Depois de ser adiado por mais de 30 dias por razões de saúde, o novo disco musical de Filipe Mukenga, intitulado “Canções e Destinos”, foi lançado no passado Sábado. O artista acredita que pode ser o último da carreira, por considerar ser fastidioso gravar um disco de dez em dez anos
Neste disco, o cantor e compositor de 74 anos de idade optou por musicar poemas de escritores que aprecia, com destaque para as escritoras portuguesas Manuela Baptista e Vanessa Pereira.
Da primeira poetisa portuguesa, deu o toque em “Para Além do infinito”, “Dêem-me rosas em vida”, “Vem comigo, dá-me a mão” e “Saí pela noite”, enquanto da segunda trabalhou em “Alva pedra da calçada” e “Terra Molhada”.
Para o período noturno foi marcado um novo espectáculo denominado “Show dos Kotas”, no Club S, em que Mukenga se exibiu ao lado de Calabeto e Dom Caetano.
Quanto ao espaçamento de dez anos para gravação de disco, Muhenga referiu: “Já dei a entender às pessoas que pretendo dizer adeus à música, porque justamente estar a gravar os meus discos de dez em dez anos não faz sentido.
Quero sair ainda a andar com o meu próprio pé porque não quero deixar uma imagem do Mukenga caótico a precisar de segurar no braço de alguém, eu quero sair na porta grande com este big projecto que é o Tritonalidades”, expressou.
Mukenga tinha agendado o lançamento, que coincidiria com os seus 60 anos de carreira e de vida, para os dias sete e nove de Setembro, respectivamente, em duas casas de espectáculos da capital angolana.
De acordo com o músico, o disco começou a ser concebido depois do contacto com o produtor e jornalista Guelmo Cruz, numa fase em que estava com dificuldades em gravar uma nova obra discográfica.
“Não foi difícil a concepção, apenas a selecção dos temas, o Guelmo à medida que ia ouvindo, ia sugerindo mas não podíamos ter mais de treze canções, eu não precisei compor mais canções, portanto tudo foi feito depois do contacto”, explicou.
Filipe Mukenga indicou que o disco foi gravado entre Luanda, Portugal, Brasil e Peru, com a direcção executiva e artística de Guelmo Cruz e Chalana Dantas, com arranjos, programação de base e teclados de Nelo Paim e Valdemir Hailé.
Trajectória
Um dos grandes nomes da Cultura Nacional, Filipe Mukenga foi reconhecido pelo seu percurso artístico, em 2021, ao receber o Prémio Nacional de Cultura e Artes.
Francisco Filipe da Conceição Gumbe, cantor e compositor, ou simplesmente Filipe Mukenga, nasceu a 7 de Setembro de 1949, em Luanda, onde muito cedo começou a cantar.
O artista, que define a sua música como NMA, Nova Música de Angola, começou a cantar e a compor na década de 60, fortemente influenciado pela música anglosaxónica, nomeadamente pelos The Beatles e pela música francesa da época.
Pisou o palco pela primeira vez no programa “Chá das seis’’, realizado no antigo Cinema Restauração, em Luanda, com apenas catorze anos de idade, interpretando a canção “Donne tes seize ans” de Charles Aznavour, mas não foi bem-sucedido e regressou depois.
Durante a juventude, passou por bandas de rock como “The Five Kings”, “The Black Stars”, “Indómitos”, “Apollo II”, “Brucutos” e “Os Rocks”.
Com o amigo José Agostinho formou o Duo Missosso e começou a busca pelas recolhas do cancioneiro tradicional.
No início dos anos 80, fruto do seu ecletismo musical, aposta nas dissonantes aos sons nacionais e cria a NMA, Nova Música Angolana, aberta ao mundo, com “vários estilos e tendências musicais, que passam pela recolha da música tradicional, pelas influências da música popular, música brasileira, rock e pelas sugestões rítmicas e vocais do Jazz”.
Na sua discografia encontramos “Novo Som”, “Kianda Kianda”, “Mimbu Iami”, “Nós Somos Nós” e “Meu Lado Gumbe” e vários projectos com o seu parceiro musical, Filipe Zau, com realce para a trilogia “Canto da Sereia – O Encanto”.LIN/VIC/Angop.