Sem desprimor aos que preferem outras opções, ter uma mulher é das experiências mais agradáveis da vida. Atenção, uma boa mulher. Aqui começa o dilema.
O que é exactamente uma boa mulher? Eu também não sei. Mas vão concordar comigo que os mais velhos, religiosos ou não, e isso difundiuse pela sociedade toda, pelo menos na nossa, sempre aconselharam os mais jovens a buscarem mulheres na Igreja.
“As da igreja” sempre foram vistas como as que mais se aproximam ao conceito ideal de boa mulher, pelo menos assim se tornou comum pensar… E não é que acatei o conselho e fui procurar pelas igrejas a “boa mulher”… Olha o que eu encontrei: A CATÓLICA. Comecei pela igreja-mãe.
O meu ego esmagou-se. São tão simples, humildes e respeitosas… Noras que fazem o gosto das mães mais tradicionais.
O nome de carinho que mais gostam é mano, ou seja, mano-amor. Fazem da boa kissangua e funge. As da IECA não são muito diferentes das católicas, possuem características semelhantes.
É como se tivessem nascidas já talhadas para os deveres do lar… Babei-me todo, mas e aí, quem apareceu? A ADVENTISTA. Fascinante. Essas aprendem a vestir desde o ventre materno… É muito glamour.
Os templos aos sábados se assemelham às galas dos óscares, onde dá-se a ver os mais variados, sofisticados e peculiares estilos e trajes. Não poupam. Elas “apertam mesmo de verdade”.
Vestem que vestem. Aquilo é um pouco de fé, um pouco de glamour, um pouco de oração, um pouco de brilho, tudo no ponto. Ah, não posso esquecer essa parte, cantam que cantam.
Aka! Está a solar para a igreja, mas parece que está a cantar exclusivamente para ti… Um pouco autoritárias, gostam que as coisas sejam do seu jeito, um pouco mandonas, mas isso dá para gerir. Quando quis conquistá-la, quem apareceu? A PENTECOSTAL.
Orava muito, eeeh! A unção da miúda me descomandava. Ao vê-la a orar, desmaiando para Deus, era inacreditável. A crença dela excedia o nosso amor. Eu, na hierarquia de importância da vida dela, estava abaixo dos dirigentes da Igreja.
Mas entendi, elas buscam mais as coisas do alto que as terrenas… Queria me conformar com as vigílias, os pais na fé, mas não deu… E aí, quem me apareceu? A APOSTÓLICA. A modéstia, a modéstia! Elas cobrem mesmo tudo, dos pés à cabeça, pelo menos quando estão na Igreja.
Essa particularidade atiçava mais a ideia de ter algumas coisas exclusivas, só para mim, e não expostas ao público. Na menina da TJ vi exactamente as mesmas características. Encantou-me essa ideia… Mas quem ficou comigo? A MUNDANA, bem, até hoje tento descrevê-la e não consigo. Ela tem virtudes que se contar não vão acreditar.
Acho que é dela que se referem quando falam de boa mulher. Não é perfeita, muito menos a mais linda, apenas sabe ser mulher no tempo e no espaço. Claro, com ela não tem como não ser homem.
Nunca perguntei como moldou-se no ser extraordinário que é, sem ser da Igreja… Um dia saberei, temos uma longa vida por partilhar… Afinal, não é a Igreja que determina o ser “boa mulher”, ou um bom homem, disso eu tenho certeza, embora concorde que essa instituição tem grande influência no comportamento das pessoas. Portanto, busque virtudes que assegurem a sustentabilidade e vitalidade do relacionamento/lar.
Busque qualidades além dos rótulos. Busque um/a parceiro/a para vida e não somente um/a colega de crença religiosa. Rotulagens não são boas. O conto que acabou de ler não é real, mas reflecte a realidade dos nossos tempos, onde nos distinguimos mais pelos “ismos” que professamos.
No campo das relações conjugais, privamo-nos, à partida, do direito de conhecer outros seres humanos que não sejam dos nossos “ismos”. Enjaulamo-nos em grupos restritos e escolhemonos entre nós, mesmo que as opções não sejam boas, obrigam ou obrigamo-nos a escolher mesmo aí… A selectividade restringida pela espiritualidade, em nome da fé, da igreja e da crença. Será que deve ser mesmo assim? Respeito quem pense que sim.
Mas não entendo por que razão tem de ser desse jeito. E se os únicos factores determinantes para nos relacionarmos fossem: 1- ser humano; 2- as virtudes além dos rótulos?
Por: ESTEVÃO CHILALA CASSOMA
Professor de Literatura