Torna-se quase que ofensivo escutar de alguns patrões que os angolanos não gostam de trabalhar. Claro que não é verdade de todo se tivermos em conta o número de cidadãos empregados existentes. Do mesmo modo, não deixa de ser mentira se nos ativermos aos casos que ao longo dos anos vamos acompanhando, minando a confiança daqueles que fazem sacrifícios para manter os postos de trabalho dos seus funcionários.
Mas, quase sempre, é recorrente escutarmos lamentos ou lições relacionadas às situações que acima mencionamos, independentemente da escassez de postos de trabalho no país, com um nível de desemprego a rondar os 30 por cento entre os jovens. É por isso que a selecção de técnicos ou profissionais de qualquer ramo se torna sempre uma tarefa quase impossível. Não só por causa da falta de qualificações, em determinados casos, mas igualmente por causa dos factores subjectivos – alguns dos quais culturais- observados ao longo do tempo.
Embora possa parecer exagero, há patrões que falam da existência de funcionários que já anunciaram o falecimento das mães ou pais durante mais de uma vez ou ainda aqueles que se afastam do local de trabalho durante muitos dias, mesmo quando o ente querido falecido não conste sequer daqueles que a Lei Geral do Trabalho estabelece.
O que se assiste em relação aos trabalhadores, por exemplo, não difere muito do que vimos com regularidade em outras situações, incluindo em muitas em que os técnicos angolanos chamados a desempenharem determinados serviços não conseguem executar com esmero e cumprir cabalmente com os prazos ou condições acordados inicialmente. E esta foi a razão que fez com que durante poucos anos, antes mesmo da abertura do país aos cerca de 100 países sem vistos, fez com que os cidadãos angolanos e muitos estrangeiros preterissem dos serviços dos nacionais devido aos incumprimentos e até mesmo a falta de seriedade com que se lida com os negócios em que se envolveram.
É só vermos a forma como cresceram vários negócios hoje dominados por malianos, somalis, eritreus, chineses, vietnamitas, portugueses e congoleses democráticos, alguns dos quais nas décadas de 80, 90 e princípios dos anos 2000 ainda eram exercidos por angolanos. Os patrões e consumidores procuram, certamente, funcionários e prestadores de serviços que lhes proporcionem condições que lhes garanta crescimento e produtos ou serviços de qualidade. Não importando, por exemplo, a cor, credo ou nacionalidade de quem o faça ou preste.
Enquanto muitos adormecem no leque de críticas infundadas e convencimento de que tudo está seguro porque se está na terra em que viu enterrar o seu cor- dão umbilical, é de todo avisado perceber também que, além de turistas, a abertura das fronteiras angolanas a cidadãos de cerca de 100 países colocar-nos- á nesta frente em que vimos surgir, diariamente, novos players em actividades que poderão ser desempenhadas por eles e aumentar assim a concorrência salutar que também se espera.
Infelizmente, se muitos não esmerarem nas actividades, nos serviços que prestam ou nos negócios que desenvolvem, haverão outras opções a mão de semear. O que é bom para muitos. E mau para outros que poderão ver a filar a andar enquanto se prendem em discursos que em nada irão melhorar as suas acções.