No ano passado, o CEDESA [Centro de Estudos para o Desenvolvimento Económico e Social de África], considerou que Angola se tornou aliado importante dos EUA por dois motivos principais: (I) o seu “papel de pacificação” na região centro e sul do nosso continente e no Golfo da Guiné, respectivamente, graças aos esforços contínuos e abnegados do Presidente da República João Manuel Gonçalves Lourenço, e (II) o seu senso apurado que levou a reconfigurar a “nova política externa que pretende ‘deslocar-se’ da excessiva dependência da China.
Esses motivos podem influenciar o posicionamento de Angola no conflito entre Israel e a Palestina, pois os EUA são o principal parceiro e protector de Israel e têm uma estratégia de política externa com vista a contrabalançar a China.
Angola pode buscar uma maior aproximação com os EUA apoiando ou evitando confrontar Israel nas questões internacionais, como as resoluções da ONU ou o reconhecimento do Estado palestino.
No entanto, Angola também tem expressado a sua solidariedade com o povo palestino, defendendo uma solução de dois Estados, baseada nas resoluções das Nações Unidas e no Direito Internacional.
Essa posição pode trazer riscos e ameaças aos interesses do país, principalmente ao nível diplomático, pois Israel pode retaliar contra Angola usando o seu influente lobby em várias instâncias internacionais.
Além disso, o Estado angolano também tem interesses económicos e culturais com os países árabes e africanos, que são os principais apoiadores da causa palestina.
Angola pode evocar a sua própria história de resistência ao colonialismo e à opressão, e defender os princípios dos direitos humanos e do direito internacional.
Diga-se que há três caminhos possíveis: 1) apoiar abertamente Israel: considerando o facto de que Israel é um importante aliado estratégico na região, para salvaguardar a cooperação nas áreas da tecnologia, meio ambiente, energias renováveis e infraestruturas; e reconhecendo o direito de Israel se defender dos ataques do Hamas, que é considerado um grupo terrorista por vários países; 2) continuar a apoiar a Palestina: por considerar que este é um povo oprimido e injustiçado, que sofre com a ocupação e colonização israelita e assim defender o direito da Palestina ter um Estado independente e soberano, baseado nas fronteiras de 1967 e com Jerusalém como capital compartilhada; pode dessa forma buscar uma maior integração política com os países árabes e africanos que são os principais apoiadores da causa palestina. 3) ou ainda manter a neutralidade: Angola pode manter a neutralidade por considerar que este é um conflito complexo e delicado, que não tem uma solução fácil ou rápida; desta forma evita tomar partido por uma das partes, para não prejudicar as suas relações bilaterais com Israel ou com a Palestina; além de continuar a apelar o diálogo e a paz entre as partes, seguindo as resoluções das Nações Unidas e o Direito Internacional.
Esta questão requer, portanto, das autoridades angolanas equilíbrio e pragmatismo e levar em consideração razões mais objectivas como os seus interesses económicos, políticos e diplomáticos, bem como seus valores e princípios.
De forma objectiva, percebe-se que o viável seria manter a neutralidade e evitar envolver-se num conflito complexo e sem fim a vista, que pode trazer riscos e custos políticos, económicos e diplomáticos; uma atitude sábia seria reconhecer as limitações da sua capacidade de influenciar ou mediar este conflito e preservar as relações bilaterais para não prejudicar interesses ou comprometer seus próprios valores, mantendo uma postura equilibrada e pragmática buscando o diálogo e cooperação com ambos os lados; e desta maneira continuar a apoiar os esforços da comunidade internacional para cessar a violência e retomar as negociações.
Por: JULIÃO LOMENHA
*Cientista político e consultor