Os membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) afectados por alguma tala e que para o seu tratamento, procuram casas de curandeiros, podem ser afastados da congregação, através da aplicação de uma medida disciplinar
O jornal OPAÍS ouviu um pastor da referida denominação religiosa, colocado na província de Luanda, a propósito do tratamento que a Igreja dá aos membros que, aparentemente, sem mais opções, chegam a cruzar casas de pessoas que recorrem a métodos separados da medicina convencional e natural para curar a enfermidade.
O líder religioso, que preferiu não ser identificado, revelou que muitos membros da Igreja Adventista têm sido acometidos pela doença e aconselhados a procurarem por estes locais. Porém, explicou que a organização religiosa, baseada na Bíblia Sagrada, – sua regra de fé -não lhes permite optar por este caminho considerado “escuro” e reprovável por Deus. “Nós, como igreja, aconselhamos os nossos membros a não procurarem tais lugares”.
O procedimento da igreja foi, novamente, justificado com o argumento bíblico, segundo o qual Deus apela aos seus fiéis a confiarem em Si quando forem convidados a consultar adivinhos, sob pena de serem extirpados do meio da Sua comunidade. “O membro não pode procurar casas escuras para ter solução dos seus problemas, porque isso é contrário às Sagradas Escrituras.
Nós recomendamos que, sempre que um membro passar por uma situação do género, quer seja de tala, ou de uma outra situação, que o hospital não consegue resolver, procurem pessoas que entendam de matérias de medicina natural”, aconselhou. O pastor, que preferiu o anonimato, esclareceu que a Igreja não se mostra, com isso, indiferente ao sofrimento humano, sendo que, no entanto, acredita na cura por via da fé exercitada através da oração.
Para além da procura de curandeiros, disse que existem os naturopatas, aos quais os membros podem buscar auxílio, no sentido de obterem alguma solução para os problemas que os inquietam. No entanto, esgotadas as possibilidades apresentadas, o membro pode ser afastado da igreja por uma sanção disciplinar, caso a comunidade religiosa tenha informação de que este procurou caminhos que deram à casa de curandeiros, no sentido de tratar de tala.
“Uma situação do género pode levar, realmente, o membro à disciplina. De facto, pode. Mas, se porventura alguém não souber e, apenas a pessoa envolvida esclarecer ao pastor da igreja como um assunto fechado, então, ali, pode-se não levar o caso ao comité da igreja para a pessoa ser disciplinada. Mas, se o caso se tornar público, é muito difícil a pessoa não ser submetida a uma disciplina”, avançou.
“Em nenhum momento tive de escolher entre a crença e a vida”
Ana Maria, nome fictício, é membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia há 20 anos, aproximadamente. No ano transacto, a fiel viu-se acometida por uma tala. Houve quem a dissesse que teria contraído a doença no seio da sua congregação. Mas, pouco preocupada com a origem do mal, Maria esteve focada em encontrar alguma solução para o novo e inquietante problema: onde achar a cura era a verdadeira “pedra no sapato”, como diz o adágio popular.
Nos principais hospitais de Luanda não encontrou a solução. Após partilhar o seu problema com familiares, amigos, vizinhos e outras pessoas da sua rede social, Ana Maria foi levada a conhecer uma curandeira, no município de Viana. Mas, embora tenha uma percepção diferente dos princípios reitores da igreja da qual faz par- te, a fiel teve de procurá-la às escondidas, a fim de evitar que fosse alvo de alguma sanção disciplinar pela IASD.
“Eu não me senti pressionada quanto a isso. Em nenhum momento fui colocada entre a espada e a parede; em nenhum momento eu tive de escolher entre a crença e a vida. Eu fiz de for- ma a não chamar muita atenção, para não manchar a imagem da igreja, porque as pessoas compreendem mal o termo curandeira”, explicou.
Acrescentou que não se sentiu em meio a uma escolha, pelo facto de não corroborar com o pensamento de que os princípios da igreja proíbem os adventistas de procurar por uma curandeira. “O tratamento foi à base de ervas, não tinha nada de anormal. A regra da igreja diz que não se pode dar à feitiçaria. Mas, curandeiros, que curam de enfermidades, isso não é e nem pode ser proibido”, concluiu.