Um dos nossos camaradas tem dito que o grupo do WhatsApp “Nós Somos Jornalistas (NSJ)” reúne a nata do jornalismo angolano. Creio ser um exagero. Afinal, nestes tempos, embora ele acredite, as agendas, defesas, interesses e até prazeres acabam por dimensionar o caminho escolhido por cada um.
Mas foi lá que li há dias que dos mais ou quase 20 acidentes de viação ocorridos em Benguela, no último fim-de-semana, em mais de 90 por cento estiveram associados a motociclistas, ou seja, aquele grupo de jovens que viu numa motorizada a sua fonte de sobrevivência. os números de Benguela não estão distantes daqueles que se observam ainda hoje noutras grandes cidades no país.
E Luanda, a capital que alberga mais de 10 milhões de almas, incluindo muitos jovens desempregados, é também aquela província onde, certamente, se assiste mais acidentes de viação, muitos dos quais envolvendo mototaxistas. Hoje, quem passa pelas principais artérias da cidade se apercebe sem muitos esforços do crescimento acentuado que a actividade de mototáxi registou.
Não há um único espaço na cidade capital onde não se observam jovens, muitos dos quais despreparados, a conduzirem uma motorizada, transportando jovens e crianças, colocando inclusive em risco a vida destes. É indiscutível que o refreamento ocorrido por parte das autoridades, depois de uma reacção negativa da sociedade em relação ao processo de reordenamento ou reorganização dos mototaxistas, fez com que muitos destes jovens se sentissem superprotegidos, sobretudo depois de organizações da sociedade civil e até partidos políticos se terem manifestado contra e saído em apoio de muitos destes jovens.
A verdade é que a anarquia impera. os jovens vão-se sentindo como autênticos deuses e o governo Provincial de luanda, por exemplo, parece ter abrandado a marcha em relação ao processo que pode servir de mote para que dezenas ou centenas de vidas sejam salvas, isso se tivermos em conta o perigo que representam.
Embora se reconheça que existam no seio destes um número reduzido que desempenhe a actividade com zelo e responsabilidade. Na última semana, ironicamente, assisti a uma cena digna de um filme de comédia envolvendo um mototaxista e dois agentes da Polícia de Intervenção que se faziam transportar igualmente numa motorizada.
O mototaxista carregava duas pessoas numa motorizada e circulava em sentido contrário, em pleno asfalto, na via em que o ideal é estar no sentido Camama–Nova Vida–Talatona. Nas calmas, ignorando completamente os dois agentes que apitavam e solicitavam que parasse, o mototaxista prosseguia a sua viagem como se estivesse coberto de razão, não se importando sequer com os apelos dos dois homens fardados.
Claramente, há um sentimento de impunidade que se vai consolidando no seio de muitos destes jovens. A falta de emprego não pode justificar muitas das malcriadezes e violações ao trânsito que vemos todos os dias. Em Luanda, por exemplo, nem o GPL pode caucionar isso, sob pena de este pecado capital se tornar um problema ainda maior.