O presidente da Assembleia da República de Portugal, Augusto dos Santos Silva, valorizou o desempenho que os movimentos de libertação em África tiveram para o alcance da democracia em Portugal, na sequência da Revolução dos Cravos que se deu a 25 de Abril de 1974, embora a Guiné Bissau já estivesse independente desde Setembro do ano anterior
O parlamentar português teceu essas considerações ontem, 23, durante uma palestra subordinada ao tema “Angola – Portugal: Duas libertações interligadas”, promovida pela Universidade Católica de Angola (UCAN), à margem da 147ª Assembleia da União Interparlamentar, que Luanda acolhe até ao próximo dia 27.
O político português destacou três dimensões em que Angola e Portugal interligam-se em relação às suas libertações no plano político, sendo que a primeira tem a ver com o derrube do sistema fascista de Salazar a 25 de Abril de 1974, que depôs o regime ditatorial, tendo na sequência desse movimento, ocorrido a independência dos países africanos colonizados, embora Guiné Bissau já estivesse.
Esses dois eventos, segundo o político afecto ao Partido Socialista (PS), vividos há quase 50 anos, os dois países viveram dois processos de libertação. A libertação popular da ditadura em Portugal e uma libertação em Angola popular e nacional, a libertação do colonialismo português com o alcance da independência nacional em Novembro de 1975. “Estes dois processos que estão interligadas por várias razões: a experiência da guerra colonial injusta de ocupação e de agressão da parte de um milhão de portugueses, entre 1961 e 1974, foi essencial para que o povo português se cansasse do regime ditatorial e tomasse consciência que não era possível continuar a viver em ditadura”, ressaltou.
Augusto dos Santos Silva referiu ainda que de tudo isso era necessário que se encontrasse, não havendo solução militar, necessitaria de um virar de página no plano político, que passava inevitavelmente pela independência dos países africanos de língua portuguesa e a consequente cooperação entre Portugal e os novos países independentes. A interligação entre os países, segundo Santos Silva, é também evidente porque a democracia portuguesa deve muito à luta anti-colonial em África, em que destacados nacionalistas entre os quais Amílcar Cabral, e a estratégia política dos movimentos de libertação, PAIGC na Guiné Bissau e em Cabo Verde, FRELIMO em Moçambique e MPLA em Angola.
“Era uma estratégia política nacional, não formulada em termos raciais, mas exigia a independência como condição, para uma cooperação com Portugal. Pode-se dizer que aqueles que lutavam, em Portugal, contra a ditadura tiveram a mesma luta com aqueles que, em Angola e noutras nações africanas, lutavam contra a ditadura colonial portuguesa e essa interligação entre as duas libertações, são muito importantes”, referenciou. Assim, a revolução democrática em Portugal dá-se em 1974, tendo-se criado condições para um imediato cessar-fogo, que conduzem ao reconhecimento da independência da Guiné Bissau que já havia sido proclamada em 1973 e as independências de Moçambique e de Angola, em 1975.