Algumas escolas de Luanda estão a enfrentar problemas de saneamento básico e de manutenção das suas estruturas, realidade que não concorre para almejada qualidade de ensino, no país, de acordo com gestores escolares que falam da necessidade de se prestar especial atenção à Educação
O problema está a ser sentido na Escola Primária n.º 7077, no município do Cazenga, onde o directorgeral, António João António, sem recursos financeiros e humanos, é obrigado a participar, com esforço físico, dos trabalhos que visam desentupir os canais que ligam a sanita à fossa, que ultrapassou a sua capacidade.
“Problemas que existem na educação são os mesmos: saneamento básico.
Eu estou a fazer trabalho de saneamento básico. Não seria o director a fazer este trabalho. Eu não vim para fazer este trabalho”, reclamou.
O gestor acrescentou que chegou à escola antes das 6 horas, com a finalidade de participar da acção de saneamento na sua instituição, onde os alunos ficaram sem latrinas para satisfação das necessidades fisiológicas.
No entanto, apenas com a sua força não foi possível, pelo que se teve de contratar munícipes dispostos a prestarem este tipo de serviço, enquanto a Administração Municipal do Cazenga disponibilizou o camião de saneamento, mas referiu que esta prática deve ter uma periodicidade estipulada.
“Se fosse um trabalho coordenado, periodicamente, não chegaríamos a isso. Não basta entregarem-nos as escolas bonitas, é preciso um plano de manutenção dessas escolas”, observou.
Para António João António, com mais de 30 anos de experiência na educação, é preciso saber viver no país, tendo considerado que as condições de trabalho obrigam um gestor escolar a desenvolver competências de arquitectura, de psicologia e de sociologia, sem as quais entende que será difícil trabalhar sem dinheiro.
Explicou que a parceria da Escola com a comissão de pais e encarregados de educação tem sido um dos principais caminhos para dar solução a muitas preocupações, porém entende que nem todas as coisas devem ser solicitadas aos pais.
“É preciso que o Executivo veja a fatia para a Educação. Caso contrário não se pode exigir qualidade de ensino, porque a qualidade de ensino passa por tudo isso que eu acabei de descrever.
Não há outra saída, para qualquer Estado que se queira desenvolver a não ser a educação”, alertou.
“As fossas estão prestes a encher” O subdirector pedagógico da Escola Primária da Comissão, Domingos Fiete, considerou incontestáveis as dificuldades pelas quais passam.
O responsável falou da falta de saneamento básico regular e de vandalização. Sem recursos financeiros, os responsáveis da instituição não têm meios para fazerem frente às dificuldades a que se assiste na escola, sendo uma das principais os cuidados a ter com a higiene das latrinas, uma vez que as fossas estão à beira de ultrapassar a sua capacidade de absorção.
“Nós não temos verbas. O ensino é gratuito.
As dificuldades são inúmeras. Assim que está a começar a chover, o corredor da sala sete à sala 12 é uma lástima.
As fossas estão prestes a encher”, enumerou parte dos problemas da sua instituição. Relativamente às fossas, Domingos Fiete explicou que a Administração Municipal do Kilamba Kiaxi tem estado a apoiar, porém não regularmente, deixando, às vezes, a escola com esta carência expressa. “São várias situações, mas que temos problemas, temos”, admitiu.
Não obstante, o subdirector pedagógico garantiu que as latrinas nunca chegaram a estar inoperantes devido ao trabalho das senhoras responsáveis pela higiene da instituição.
No entanto, acrescentou que, quando a situação é urgente, recorrem à comissão de pais e encarregados de educação, como neste ano.
Por outro lado, o arame farpado que protege o muro foi vandalizado, o que tem estado a resultar no desaparecimento de carteiras e janelas de vidro da escola.
Além disso, o gestor disse que o portão da instituição deixou de ser um meio de protecção e passou a representar um perigo para as crianças e não só.
“O portão em si é um perigo. É só uma argolazinha, esses arames, que está a tentar pegar o portão”, queixou-se.