O médico Júlio Cassongue foi agredido por familiares de um paciente, que acabou por falecer no Hospital do prenda, no último fim-de-semana. Os agressores culpabilizam o médico pela morte do seu ente querido, pelo que tomaram a decisão de projectá-lo pela janela, tendo este fracturado a perna
Médico interno da especialidade medicina interna, Júlio Cassongue conta que a situação ocorreu quando a sua equipa estava a fazer a última ronda da noite, de modo a verificar quais os pacientes que podiam ser internados e os que deviam receber alta. No final da ronda, a equipa viu que encostou uma viatura com um paciente grave.
Depois de os médicos observarem o doente, resumiu-se que este apresentava poucos sinais vitais. Apesar disso, os profissionais de saúde foram buscar os materiais para o reanimar, numa altura em que tinha sido comunicado a um dos familiares que havia poucas esperanças de sobrevivência. Segundo o médico, a paciente que perdeu a vida chegou ao hospital em estado crítico ou praticamente terminal. A pouca informação que recebeu dos familiares é que o doente vinha de uma casa de tratamento tradicional e precisavam fazer transfusão sanguínea no hospital.
Depois do familiar receber a notícia da morte, instalou-se a agressão, começando pelo enfermeiro, tendo um dos seguranças intervindo com a ajuda do agente da polícia, que o detiveram e encaminharam à esquadra mais próxima. Quando os familiares que estavam fora se aperceberam da situação, entraram agredindo todos os técnicos e destruindo tudo no interior do hospital. Júlio Cassongue estava num dos consultórios a observar um dos pacientes, ainda assim, um dos familiares forçou a entrada e, o médico, ao tentar defender-se, caiu.
O agressor empurrou-o em direcção à janela e o arremessou para fora, numa medida de nove metros de altura. O médico Júlio Cassongue disse que comparativamente aos seus colegas que também foram agredi- dos, ele foi o que mais sofreu, pois fracturou um dos membros inferiores. Júlio Cassongue integra a lista dos médicos que estão a se especializar em medicina interna, no Hospital do Prenda. “Saímos das nossas casas com o objectivo de cuidar da saúde de todos, também temos família. No hospital posso morrer, terá alguém para me substituir; na minha família, não. A minha mãe, que viu esta situação, apenas só chorava”, lamentou.
Médico teve de ser submetido a uma cirurgia
Por seu turno, o médico ortopedista no Hospital do Prenda, identificado por Dr. Paulo, afirmou que o quadro da vítima é estável, apesar de o trauma resultar em fratura com várias outras componentes de partes moles danificadas que necessitam de uma cirurgia de emergência. Quanto à sua recuperação, o ortopedista disse que vai depender do paciente, sendo que o tempo pode variar de quatro a seis semanas, na primeira fase da cirurgia, considerado que o quadro poderá ser alterado.
Sobre a situação que ocorreu com o médico Júlio Cassongue, o Dr. Paulo lamenta e explica que o normal, depois de alguém perder um ente querido, é ter apoio, mas infelizmente a população actua de modo agressivo e não reconhece que o seu familiar chegou ao hospital em estado grave. A ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, visitou o médico que foi agredido e, na ocasião, apelou a população a manter a calma, tendo em conta que a sua equipa tem tolerância zero para todos os cidadãos que chegam às unidades sanitárias e decidem partir para a agressão.
“O que aconteceu aqui é inadmissível e nós estamos a trabalhar com os órgãos competentes para as medidas sancionatórias, e retirar estas práticas do nosso seio”, frisou, Sílvia Lutucuta. Segundo a ministra da Saúde, nos casos em que o óbito é pronunciado antes das 24 horas, de um doente que esteve no banco de urgência, é considerado uma morte extra hospitalar, e é orientado que se faça a autópsia. Entretanto, serão cumpridos todos os procedimentos administrativos, jurídicos legais e clínicos que este caso impõe. “Nós estamos aqui para salvar vidas, os nossos médicos, enfermeiros, técnicos de diagnósticos, pelo que não podemos deixar que a moda pegue”, disse.
Detidos três dos dos protagonistas dos desacatos
“Foram detidos no local e encaminhados às autoridades para o competente procedimento criminal, três dos cidadãos que mais se destacaram nessas acções de vandalismo, incluindo o ataque ao médico acima referenciado”, diz o Ministério da Saúde, em nota de repúdio a que o jornal OPAÍS teve acesso. Na referida nota, o MINSA) diz que a cidadã deu entrada no banco de urgência do Hospital do prenda já sem vida, “lamentavelmente sem possibilidades de reanimação”, não obstante os esforços nesse sentido da equipa de profissionais da saúde em serviço. Esclarece ainda que os profissionais do seu Gabinete Jurídico estão orientados para prestar todo o apoio jurídico-legal à direcção do Hospital do prenda, por formas a assegurar que os responsáveis por este hediondo acto sejam exemplarmente punidos.
para evitar que situações do género voltem a acontecer, o MINSA está a trabalhar com o Ministério do Interior no sentido de aumentar a segurança do Hospital do prenda e dos profissionais que nele desenvolvem as suas actividades. “Os detalhes estão em fase de finalização e serão implementa- das com carácter de urgência”, garante. por outro lado, o MINSA reitera o seu compromisso in- condicional com a segurança e integridade físicas dos pacientes, corpo clínico e demais profissionais que labutam nas suas instalações. “Reafirma o compromisso de tudo fazer para que actos hediondos como estes não se repitam, causando graves danos à integridade física de profissionais que, tudo fazem para mitigar o sofrimento e a dor, assim como salvar as vidas dos seus concidadãos”.