Em prol das celebrações dos 63 anos do Início da Luta Armada de Libertação Nacional, assinalado a 04 de Fevereiro de 1961, o historiador Alberto Oliveira Pinto abordou o contributo do sacerdote católico Manuel Joaquim Mendes das Neves, durante a realização do Curso Livre de História de Angola
O curso, que vai na sua 7.ª edição, realizada em Portugal na passada segunda-feira, 05, Alberto Oliveira Pinto lembra que os contactos de cónego Manuel das Neves com a “União dos Povos do Norte de Angola” (UPNA), fundada em 1954, foram quase desde o início da sua génese.
Esta denominação, em 1958, passa a ser apenas a União dos Povos de Angola (UPA), aspirando para uma independência do território nacional. Por sua vez, o cónego Manuel das Neves esteve em contacto com a então UPNA desde 1954, ou mesmo no ano seguinte.
Inclusive, adere ao próprio movimento. ”Ingressa mesmo na UPNA contactando com os seus militantes que se encontravam no Norte do país, em Matari, através de mensageiros, pessoas que andavam entre Luanda e o Norte do país, que o visitam na Igreja dos Remédios, na sede de Luanda”, começou por explicar.
Segundo consta, em 1960 nas suas conversas com alguém que o visitou, de acordo com o historiador Carlos Pacheco, terá declarado o seguinte, referindo-se aos governantes portugueses, quer de Lisboa, quer do governo colonial em Luanda: “Não querem o diálogo, ou não querem negociar, então não há outra solução senão a luta armada”.
Recorda que, em 1960 já prosseguia o Processo de 50, desde 1957/58. Já havia muitos destes processos que o cónego Manuel das Neves visitava e dava donativos.
No dia 08 de Junho, data em que foi preso o primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, que liderava em Luanda um “incipiente” MPLA.
Ainda neste mês, em poucos dias é preso um importante colaborador de cónego Manuel das Neves, o padre Joaquim Pinto Andrade.
“Evidentemente que a independência do Congo Belga, em Julho, influenciou todos estes activistas, todas estas pessoas que aspiravam a independência de Angola”, descreveu.
Conta que, desde 1959, em contacto sempre com a UPA, estava a organizar algumas células de resistência e de preparação de um golpe de aviso às autoridades coloniais, no sentido de iniciar com a luta armada.
Os homens que contacta, os activistas, eram quase todos naturais de Icolo e Bengo, simpatizantes da UPA. Em 1959 a 1960, visitou várias células criadas nos musseques de Luanda. Também recolheu armas brancas (catanas) num determinado lugar da Igreja dos Remédios.
O nacionalista
Nascido no Golungo Alto, no Cuanza-Norte, em 25 de Janeiro de 1896, Manuel das Neves era filho de um agricultor português com uma mulher angolana.
Considerado como uma figura relevante da história de Angola, o cónego Manuel das Neves notabilizou-se pela rara coragem com que inscreveu o seu nome nas lutas de independência do país.
Mais tarde, não hesitou em inspirar a “rebelião de 1961” e apoiar as actividades da UPA, por achar que mais do que padre tinha a obrigação de defender um povo oprimido. Essa tão difícil decisão, entre o dever eclesiástico e a luta pela independência do país. Morreu no Seminário do Soutelo, em 11 de Dezembro de 1966.
Os seus restos mortais foram transladados para Angola em 5 de Julho de 1994, numa cerimónia de Estado, estando sepultado no Cemitério do Alto das Cruzes.