Tensões elevam-se durante sessão nas Nações Unidas, na qual António Guterres disse que “o povo palestiniano foi submetido a 56 anos de uma ocupação sufocante” e pediu um cessarfogo a ambos os lados. Os EUA disseram que esse “não era o momento” e Tel Aviv desmarcou uma reunião, solicitando a demissão de Guterres
Na abertura de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, ontem (24), sobre a actual situação no Médio Oriente, realizada ao 18.º dia da guerra entre Israel e o Hamas, Guterres disse que o cenário está a ficar pior a cada momento e que as divisões estão a fragmentar as sociedades, além das tensões ameaçarem “transbordar” para o resto da região.
“As queixas do povo palestiniano não podem justificar os ataques terríveis do Hamas, e esses ataques terríveis não podem justificar a punição colectiva do povo palestiniano. Excelências, até a guerra tem regras […] num momento crucial como este, é importante ter princípios claros: começando pelo princípio fundamental de respeitar e proteger os civis.
Proteger civis não pode ser nunca os mandar para o Sul, onde não há medicamentos, não há combustível, não há comida e nem água, e estão a continuar bombardeando a região”, disse Guterres em forma de crítica ao cerco montado por Israel em Gaza, segundo a Bloomberg.
Israel ficou extremamente irritado com o posicionamento do chefe das Nações Unidas e logo em seguida o chefe da diplomacia israelita, Eli Cohen, cancelou a reunião que faria com o secretário-geral, e o embaixador de Israel na ONU, Gilard Erdan, pediu a demissão de Guterres, de acordo com o The Times of Israel.
Cohen e Erdan criticaram o facto de o secretário-geral ter dito, no seu discurso, que “os actos do Hamas não aconteceram por acaso”. “Senhor secretário-geral, em que mundo você vive? Definitivamente este não é o nosso mundo”, afirmou Cohen a Guterres.
Na visão de Guterres, “é importante reconhecer que os actos do Hamas não aconteceram por acaso.
O povo palestiniano foi submetido a 56 anos de uma ocupação sufocante. Eles viram as suas terras serem brutalmente tomadas e varridas pela violência.
A economia sofreu, as pessoas ficaram desabrigadas e as suas casas foram demolidas”, relembrou o secretário-geral. Porém, o chefe da diplomacia de Israel mostrou-se indignado com as declarações e postou no seu perfil no X (antigo Twitter) que não se encontraria com ele.
“Não me encontrarei com o Secretário-Geral da ONU. Após o massacre de 7 de Outubro, não há lugar para uma abordagem equilibrada. O Hamas deve ser apagado da face do planeta!”, disse Eli Cohen.
Os Estados Unidos apoiaram Israel durante a sessão nas Nações Unidas e disse que “este não é o momento para um cessar-fogo”, mesmo a ONU tendo informado que alguns palestinianos que fugiram das suas casas no Norte de Gaza regressaram devido à falta de comida e abrigo no Sul, relata o The Guardian.
Também nessa Terça-feira (24), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que Washington poderia “ter uma interferência maior” no que está acontecendo na Faixa de Gaza, “mas as pessoas não querem, as pessoas querem guerra”, afirmou Lula.