É público que Cabinda é uma das províncias que, a nível do país, está no topo quando o assunto é burla. Os implicados, na sua maioria jovens com idades entre 19 e 40 anos, têm um vasto domínio de informática e não perdem uma oportunidade para aplicar golpes. Criam perfis falsos de dirigentes, como o da Vice-Presidente da República, ministros, governadores, comandantes, entre outros, com promessas de emprego, apartamentos em centralidades e outras benesses às vítimas
O Serviço de Investigação Criminal (SIC) em Cabinda registou, no primeiro semestre do corrente ano, 135 casos de burla, dos quais 95 foram esclarecidos, resultando na detenção de 122 cidadãos nacionais e estrangeiros implicados na prática dos referidos delitos. Em termos de valores defrauda- dos, estes estão na ordem dos 82 milhões 381 mil e 524 kwanzas, tendo sido possível recuperar apenas 7 milhões e 703 mil kwanzas. Para conter a onda de burlas na província, o SIC tem desenvolvido um trabalho aturado e eficaz, segundo Rodrigues Ambrósio, por- ta-voz desse órgão da Polícia.
Em função da dinâmica que tem sido implementada através dos seus operacionais de base, e não só, para se alcançar os objectivos preconizados, o SIC esclareceu 95 casos que envolvem a prática de crimes de burla em Cabinda. Dos casos esclarecidos, o jornal OPAÍS traz à terreiro alguns deles tornados públicos pelo SIC.
Assume particular relevância o desmantelamento de dois grupos de associação de malfeitores, constituídos por seis cidadãos nacionais, todos detidos, que criavam na rede social Facebook perfis falsos de governantes. Os acusados criaram perfis da Vice-Presidente da República, do comandante-geral da Polícia Nacional, da governadora de Cabinda, dentre outros, com o intuito de praticarem acções de burlas a cidadãos com promessas de emprego e apartamentos na centralidade de Chibodo 2.
Em Junho passado, o SIC deteve dois cidadãos nacionais, de 31 e 35 anos, acusados de burlarem 17 milhões e 680 mil kwanzas a um cidadão nacional, de 38 anos, através de um suposto negócio que envolvia a venda de 580 gramas de ouro. Aliciada pelo lucro, a vítima fez o pagamento a pronto do referido valor aos supostos vendedores do ouro. Na posse dos infractores foram apreendidos 540 gramas de ouro e 2 milhões de kwanzas, parte dos 17 milhões e 680 mil entregues pela vítima.
Acusado tenta suicídio na cela
Outro caso envolve a detenção de um cidadão nacional de 46 anos, acusado pelas autoridades de burlar perto de 80 pessoas com promessas de empregos nos Ministérios da Defesa Nacional, do Interior e da Educação em troca de dinheiro. O cidadão em referência, professor de profissão, foi indiciado na prática dos crimes de burla qualificada e falsificação de documentos e, perante os factos, tentou suicidar-se com um objecto corto-contundente na cela onde se encontrava detido no comando municipal da Polícia Nacional em Cacongo. Para conseguir os seus intentos, fazia-se passar por general do Exército e alto funcionário da Secretaria Provincial da Educação, bem como de juiz de Direito do Tribunal da Comarca de Cabinda, e prometia ajudar as pessoas a soltar familiares detidos e que cumpriam penas em estabelecimentos prisionais, a troco de dinheiro.
Outro cidadão nacional de 40 anos foi, igualmente, detido por extorquir 13 milhões e 750 mil kwanzas (não recuperados) a 250 pessoas, com promessas de em- prego em diversos ramos das Forças Armadas Angolanas. O acusado falsificava documentos das FAA e fazia-se passar por efectivo deste órgão, cobrando por cada vaga 55 mil kwanzas. Um cidadão nacional, que foi vítima de chantagem, apresentou queixas às autoridades de um grupo de associação criminosa que o ameaçava constantemente publicar nas redes sociais imagens íntimas comprometedoras para manchar a sua reputação, caso não pagasse 300 mil kwanzas.
O grupo foi desmantelado e os seus integrantes, quatro jovens, entre os 18 e 25 anos, foram detidos pela Polícia. Do grupo fazia parte uma rapariga de 22 anos que fornecia a conta bancária da mãe, já falecida, para a referida associação criminosa, de modo a facilitar o processo de transferência dos valores das chantagens e recebia 10 mil kwanzas em cada operação bem- sucedida. Estão, igualmente, detidos alguns cidadãos acusados de burla de que foi vítima um comerciante que perdeu cerca de 6 milhões de kwanzas num alegado negócio que lhe deveria render um lucro de 9 milhões de kwanzas. O comerciante de nacionalidade angolana foi aliciado por um cidadão da RDC que lhe propôs a com- pra de um produto que, suposta- mente, serviria para a reprodução de peixe.
A vítima pagou 150 mil kwanzas por um conteúdo que se achava em cinco pacotes no intuito de que este valor deveria ser elevado para 6 milhões de kwanzas em caso de a operação ser um sucesso. Segundo o porta-voz, Rodrigues Ambrósio, a pretensão dos operativos do SIC é persuadir os cidadãos a estarem mais prevenidos quando estiverem diante de situações que configuram uma burla, devendo, para tal, comunicar aos órgãos de Polícia para que estes possam tomar as medidas adequadas em tempo oportuno.
POR: Aberto Coelho, em Cabinda