O programa integrado de desenvolvimento local e de combate à fome e à pobreza, orça- do anualmente em 336 milhões de Kwanzas, está apoiar de forma directa, no município de Buco-Zau, cerca de 400 famílias num total de mais de duas mil pessoas, tendo como grupo alvo os ex-militares e pessoas vulneráveis
No Buco-Zau, o programa de combate à fome e à pobreza, cuja implementação vai a bom ritmo, foi eleito como projecto de bandeira para o município. Para sustentar o programa, o governo angolano investe cerca de 336 milhões de Kwanzas/ano para cada município do país, à razão de 28 milhões por mês, dos quais três milhões estão direcionados para a merenda escolar.
Em entrevista ao jornal OPAÍS, o administrador municipal de Buco-Zau, Óscar Dilo, assegura que o programa de combate à fome e à pobreza tem sempre o orçamento garantido e agradece a visão do governo angolano ao conceber esse projecto. “É um projecto que exemplifica aquilo que é a autonomia dos municípios na execução de orçamentos.” Em relação a implementação do programa a nível do município de Buco-Zau, Óscar Dilo explicou o seguinte: “Inicialmente tinha- mos uma tendência de 70% desse dinheiro era para o sector produtivo, concretamente a agricultura, e 30% poderiam ser direccionados para outros sectores.
Acabamos por dar conta que não era bem assim, e tínhamos que equilibrar e definir as prioridades que vão de encontro com as necessidades das populações.” Para este ano, adiantou, embora o orçamento tenha sido aprovado tardiamente, em Março, trabalhou-se arduamente para que houvesse um reajuste na forma de manuseamento do programa em si, do ponto de vista financeiro, criando-se um sistema de gestão adequado ao programa. “Agora há mais transparência e mais condições técnicas para uma gestão coerente e de muita responsabilidade desses recursos.”
Para concretizar algumas acções do programa de combate à fome e à pobreza, foram mecanizados, o ano passado, cerca de 500 hectares nas comunas de Nhuca e Necuto distribuídos a ex-militares e pessoas vulneráveis para a produção de mandioca e outras culturas. “Temos uma grande preocupação como transformar essa mandioca. Para o próximo ano, no pro- grama de combate à pobreza teremos pequenas indústrias rurais para o aproveitamento dessa mandioca.”
Para além da mandioca, o município está, igualmente, empenha- do na plantação da banana, abacaxi e outros produtos que podem ser válidos para o mercado local e que devem influenciar directamente na melhoria da dieta alimentar das populações. Para o fomento da aquicultura, foram criados cerca de 30 tanques para a produção de peixe do tipo tilápia que está a dar bons resultados. O objectivo é melhorar a dieta alimentar da população e criar rendas financeiras às famílias.
“Daqui a sete meses teremos a primeira produção de peixe no município”, garantiu o secretário local da Agricultura, Rogério Bote Congo. Também está a ser implementado, no quadro do programa de combate à fome e à pobreza, um projecto de fomento e criação de aves. Para tal, o município adquiriu uma incubadora com capacidade para incubar 4 mil ovos em 21 dias. Na fase experimental produziu 150 galinhas, cujos machos foram entregues às comunidades para o melhoramento da raça local.
O programa Kwenda, segundo o administrador Óscar Dilo, veio dar uma lufada de ar fresco no alívio ao sofrimento das populações. “Buco-Zau é o município que mais beneficiou deste programa em termos de números e estamos satisfeitos com os resultados obtidos. Acredito que com esses pro- gramas e com alguma autonomia que temos agora a nível dos municípios podemos fazer coisas melhores nos próximos momentos.”
Agricultura
O sector da agricultura no município continua a marcar passos significativos quer na área da agrope- cuária como nas pescas. Na área agrícola, atráves do projecto Cadeia de Valores e combate à fome e à pobreza, foram preparadas de forma manual e mecanizada várias extensões de terrenos para o cultivo da mandioca, banana, feijão macunde, batata macoco, ginguba e milho, envolvendo mais de 4 mil famílias. A agricultura no Buco-Zau é praticada em áreas de florestas e planície. Nas planícies, que abrangem as localidades de Nhuca e Necuto, é cultivada sobretudo a mandioca, enquanto nas florestas, que envolve parte da comuna Necuto e a sede comunal, são mais produzidos a mandioca, banana, milho, tubérculos, batata e feijão macunde.
Dificuldades de escoamento
Os agricultores na região têm dificuldades de escoar os produtos dos centros de produção para os mercados de venda, devido as condições péssimas das vias de acesso. O projecto Cadeia de Valores, de acordo com Rogério Congo, fez um levantamento que visava melhorar as vias de acesso nas zonas rurais longínquas. “Estamos a espera da intervenção deles”, referiu Rogério Congo.
De acordo com o responsável da agricultura no Buco-Zau, falta intervencionar muitas vias na comuna de Necuto, onde o escoamento de produtos se torna uma situação quase impossível, se não fosse a intervenção dos mototaxistas. A nível da criação de animais, a dificuldade está na falta de ração para os porcos e aves. A ideia da produção de soja, um elemento importante na fabricação da ração animal, no município não teve sucesso, porque a população estava despreparada para a produção dessa nova cultura.
“Fomos surpreendidos com a entrega da semente e tivemos menos tempo de prepara-la. A população deveria ser treinada no que tange ao modo de cultivo da soja, onde, quando e como fazer a colheita do produto”, explicou à nossa reportagem Rogério Congo. Para o êxito do fomento e criação de animais, como galinhas e porcos, a ração é um elemento indispensável para sustentar o programa.
“Este projecto de fomento à pecuária com a criação de pequenos ruminantes e aves visa igualmente abastecer carne à população de modo que as pessoas deixem de praticar a caça furtiva.” Outra dificuldade dos camponeses, segundo o nosso entrevistado, é a aquisição de combustível para a prática da horticultura. O uso de motobombas precisa de combustível e a sua venda em bidões foi restringida, no quadro do combate ao contrabando. “Estamos a tratar disso, para que os camponeses tenham os credenciais, já que os que vieram na primeira fase foram para os taxistas e mototaxistas.
Já tivemos a perca de muitos produtos devido a falta de combustível.” O município tem 13 escolas de campo para apoiar os horticultores. O objectivo da criação das escolas de campo consiste em transmitir conhecimentos técnicos aos camponeses como se deve cultivar para que os beneficiários possam, por si, promover a sua própria cultura.
POR: Alberto Coelho, em Cabinda