Ensina um antigo provérbio latino “De morti tuis nihil nisi bonum”. Ou seja, “Dos mortos ou se cala ou se fala bem”. De Henry Kissinger nada teria escrito, não tendo, da minha parte, muito de bom para reconhecê-lo, sendo que “bom” me refiro no sentido radical do termo que remete para o Bem como valor supremo que coincide com a Justiça e a Verdade (conceitos que capitalizo para indicar a sua superioridade sobre meros interesses privados). Se escrevo apesar disto, faço-o por causa do ‘Kissingerismo’ e da ‘produção de novos Kissingers’.
Naturalmente, foi uma das mentes mais lúcidas e brilhantes do século passado, no qual deixou marcas claras, de um Maquiavel moderno. Figura incontornável da diplomacia contemporânea, desde a retirada americana do Vietname ao degelo com a China, Kissinger contribuiu de forma original e lúcida para as ciências políticas, históricas e sociais, e os seus escritos, mais recente sobre a inteligência artificial, continuarão a exercer uma grande influência na política e na diplomacia das grandes nações.
É também a ele que recai o juízo moral e politico do golpe de Pinochet contra o presidente legítimo Salvador Allende no Chile e do Plano Condor que desencadeou a violência militar contra os democratas e a esquerda em toda a América Latina.
Quando se fala do denso drama de “Los desaparecidos” (uma dramática operação de extermínio), pensa-se a Kissinger como responsável numero um.
Dele também se pode lembrar, juntamente com Nixon, os bombardeamentos no Vietname, em Laos e em Camboja que causaam milhões de mortos, números que podem igualar ou superar as mortes da autoria de Pol Pot.
É impossível enumerar todos os feitos de Kissinger. Basta pensar na invasão de Timor Leste que causou a morte de quase 30% da população e nos três milhões de mortos no Bangladesh.
Kissinger tinha uma aversão em relação aos países do Terceiro Mundo. Não é por acaso que foi o primeiro Secretário de Estado norte-americano a visitar a África do Sul em três décadas, dando suporte ao regime do apartheid no rescaldo do massacre do Soweto, em 1976, quando dezenas de crianças em idade escolar e outros manifestantes foram mortos pela polícia, e apoiou a guerra de Pretória contra a recém-libertada Angola do colonialismo português.
Por: HÉLDER LUÍS
*Especialista em Relações Internacionais.