Numa altura em que o Presidente angolano foi recebido na Casa Branca, OPAÍS analisa a relação económica entre os dois Estados em cinco dimensões. Os americanos investiram de 2018 a Fevereiro de 2023, pouco mais de USD 3,5 mil milhões
A relação comercial entre Angola e os Estados Unidos da América pode conhecer novos horizontes, pois está na forja a possibilidade de um grande investimento americano nos Caminhos- de-Ferro de Benguela (CFB), como avançou em diferentes ocasiões o Presidente americano, Joe Biden.
Um projecto que é visto como o reconhecimento do potencial da linha férrea do Porto Comercial à República Democrática do Congo (RDC) e à Zâmbia, embora tenha ainda de ser ajustada às locomotivas adquiridas à General Electric, paralisadas há alguns anos. Este investimento que a acontecer vai trazer para Angola mais USD 250 milhões, além de resultar no primeiro investimento dos EUA em Caminhos-de-Ferro em África dentro da Corporação para Financiamento de Desenvolvimento Internacional (DFC).
O investimento faz parte da iniciativa Parceria para Infra-estruturas e Investimentos Globais para países de baixo e médio rendimento, lançada pelo Presidente norte-americano e pelo bloco G7. O projecto do Lobito é o primeiro passo para ligar e desenvolver a actividade comercial e económica de Angola à RDC que pode ajudar a promover maiores investimentos na agricultura, infra-estrutura digital e acesso alargado à electricidade.
O corredor do Lobito é formado pelo porto desta cidade e pelo Caminho- de-Ferro de Benguela, sendo a rota de exportação mais rápida do cobre, cobalto e outros minérios dos países vizinhos como a Zâmbia e a RDC.
Petróleo
As exportações de petróleo para os EUA constitui o principal negócio entre ambos os países que, no segundo trimestre do ano, renderam USD 214,3 milhões, depois de USD 149,4 milhões rendidos no primeiro trimestre, como mostram os dados do Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás (MIREMPT), relativos à exportação desta commodity. Uma diferença que remete a um aumento de USD 64,8 milhões de um trimestre para outro, resultando num valor superior ao registado em todo o ano de 2022, altura em que Angola exportou o equivalente a USD 168,4 milhões para aquela que é a maior potência do mundo.
Um ano que chama atenção por ter sido o período em que os americanos se limitaram a apenas comprar petróleo angolano no primeiro trimestre, reduzindo para zero, as compras do mesmo nos trimestres seguintes daquele ano. Se estendermos esta análise até ao ano de 2018, percebe-se que as compras de petróleo angolano por parte dos EUA, registou o pico de USD 1 mil milhão em 2018, mas de lá para cá, foi sempre a cair. Em 2019, posicionou-se nos USD 855,3 milhões o total das exportações de petróleo por parte de Ango- la para os EUA, enquanto em 2020 caiu cerca de USD 500 milhões e posicionou-se nos USD 344 milhões. No ano seguinte voltamos a ter uma subida nas exportações, tendo chegado aos USD 406 milhões. Em 2022 volta a cair para pouco mais de USD 168 milhões.
Importação e Investimento
Por outro lado, como mostram os dados da Administração Geral Tributária (AGT), relativos a importação, desde 2010 que os EUA constam da lista dos principais países de origem das importações angolanas. Hoje, os EUA representam USD 761 milhões das importações angolanas, só atrás de países como a China, Portugal e Países Baixos. No que ao investimento diz respeito, os dados mostram que para os EUA também há vantagens, pois Angola é o terceiro maior parceiro comercial dos EUA na África Subsaariana -devido, sobretudo, à exportação de petróleo.
Não é por acaso que os americanos investiram de 2018 a Fevereiro de 2023, pouco mais USD de 3,5 mil milhões em Angola, na liderança do top 10 dos investidores como mostram os dados mais recentes da AIPEX relativos ao investimento estrangeiro no país, que entre outras coisas aponta para 581 projectos registados, sendo 9 dos quais americanos. Deste investimento, salta à vista o facto de boa parte estar ligado às energias renováveis, aliás, dos maiores investimentos já feitos pelos EUA no segmento. Angola e os Estados Unidos da América sinalizam aproximação onde os investimentos públicos e privados já começaram a dar nas vistas em três décadas de relações. O mais recente investimento anunciado é o de 150 milhões de dólares numa unidade hoteleira que deve nascer na Ilha de Luanda, pertença do Grupo Hilton.
Café Cazengo
Cerca de 40 anos depois, Angola voltou a exportar café para os Estados Unidos da América. Foram 11 toneladas, mas tiveram respaldo simbólico inigualável, como mencionou o então embaixador de Angola nos EUA, Agostinho Tavares. As exportações se enquadram nos esforços estabelecidos pela Lei de Crescimento e Oportunidades para África, que visava exactamente abrir portas a exportações de produtos africanos, mais propriamente da África Subsaariana para a América.
A referida exportação, que eliminou o entrave que durava 40 anos foi o café Cazengo, descarregado no Porto de Baltimore, no Esta- do de Maryland, como noticiou quase toda a imprensa nacional na altura. Sendo que na altura ficou clara por parte do produtor, a capacidade para entregar até 20 contentores por mês. Desde esse acto, desencadeou-se um verdadeiro interesse no café nacional, sendo que, como se tem escrito um pouco por toda a imprensa, há mesmo entidades americanas a trabalhar nos bastidores para materializar isso.
Dívida
No campo da dívida, que acaba por ser sintomático do nível de cooperação entre os Estados, há um sobe e desce no valor de Angola para os Estados Unidos. Em 2018 o total da dívida era de USD 1,1 mil milhão, ao passo que no fim do ano de 2022, o valor em dívida posicionou-se nos USD 3,2 mil milhões. Há um aumento de mais de USD 2 mil milhões na dívida. Depois do registo de mais de USD 1 mil milhão em dívida, Angola procedeu ao pagamento de parte da mesma no ano seguinte, ten- do a mesma caído para os USD 890 milhões no ano de 2019. O caminho do pagamento continuou, levando a que a dívida se fixe nos USD 765,1 milhões no fim de 2020, sendo que só em 2021 voltou a aumentar, quando saltou para os USD 2,9 mil milhões.
POR: Ladislau Francisco