Embora nenhum dos actores consiga provar a autorização para distribuir e cobrar renda de energia eléctrica, o negócio prospera sob o olhar impávido das autoridades do sector
As conhecidas em- presas de distribuição de energia eléctrica Electro-Luís e MJ, respectivamente, localizadas nos bairros Mundial e 28 de Agosto, todas no município de Belas, em Luanda, destacam-se, entre outras, das zonas de Obama, Boa Esperança e Macuia, pelo facto de possuírem mais de uma centena de clientes, conforme atestaram alguns moradores dos referidos subúrbios.
Entretanto, todas onde OPAÍS marcou presença, na semana finda, demonstraram dificuldades para provar a sua legitimidade, por não conseguirem dar a ver à reportagem deste jornal uma prova documental. Emília, a funcionária da MJ, que atende clientes para inscrições, pagamentos de mensalidades, multas ou religações, confessou que, até à data desta entrevista, não se preocupou em ter ou questionar o seu superior hierárquico sobre os documentos que certificam a legalidade da empresa em que trabalha.
Há mais de dois anos na MJ, Emília confessou que a sua despreocupação se deve ao facto de os clientes da sua empresa nunca questionarem a autenticidade da mesma, mas prometeu que, doravante, tratará de exigir do seu patrão, a quem chama de Mestre, que lhe forneça o referido documento, que ela pensa colocar à disposição dos utentes. “Mas recordo-me de um senhor que já me tinha questiona- do sobre este dossier, só que nunca mais apareceu, porque o meu chefe queria encontrar-se com ele”, disse a funcionária da MJ, demonstrando, claramente, que o assunto em causa está reserva- do para o líder da empresa.
Embora não tenha precisado o número de clientes, adiantou que sob o seu controlo estão mais de 100 utentes, que pagam uma mensalidade de 6 mil kwanzas. De acordo com ela, essas contas aumentam, quando alguns clientes não cumprem com o pagamento até ao dia dez de cada mês. “As nossas cobranças são feitas sob a modalidade de serviço prestado, daí que estipulámo-la de 25 de um mês a 10 do mês subsequente. E quando registamos alguns incumprimentos aplicamos a medida de pagamento de uma multa de mil kwanzas, o mesmo valor que cobramos para a religação”, informou Emília, tendo acrescentado que, independentemente dos meses que o freguês fica a dever, a MJ só lhe cobrará mais 2 mil kwanzas, além dos seis habituais.
Relativamente ao preço do contrato, Emília não teve receio de dizer que a sua empresa cobra 105 mil kwanzas. Mas ela detalhou que os moradores que pretendem ter a energia eléctrica distribuída pela MJ podem pagar esse valor em três prestações. “Ainda assim, há aqueles que nos pedem para aumentar uma ou duas prestações e nós temos cedi- do, porque percebemos as dificuldades que os moradores podem ter para arranjar esse dinheiro”, declarou.
Luz fraca entre as causas dos conflitos
Por seu turno, Adelina da empresa Electro-Luís, localizada próximo da única estrada asfalta- da (rua principal) do Mundial, começou por dizer que não estava autorizada a conceder entrevista. No entanto, ela deixou escapar que, na subscrição de um contra- to, a sua empresa cobra um valor um pouco acima do praticado na congênere MJ.
Segundo soube a equipa deste jornal, através de uma conversa não gravada, esta instituição que também distribui energia eléctrica a partir de um Posto Transformador (PT), cobre uma boa par- te do Mundial, principalmente o mercado e a zona comercial deste subúrbio. Por conta disso, uma das reclamações que a Electro-Luís tem procurado gerir, com alguma pedagogia, segundo fez saber Adelina, é a da fraqueza da intensidade da corrente eléctrica. “Alguns fazem contrato para ligação domiciliar, mas querem exigir energia que pode fazer funcionar máquinas de negócios”, frisou.
Delimitação de áreas de exploração
Como a Electro-Luís e a MJ têm clientes em algumas áreas do mesmo bairro, estas e outras empresas que vendem energia eléctrica aos moradores foram capazes de chegar a de entendimento, ao ponto de delimitarem zonas de exploração, de modo a evitarem possíveis conflitos.
A medida agradou mais à MJ, que, por sinal, tem a sede da sua empresa instalada na mesma rua que a outra distribuidora concor- rente, que regista as residências dos seus clientes com a letra L. Muito recentemente, esta em- presa decidiu cadastrar os seus utentes com uma descrição bastante visível, nas paredes das residências dos mesmos. Segundo os clientes da mesma, a ideia foi passar a mensagem de que as casas do bairro 28 de Agosto que estão a Oeste da paragem do Triângulo do mesmo bairro lhes cabe a distribuição de energia eléctrica. Aliás, nos memorandos de entendimento entre os proprietários desses PTs, ficaram também decididas as cores a serem usadas para o registo.
Sobre este fenómeno, os fun- cionários da MJ e da L optaram, respectivamente, por castanho e azul, as cores com as quais identificam as habitações da sua clientela ou área a explorar com ligações. Nos bairros Obama e Boa Esperança, a equipa desta reportagem não encontrou os detentores de PT´s, mas, em conversa com os clientes, esses moradores disseram que, durante o processo do contrato nunca lhes foi mostrado um documento de autorização de distribuição de energia.
“O que nos pediram para ver foram, simplesmente, alguns papéis que provam a concessão do Posto de Transformação (PT), mas, como para nós interessa mais ter luz, em casa, não ligamos muito a outra parte. Finalmente, OPAÍS constatou que a maior parte dos PT´s atribuídos a esses negociantes são de 250 KVA, o que justifica a fraqueza da intensidade da corrente eléctrica, em certas residências, já que essa capacidade não parmite a prestação destes serviços.