinou o líder da JURA.
Ademais, reforça a necessidade de o novo ministro da Juventude e Desportos manter, também, contacto frequente com todas as associações juvenis no sentido de compreender melhor os anseios e preocupações desta classe.
Embora não sendo jovem, acrescenta, Rui Falcão deverá dirigir um departamento ministerial cuja principal tarefa é aplicar as políticas públicas ligadas à juventude, não apenas aquelas ligadas ao partido político que representa, mas dialogar e auscultar todas as organizações da juventude do país.
Para o secretário-geral da JURA, o consulado de Rui Falcão poderá ser coroado de êxitos caso o novo ministro venha a cumprir todos estes pressupostos.
“Por isso, nós desejamos êxitos ao ministro, não vamos entrar na linha da contestação, como muitos estão a fazer devido à sua idade, mas entendo que é uma faculdade conferida ao Presidente da República e temos que respeitar”, asseverou.
JMPLA crente numa liderança inclusiva
Já o líder da JMPLA, Crispiniano dos Santos, afirma que o agora ministro da Juventude e Desportos tem larga experiência quer em matéria de desporto, quer do ponto de vista do associativismo juvenil.
Segundo o também deputado, trata-se de um homem com larga experiência em termos de governação e que, com o apoio de todos os líderes juvenis, poderá trabalhar no sentido de materializar, sobretudo, as políticas do Estado ligadas ao desporto, bem como as questões da juventude.
“É mais uma peça que entra no xadrez, que vai trabalhar rodeado de jovens e temos a certeza que vai transmitir a experiência para que os que com ele vão trabalhar possam um dia dirigir a pasta deste departamento ministerial”, disse, acrescentando ser necessário o apoio de todos.
Crispiniano dos Santos diz-se bastante optimista porquanto, segundo líder da JMPLA, o trabalho em equipa resulta em questões práticas voltadas à resolução dos problemas da juventude e das populações.
“Então, o ministro não vai trabalhar sozinho, mas com as organizações juvenis e, sobretudo, com a sociedade civil organizada, e, se coordenadas, teremos bons resultados em relação aos problemas da juventude”, afirmou.
JPRS preferia alguém jovem
O secretário para informação da Juventude do Partido de Renovação Social (JPRS), afirma que a organização tinha a expectativa de que a pasta fosse ocupada por alguém que realmente entenda de desporto e que fosse um jovem.
Para Romário Leitão, um ministro que percebe a linguagem juvenil, os seus sonhos e desejos, era preferível.
Aliás, segundo este jovem, a juventude actual é diferente daquela juventude da qual Rui Falcão fez parte.
“O entendimento dos jovens de hoje sobre a situação política e social do país é mais abrangente, mais pela influência das redes sociais. Pensamos nós que está ultrapassado no tempo e no espaço”, considerou.
CNJ reforça parceria com o MIN JUD
Por seu turno, o vice-presidente do Conselho Nacional da Juventude (CNJ), Sebastião Maurício, lembrou que o CNJ é um parceiro do Ministério da Juventude e Desportos, tendo reiterado o reforço desta parceria e apoio ao novo líder deste pelouro.
“Nós, enquanto Conselho Nacional da Juventude, vamos continuar a apoiar o Estado e todo o seu esforço na materialização dos anseios da juventude, por via deste departamento ministerial”, frisou.
Sebastião Maurício diz esperar que o novo ministro e todo seu staff continuem a gizar políticas tendentes ao empoderamento da juventude nas mais diversas áreas, sobretudo, no agro-negócio, no empreendedorismo, no associativismo juvenil e apela por mais apoio a esta franja. “Sobretudo, mais apoios aos projectos da juventude.
Independente de estarmos a liderar o CNJ, nós somos jovens, aliás, o país é maioritariamente constituído por jovens, portanto estes são os grandes desafios da juventude hoje”, asseverou.
Salientou que os problemas da juventude estão identificados e a sua não resolução, em tempo útil, implica uma readaptação.
“Ou seja, os problemas de ontem já não são os de hoje, então é por força disto que nós, CNJ, replanificámos as nossas acções no sentido de nos enquadrarmos nestes desafios”, afirmou.
Sebastião Maurício recordou que um dos principais dilemas com que a juventude actual se debate, hoje por hoje, é o dilema da habitação, ensino e emprego, desafios que espera que a nova liderança do MINJUD venha ajudar a resolver.
