O que parecia ser uma anedota, um dia destes em Cabinda, revelou-se uma realidade quando confrontadas outras fontes na localidade. Quem diria que um turismo, quase sempre uma viatura com um espaço para cinco pessoas, e um depósito de combustível reduzidíssimo, pudesse levar mais tempo de abastecimento num posto de combustível em relação a uma Van, por exemplo? Perplexos, essa questão originou um debate acirrado, no enclave, porque ainda deve ser o que se observa, uma vez que até as viaturas mais pequenas não escapam às adaptações nos depósitos para que carreguem o máximo de combustível possível.
Porém, é parte deste mesmo derivado de petróleo que, posteriormente, acaba por ser levado para a fronteira com a vizinha República Democrática do Congo, onde é comercializado a preços altíssimos. O que se passa em Cabinda é apenas uma ponta do iceberg. Em iguais circunstâncias – ou até piores- todos os dias, quase sem excepção, são apreendidos milhares de litros de gasolina e gasóleo nas estradas entre o Bengo e Zaire. À semelhança ainda da província mais a Norte do país, os produtos apreendidos aqui próximo de Luanda também têm como destino o Congo Democrático.
Segura- mente pelo lucro que daí sai, são muitos os que até sofisticam as técnicas para esconder o combustível nos camiões para que não sejam detectados. Em algumas localidades do país, o contrabando de combustível tornou-se uma actividade rentável e um modo de vida até mesmo de indivíduos bem posicionados em instituições públicas e privadas, podendo com isso angariar centenas de milhares de dólares norte- americanos, prejudicando o abastecimento das populações de algumas províncias.
Entretanto, uma certeza existe: há um mercado sedento de produtos petrolíferos e seus derivados aqui mesmo às nossas barbas, constituído por milhões de pessoas, que olham com bons olhos aos produtos refinados que o país produz e também os importa. Embora tenha os seus principais mercados de exportação, há muito que se discute, igualmente, a necessidade de se atribuir, se calhar, uma atenção especial àqueles que nas zonas limítrofes também podem adquirir os nossos produtos, muitos dos quais até com divisas.
É bem-vinda a adopção e agravamento das medidas legais para se contrapor o contrabando quase complacente que se observa em muitos pontos do país. Claramente, os traficantes nestas alturas também estarão a estudar mecanismos e outras acções que lhes podem permitir ludibriar as forças policiais e militares.
Em todo o caso, haverá sempre dos outros lados, nomeadamente congoleses e até o namibiano, pessoas à espera do combustível. Vindo de forma legal ou não, estarão dispostas a pagar, razão pela qual o Estado angolano deve também aproveitar esse nicho de mercado muitas das vezes menosprezado.