Desconheço o autor do texto posto a circular nos últimos dias sobre deter- minadas actividades profissionais no país e a nacionalidade daqueles que hoje dominam em vários pontos do país. Diz-se, por exemplo, que os portugueses dominam a restauração, os malianos e guineenses as cantinas, assim como o pequeno comércio de bens essenciais, os eritreus nos armazéns médios, libaneses e indianos com o abastecimento a grosso e os chineses na construção civil.
Não obstante algum excesso, porque em muitas destas áreas também vemos cidadãos angolanos destacados, a realidade tem-nos mostrado, sim, que muitas das actividades comerciais vão sendo dominadas por grupos específicos. Por exemplo, ninguém duvidaria se se dissesse que os nigerianos, com quem a nossa equipa de futebol perdeu no CAN ainda em curso na Cote D’ivoire, dominam, sem concorrência, o comércio de peças auto ou ainda que os vietnamitas são hoje os rostos mais visíveis no negócio da fotografia e outros.
Por incrível que pareça, nas décadas de 80 e princípios de 90 muitas destas actividades eram detidas quase que exclusivamente ainda por cidadãos angolanos. Nos musseques ou bairros mais urbanizados, poder-se-ia observar uma determinada nata de cidadãos que se erguiam a partir de muitas artes e ofícios, cujos lugares, alguns, eram preenchidos por jovens aprendizes nos períodos em que não estivessem em aulas. Com o fim da guerra em 1992 e, posteriormente, o alcance da paz em 2002, acentuou-se a deslocação do poder que se observava em determinados círculos de angolanos para uma classe ou grupo de estrangeiros que hoje os dominam sem pestanejar.
Depois de ter observado a lista em que os angolanos quase não aparecem, estando afastados de quase todas as áreas de negócios, que vêem emergir dia após dias novos players, julguei que se pudesse levantar um debate sério e aberto sobre as formas de empoderamento de muitos jovens que vão dando sinais de estarem preparados. Não há mal nenhum que existam comerciantes ou empresários estrangeiros na economia de um país.
O mundo, tido como uma aldeia global, vai-nos proporcionando exemplos vários sobre o investimento estrangeiro. São muitos os casos até de cidadãos de outras latitudes que investem sem pestanejar, mas ainda assim não se pode perder de vista os perigos que uma situação destas pode originar à própria segurança de um país. infelizmente, enquanto se espera que muitos avancem, há quem se preocupe apenas em apontar o dedo a supostos culpados, entre os quais o próprio Executivo.
Na prática, todos os dias assistimos a casos de jovens forasteiros que chegam com uma mão à frente e outra atrás, mas que com humildade e parcimónia conseguem prosperar num país em que os próprios angolanos dizem não acreditar, transformando-se em funcionários daqueles. Como diz um amigo, mais do que as habituais críticas e falas, muitos dos nossos compatriotas deveriam, simplesmente, ouvir e aplicar ao máximo o refrão de CEF tanzy, segundo o qual: “tá falar, tá fazer”. Porque, às vezes, dá-se a impressão que se fala mais, deixando o fazer para aqueles que vêm de longe, mas nunca deixaram de acreditar nas potencialidades de Angola.