“Chefe Rui” conhece a linguagem juvenil
Já a Associação dos Escuteiros de Angola (AEA) vê com bons olhos a nomeação do “chefe Rui Falcão”, como é considerado o novo ministro da Juventude e Desportos nas lides do escutismo, pois foi o primeiro presidente da AEA, com quem espera manter uma relação de proximidade.
Francisco Massinda Longuenda, comissário para adultos da Associação dos Escuteiros de Angola (AEA) diz esperar que Rui Falcão venha, de facto, responder aos anseios da juventude actual, que não se prendem apenas com questões de ordem material, segundo este jovem.
“Mas, sobretudo, com questões de ordem moral e motivacional. Aliás, enquanto escuteiro, a nossa linha de actuação é esta.
Porque entendemos que, quando o jovem está devidamente educado e motivado, encara as dificuldades de outra maneira”, refere, acrescentando que os escuteiros são treinados a encarar a vida com optimismo.
Com isso, diz esperar que o novo homem forte da Juventude e Desportos coloque em prática todo o manancial de experiência que possui em termos de liderança juvenil ao serviço dessa juventude que muito espera de si.
“O chefe Rui conhece a linguagem juvenil, pois foi, durante muitos anos, líder da maior associação juvenil não partidária do país, que é a AEA.
Portanto, pensamos que vai conseguir este objectivo”, notou. Francisco Longuenda pede, por outro lado, que Rui Falcão advogue para a resolução das principais dificuldades de âmbito social da juventude que, segundo o jovem, passam pela resolução da questão do desemprego, da falta de habitação e formação profissional e académica.
MIN JUD tem estado distante da juventude
Por sua vez, o presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), Francisco Teixeira, mostrou-se surpreso pela nomeação do antigo secretário para Informação e Propaganda do MPLA, Rui Falcão, a ministro da Juventude e Desportos.
Segundo o líder do MEA, o MINJUD tem estado de costas viradas com a juventude há mais de 15 anos, desde os tempos do então ministro Marcos Barrica.
“E um pouco a ministra Ana Paula do Sacramento, que, por vezes, tentou aproximação com as associações.
Mas, do ponto de vista de apoio, quer material ou moral, estiveram aquém do desejado”, disse Francisco Teixeira, que critica a recém-exonerada ministra Palmira Barbosa, considerando-a “um fiasco”.
Francisco Teixeira antevê “dias difíceis para a juventude” no consulado de Rui Falcão, um homem que considera de “não aberto ao diálogo”, com os grupos de pressão.
“Também adivinhamos dias difíceis por excesso de partidarização naquele Ministério.
O secretário de Estado também é muito virado ao partido-Estado, que não toleram vozes contrárias, organizações que pensam diferente, enfim, mas estamos preparados para esta luta”, disse o jovem, que afirma não vislumbrar “grandes ventos” com a nomeação de Rui Falcão.
Albano Pedro dá nota positiva
Já o constitucionalista e mestre de taekwondo Albano Pedro, que usou a sua página do Facebook para manifestar a sua opinião em torno do assunto, referiu que “a comunidade desportiva deve estar muito animada com o regresso de Falcão Pinto de Andrade ao mundo dos desportos em particular”.
Prosseguiu: “Entre os mestres de artes marciais, é reconhecido o espírito pragmático e criativo do Sensei Falcão Pinto de Andrade.
Nós, os praticantes de Taekwondo devemos muito da ousadia e determinação deste Árbitro e Mestre de Karaté quando nos idos anos 90 ajudou a criar a Federação Angolana de Taekwondo numa altura em que os karatekas queriam separar-nos da federação comum, a FAKTAMA (Federação Angolana de Karaté-Do, Taekwondo e Artes Marciais Afins)”.
Segundo Albano Pedro, “terá sido o Sensei Falcão Pinto de Andrade que ajudou a separar as águas levando os taekwondistas a terem o seu próprio organismo regente da modalidade, a FATKD (Federação Angolana de Taekwondo) e em consequência os karatekas voltaram a ter a Federação Angolana de Karaté-Dó que tinha sofrido fusão.
A este mestre de Karaté que poucos conhecem a sua trajectória e influência no dirigismo desportivo desejo sucessos na nova missão como Ministro da Juventude e Desportos”.