O director-geral do Instituto de Investigação Agronómica, João Ferreira Neto, revelou, recentemente, em Benguela, que o país tem estado a acautelar a segurança fitossanitária, a fim de evitar a entrada de pragas com a importação de sementes, advertindo que a falta de seriedade por parte de alguns importadores no processo de importação tem comprometido a produtividade
O director João Ferreira Neto afirmou que já não entram no país pragas decorrentes de importação de sementes. Tal inversão de cenário, segundo disse, deve- se, fundamentalmente, ao facto de se estar a corrigir “os erros do passado”. “Tem de haver alguma seriedade do importador, é importante, porque nós depois fazemos o serviço para mostragem.
Tu, por exemplo, importas, imaginemos, 500 toneladas. Nós não vamos verificar as 500 toneladas. Verificamos uma, duas ou três para pura mostragem. Tem que haver alguma seriedade do importador”, apela. Uma outra questão que preocupa o responsável é relativa à falta de acompanhamento no processo de importação de sementes. Sustenta que, em muitos casos, empresários importam sementes desconhecendo completamente os meandros à volta da sua produção. “Porquê? A produção de semente é cara.
No caso da semente de mi- lho, se quiseres produzir, tem os chamados parentais, que é o macho e a fêmea. Há uma altura em que tens de cortar todos os machos. Quer dizer, tu vais reduzir o campo em um terço. E, depois, a semente de milho na maçaroca só podemos apanhar a parte do meio”, elucida.
De acordo com João Ferreira, isso pressupõe dizer que o importa- dor tem de, obrigatoriamente, estar a par de todo o processo inerente à produção da semente que vai comprar, de modo a não com- prometer o aumento da produtividade no país.
“Quando isso não acontece, é retórica, é conversa e não eleva o aumento da produtividade no nosso país. Nós podemos lavrar todo o país, mas, se tivermos má qualidade, não aumentamos a produção”, adverte. O responsável admite, porém, que, nos últimos tempos, fruto de parcerias firmadas com entidades privadas, já se está a produzir sementes de qualidade, fundamentalmente no que refere à semente de milho, mas o mesmo ainda não se dá em relação às de outras culturas, porque ainda se usam “as sementes comunitariamente aceites”.
Falta de quadros
João Ferreira Neto lembra que Angola ainda não é auto-suficiente no que à produção de sementes diz respeito, daí ter ainda de recorrer à importação, tendo considerado que, actualmente, tem havido um ciclo positivo. Considera que o país tem um longo caminho a percorrer nesse quesito, uma vez que a aposta tem passado, necessariamente, pela garantia da segurança alimentar, advertindo que a falta de quadros, associado à exiguidade orçamental para agricultura, pode condicionar tal desiderato. “Se o país não for auto-suficiente na produção de sementes, não poderá dar o grande passo qualitativo que pretende.
Há défice de conhecimento. Temos poucos quadros e com os poucos que temos vamos fazendo o que for possível, mas, se tivéssemos muito mais quadros, daríamos muito mais formação”, realça. Ferreira Neto recorre ao passado para assinalar determinados caminhos tendentes a um quadro satisfatório para a agricultura, não obstante a necessidade de aumento do orçamento, sobretudo para o segmento das sementes. “Se se recordar, há cinco ou seis anos, não havia produção de semente em Angola.
Hoje, estamos a falar de algumas empresas que já têm alguma semente e com alguma qualidade, fruto da parceria que têm com o Instituto de Investigação Agronómica e com o Ser- viço Nacional de Sementes”, refere, assegurando que o principal desafio do país, nos dias que correm, é a produção de sementes híbridas. “Para finalizar, o actual contexto internacional obriga-nos a produzir arroz, trigo, feijão em Angola. E nós temos tudo, tudo para podermos produzir”, considera.
POR: Constantino Eduardo em Benguela