Bancos comerciais começaram o ano de 2023 com resultados mais de 13% abaixo do nível anterior mas deram a volta à situação, ao mesmo tempo que viram operação às necessidade do cliente
O Banco Internacional de Crédito (BIC) é a instituição financeira que mais empréstimos concedeu em 2023, com um total de 727,8 mil milhões de kwanzas, como mostra o seu relatório do primeiro semestre do ano em curso. Segue-se o Banco de Fomento de Angola (BFA) que emprestou 496,7 mil milhões de kwanzas, enquanto o Banco Angolano de Investimentos (BAI) emprestou 445,8 mil milhões de kwanzas. Por outro lado, o Banco de Comércio e Indústria (BCI) concedeu um total de 75,6 milhões de kwanzas em créditos a clientes, ao passo que o Banco Económico concedeu o equivalente a 51 milhões de kwanzas, como mostram os dados destas instituições.
O campeão dos créditos, o BIC, tem mais de 77% da sua carteira de crédito, dedicada a financiamentos e pouco mais de 7% de- dicada a habitação. O BIC segue assim firme na liderança da concessão dos créditos, posição que ocupava em 2022, onde era seguido de longe pelo Atlântico e pelo BFA, depois de em 2021 também ter sido líder no segmento, mas desta feita segui- do pelo Atlântico e o BAI.
O Banca em Análise da Deloitte evidenciou que no início do ano, o total de crédito líquido concedido pelos bancos ascendeu a 3,4 biliões de kwanzas em 2022, o que correspondia a um aumento de cerca de 11% face a 2021. Em termos de depósitos, o BAI segue na liderança, com 2,6 biliões de kwanzas, seguido pelo BFA que tem depósito de 2 biliões de kwanzas, estando em terceiro lugar o banco Atlântico com depósitos na ordem dos 1,3 biliões de kwanzas Apesar das muitas propensas reclamações, sobre supostos descontos e custos elevados para a manutenção de conta, o Atlântico está no top 3 no que a depósito diz respeito.
O rácio de fundos próprios do sector registou um aumento de 4,2 pontos percentuais face a 2022, equivalendo a 28,4%, mantendo-se deste modo acima do valor mínimo regulamentar com uma margem de segurança, o que demonstra a resiliência do sector. A melhoria deste rácio resultou igualmente do aumento dos capitais sociais de alguns bancos, com destaque para o Banco de Poupança e Crédito (BPC), Banco Caixa Geral de Angola (BC- GA), Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), Banco de Negócios Internacional (BNI) e BCI, reflectindo um impacto positivo sobre os fundos próprios regulamentares.
BAI e BFA os maiores em activos
O estudo do sector indicou que o valor total dos activos dos bancos comerciais em 2022, corres- ponde a 17 biliões de kwanzas no final do exercício de 2022, correspondendo a um crescimento de aproximadamente 4,3%, influenciado pela melhoria do ambiente macro-económico nacional com um crescimento do PIB de 3% e redução da taxa de inflação em 2022. Um desempenho que levou a que os Resultados Líquidos do sector bancário nacional no final de 2022, se posicionassem nos 366,6 mil milhões de kwanzas, con- substanciando uma redução de 13,6% face a 2021.
Uma redução que na altura do estudo se explicava pelo agravamento dos prejuízos do BPC e pela variação nas imparidades em 2022, que tinham crescido 306 mil milhões face a 2021, sendo que aqui, como também clarificou o estudo, se não fosse considerado o BE e o BPC, os resultados do sector tinham registado uma redução de menos 4%. Agora em 2023, o banco BFA tem registado um activo de 3 biliões de kwanzas, conforme o seu relatório e contas do primeiro semestre. O BAI, que não publica relatório semestral, ficando apenas pelo balancete trimestral, tem um activo de 4 biliões de kwanzas.
O Banco Económico tem um activo de 1,4 mil milhões de kwanzas e o banco BCI que ao fim do primeiro semestre do ano em curso, tinha um activo de 781 milhões de kwanzas. Até pelos activos, consegue-se perceber a diferença prática entre os bancos, com o BAI a ser de longe a instituição com o maior activo, seguido pelo BFA, tal como foi no ano que agora cami-
Banca centrada no cliente
Conforme o estudo do sector, já existem bancos nacionais a dar os primeiros passos no sentido de terem uma operação totalmente centrada no cliente. Os bancos comerciais em Angola enfrentam diferentes desafios e oportunidades na evolução da sua operação para “customer centric” (centrada no cliente). Existe, no entanto, uma dinâmica muito positiva ao nível da adopção de ferramentas que tenderão a acelerar este pro- cesso no mercado nacional. Veja que cerca de 30% da população angolana tem acesso à Inter- net e utiliza smartphones, o que é significativo, já que se recuarmos cinco anos, apenas 20% faziam tal uso.
É assim que as projecções apontam para cerca de 55% a 60% em 2025. Mas ainda assim, os bancos comerciais enfrentam resistência interna na adopção de uma abordagem centrada no cliente, sobretudo em culturas organizacionais mais tradicionais e hierárquicas. É que a essa adaptação aporta custos, exige tempo e esforço, incluindo a necessidade de envolver e capacitar as equipas para tal empreitada. Um avanço que no fim das contas vale a pena já que pode abrir caminho para a melhoria da experiência do cliente.
POR: Ladislau Francisco