Na narrativa, o autor do texto cria um ser para relatar os acontecimentos passados, presentes e futuros, comummente conhecido como narrador, (FAVERO, 2015: 102), este, por sua vez, para causar mais vivacidade e dinamismo às acções, cria os seres humanos, seres naturais ou animais personificados que participarão dos acontecimentos.
Há uma relação intrínsica entre o autor, o narrador e uma personagem na narrativa, às vezes, o autor poderá ser o próprio narrador ou mesmo uma personagem, é necessário, de facto, fazermos um contraste entre o ser biográfico e o ser literário, para dar conta destes pormenores.
Nossa atenção estará voltar ao narrador e a personagem da série “La Casa de Papel.” “La Casa de Papel” é uma série espanhola de drama policial criada por Álex Pina (2017- 2021).
Trata-se de dois assaltos elaborados por um homem conhecido como Professor, o primeiro é o assalto à Casa da Moeda Real da Espanha (1.ª e 2.ª Temporada, com 22 episódios) e o segundo é o assalto ao Banco Central da Espanha (3.ª até à 5.ª Temporada, com 26 episódios). As personagens estão divididas em três grupos: (i) os assaltantes liderados pelo professor cujos nomes são de cidades, tais como Tóquio,
Berlim, Moscou, Nairóbi, Rio, Denver, Helsinque, Oslo, Lisboa, Estocolmo, Bogotá, Palermo, Marselha, Manila, Pamplona e Logronho, (ii) os policiais liderados pelo Coronel Tamayo, deste grupo, destacam-se Prieto, Raquel, Suárez, Murillo, Amanda, Alicia Sierra, Gandia e (iii) os 67 reféns dentre eles destacam-se Arturo Roman, o governador e Mônica Gaztambide.
A série foi filmada na Espanha (Madrid), Panamá, Tailândia, Itália (Florença) e Portugal (Lisboa), “Bella ciao” é a canção que mais caracteriza a série, o refrão é conhecido entre nós angolanos, além desta, há “My Life is Goin” de Cecília Krull e “Maria, mi vida, mi amor” de Agustín Ramos.
É vencedora de vários prémios, inclusive como melhor série dramática no 46° Prémio Emmy Internacional. É um produto clássico da Netflix, portanto, pela sua dimensão, tem várias versões.
Dentre as personagens que participam da série destacamos duas (i) Tóquio e (ii) Professor. Matos (2015: 312-314) classifica a personagem quanto ao relevo em a) Personagem Principal, neste caso, o Professor, e b) Personagem Secundária, neste caso, a Tóquio.
O roubo é protagonizado pelo Professor, automaticamente, todas as acções, directa ou indirectamente, recaem a ele, ao contrário de Tóquio que é somente uma personagem, pese embora tenha um papel muito relevante na realização dos acontecimentos.
Matos (2015: 316) classifica o narrador quanto à presença em heterodiegético, homodiegético e autodiegético, percebe-se que Tóquio além de ser uma personagem secundária é, nitidamente, a narradora, isto é, homodiegético, uma vez que é uma personagem secundária, por outro lado, o narrador quanto à focalização ou ciência, Matos (2015: 317) classifica em narrador externo, narrador interno e narrador omnisciente, assim, entende-se que Tóquio é narradora externa, visto que relata os acontecimentos com base ao que observa nas personagens, sobretudo, na personagem principal.
Por fim, a personagem principal, de todas as formas, age como um narrador omnisciente, pois conhece inclusivemente o interior doutras personagens, bem como o modo de agir das demais personagens, por exemplo, da personagem Rio, até da própria narradora-personagem, o comportamento das personagens secundárias é monitorado pela personagem principal.
Infelizmente, a personagem Tóquio morre, no quinto episódio da 5.ª Temporada, a partir desta cena a narradora-personagem cessa, porém, os factos continuam a decorrer normalmente.
Em suma, Tóquio será narradora-personagem (homodiegético e personagem secundária), enquanto Professor será personagem principal.
Por: ESTEFÂNIO JOSÉ CASSULE
Estudante de Letras e Professor de Língua Portuguesa