O dia de ontem estava reservado ao discurso sobre o Estado da Nação, consagrado constitucionalmente para ser feito pelo Presidente da República, João Lourenço. Com clima de quase crispação, a julgar pelo chumbo que o MPLA impusera dia antes ao grupo Parlamentar da UNITA, o Presidente da República falou sobre o que foi feito durante os últimos anos, assim como dos projectos em curso. E, em mais de duas horas, foi possível divisar o que está a ser feito a nível de sectores como os da educação, saúde, habitação, agricultura, Desporto, administração pública, cultura, finanças públicas e relações externas.
Foram colocados números à mesa de debate, assim como o próprio Chefe de Estado não descurou a apresentação de feitos, com ênfase para o sector da saúde, energia e água, embora se reconheça que falte ainda muito para que os angolanos se sintam de algum modo satisfeitos. Visivelmente aplaudido pelos deputados do MPLA, o partido maioritário e de que é igualmente presidente, era ponto assente que os discursos de Lourenço fossem criar dissabores nalguns sectores.
Porém, ao longo do discurso, exaustivo como se pode perceber, retive fundamentalmente uma das frases que, na verdade, iria refletir os momentos que iriam suceder ao discurso: ‘é preciso trabalhar mais e criticar menos’. É por demais sabido que se vive uma crise económico- social. Milhares de famílias foram arrastadas neste turbilhão em que os preços dos bens de primeira necessidade aumentaram e as divisas, importantes para a importação, escasseiam com o câmbio proibitivo.
Porém, ainda assim, é importante que os angolanos não esmoreçam, acabando muitos de nós assumindo mais o papel de juízes, até mesmo em cearas que não dominamos sequer, mas isto não nos impede de sermos os maiores especialistas em certos assuntos. Diz-se que as crises aguçam o engenho. É o que se espera – ou esperava- ao longo dos últimos anos em que nem os sinais mais animadores nos apontavam para fim mais animador a nível de crescimento.
Contrariamente ao que se pensa, há oportunidades, sim, que vão surgindo um pouco por todo o país, algumas das quais vamos desperdiçando porque esperamos que o Executivo nos coloque tudo à mão. Há condições que são impossíveis de não serem imputadas a quem está no leme. Isso é indiscutível. Mas há outras que teremos mesmo que ir à luta. Por isso, muito mais do que criticarmos, caso existam possibilidades, temos a obrigação de nos reinventarmos, produzindo e aumentando riquezas.
Se há muitos, incluindo estrangeiros, que se conseguem fixar, ralando de forma incessante e depois prosperam, por exemplo, é tempo de se fazer o mesmo. Trabalhando mais, claro. É claro que se vai criticar igualmente, mas não se pode fazer disso um estilo de vida, negando inclusive o que esteja bem ou que quem o faça também participe activamente para melhorar o que pensa estar errado.