O presidente da Renamo, Ossufo Momade, acusou, ontem, o chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, de tentar “empurrar o país para uma nova guerra” face à repressão policial de marchas que contestam os resultados eleitorais, considerando que o seu partido não vai recuar, segundo a Lusa
“Inquieta aos moçambicanos que o senhor Filipe Jacinto Nyusi, comandantechefe das Forças de Defesa e Segurança, esteja a demonstrar, com a sua voz de comando, que pretende empurrar o país para uma nova guerra”, declarou Ossufo Momade, durante uma conferência de imprensa realizada, ontem, em Maputo.
Em causa está a repressão policial das marchas lideradas pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) para protestar contra os resultados das eleições de 11 de Outubro, onde a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder) foi anunciada como vencedora em 65 das 64 autarquias, à excepção da Beira, ganha pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro partido com assento parlamentar.
Ossufo Momade reiterou que o seu partido não vai recuar até que se reponha a “verdade eleitoral”, considerando que a Renamo tem provas (editais) que mostram que o partido venceu em diversas autarquias.
“Exortamos a todos os amantes da paz, democracia e do bemestar a continuarmos firmes na luta pela reposição da vontade expressa no dia 11 de Outubro, porque somos por eleições livres, justas e transparentes”, declarou.
O presidente do principal partido de oposição, em Moçambique, criticou também a actuação da Polícia moçambicana durante os protestos em diversos pontos de Moçambique, denunciando uma alegada perseguição aos seus membros.
“Há perseguição e detenções arbitrárias de cidadãos, bem como invasão e cerco às delegações políticas do partido Renamo, como é o caso da cidade de Nampula e Maputo-cidade, nesta última onde, inclusivamente, houve vasculha no terraço do edifício”, afirmou Momade.
O líder da Renamo acrescenou que “é inexplicável que nesta senda de autêntico terrorismo da Polícia contra os cidadãos e o Estado estejam envolvidos cidadãos vestidos à civil empunhando e disparando armas como se se tratasse de mercenários”.
Em alusão a um grupo de homens armados, presumivelmente da Polícia que foram vistos, à paisana, procurando manifestantes na Sexta-feira no meio da agitação em Maputo.
As sextas eleições autárquicas em Moçambique decorreram em 65 municípios do país no dia 11 de Outubro, incluindo 12 novas autarquias que pela primeira vez foram a votos. O principal partido da oposição tem promovido, um pouco por todo o país, marchas de contestação aos resultados das eleições de 11 de Outubro, juntando milhares de pessoas que denunciam uma alegada “mega-fraude” no escrutínio.
Um agente da Polícia e um jovem morreram durante manifestações ocorridas em Nampula e em Nacala contra os resultados das eleições autárquicas, segundo o Centro de Integridade Pública (CIP), uma Organização Não-Governamental (ONG) moçambicana que observa as eleições.
O agente terá sido morto em retaliação ao baleamento de uma criança de dez anos, à saída da escola, numa acção enquadrada na reacção das autoridades às manifestações contra as eleições autárquicas na cidade de Nampula.
Na cidade de Nacala, também na província de Nampula, um jovem morreu depois de ter sido atingido por um objecto contundente no Mercado Central de Nacala, durante escaramuças entre populares e a Polícia, avançou o CIP.
Nas duas cidades, o comércio parou, com os mercados e estabelecimentos comerciais encerrados.
Os óbitos avançados pela ONG não foram ainda confirmados pelas autoridades que admitiram que pelo menos 10 pessoas ficaram feridas e outras 70 foram detidas durante as escaramuças.
De acordo com a legislação eleitoral moçambicana, os resultados do escrutínio ainda terão de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional (CC), máximo órgão judicial.
O Governo moçambicano e a Renamo foram os protagonistas do conflito armado mais longo que Moçambique conheceu: a guerra civil dos 16 anos.
A última base da Renamo, agora desmilitarizada, foi encerrada em Vunduzi, distrito de Gorongosa, em Junho deste ano, mais de 30 anos depois do fim da guerra civil moçambicana.
O encerramento da última base faz parte do Acordo de Paz e Reconciliação Nacional assinado entre o Governo da Frelimo e a Renamo em Agosto de 2019.
O entendimento foi o terceiro assinado entre as partes, tendo sido os dois primeiros violados e resultado em confrontação armada, na sequência da contestação de resultados eleitorais pela Renamo.