O médico José Kavanda Pedro, colocado no município de Nancova, província do Cuando Cubango, veio a público denunciar o facto de estar a ser vítima recorrente de cortes no salário, sem explicação. Na ocasião aproveitou para dizer que vários prfissionais da saúde naquele município sofrem o mesmo corte. O Governo provincial desmente as acusações, para além de considerar a atitude do médico menos responsável e ingénua
através de um áudio gravado por si, José Pedro demonstra o seu descontentamento por estar a sofrer corte salarial, pela quarta vez, por razões que não entende. Recorda que esteve no município de Nancova para saber as razões dos cortes, mas tinha si- do informado que houve um esquecimento na hora de lançarem o seu nome na folha de salário.
Há dois meses, que perfez a terceira vez, voltou a registar a mesma situação, reclamou e enfatizou que aquilo estava a ser frequente, pelo que lhe foi dada a garantia de que não voltaria a acontecer e que o seu salário se- ria reposto.
José, no mês em curso, voltou a consultar o salário e registou mais corte. Retirou o extracto bancário e estava incompleto, sem as horas acrescidas. “Quando procurei saber da direcção, no município de Nancova, tomei conhecimento de que não era o único nesta situação, todos os profissionais de saúde deste município estavam com os salários sem as horas acrescidas lançadas”, sublinhou.
“Aqui, todos os médicos da província do Cuando Cubango sofrem cortes salariais. Apesar de estar a falar do meu caso, há testemunhas de que este evento tem ocorrido nesta província, e ainda nos dizem que não temos onde ir se queixar”, disse.
A dada altura, José fez paragem na explanação para chorar, pelo facto de estar a viver uma dura realidade naquela província, uma vez que não tem pos sibilidades sequer de comprar água própria para consumo, bebe água do poço, vive na renda, para além de fazer constantemente viagens a Luanda por causa do seu estado de saúde. Por causa dos cortes, disse que pediu ajuda ao director provincial da Saúde para, pelo menos, arranjar algum dinheiro e suprir as despesas de alimentação, e custear os estudos para a família que se encontra em Luanda.
“Com esses 300 mil Kz vou repartir como, com as crianças na Faculdade e a minha renda que está quase a acabar? Imagina um médico a ir pedir ‘batatinha’ porque não tem o que comer?”, questiona ele, tendo acrescentado que muitas vezes procurou passar os dias de folga na oficina dos amigos mecânicos para ter o que comer.
Governo Provincial esclarece a situação
Em resposta, numa nota assinada pela directora do Gabinete de Comunicação Social, Linda Salangui Domingos, o Governo Provincial do Cuando Cubango descreveu os pagamentos feitos ao médico em causa, contradizendo parte das suas declarações. De Maio a Junho de 2021, enquanto aguardava a colocação, recebeu mensalmente Kz 245 436,40 (salário-base); de Julho de 2021 a Abril de 2022, o médico em referência auferiu o salário mensal de Kz 624.164,90 (incluindo os subsídios); de Maio de 2022 a Novembro de 2023, auferiu o salário mensal de Kz 1.122.791,60 (incluindo o trabalho acrescido e outros subsídios a que tem direito).
Entretanto, aquela responsável, quanto à questão dos subsídios de trabalho acrescido do mês de Janeiro de 2024, reconheceu que não foram processados por questões técnicas, pontualmente registadas na Direcção Municipal da Saúde e no Hospital Municipal de Nancova, facto que afectou não só o médico em causa mas o colectivo de profissionais daquele órgão. “Estão a ser feitas diligências junto à Delegação Provincial das Finanças do Cuando Cubango, no sentido de regularizar a situação de todos afectados.
Face ao conteúdo do áudio, posto a circular nas redes sociais pelo suposto profissional, o Governo Provincial do Cuando Cubango condena séria e rigorosamente a atitude menos responsável e ingénua como a questão foi exposta”, lêse no documento. Segundo a directora de Comunicação, esta exposição faz entender que o Estado angolano não presta atenção aos profissionais da saúde, coloca em causa o bom nome das instituições, uma vez que a administração pública dispõe de procedimentos próprios para a salvaguarda dos interesses dos cidadãos. “O Governo provincial exorta os funcionários públicos, de forma geral, a pautarem por uma conduta responsável, cívica e digna, em obediência à pauta deontológica da administração pública em vigor”, finalizou Linda Salangui Domingos.