O músico e compositor Sam Mangwana assinalou, nessa Segunda-feira, 60 anos de carreira musical. Em declarações ao jornal OPAÍS, o ícone da música nacional reafirmou que vai continuar a trabalhar em prol da música urbana africana
“Um artista é um sonhador. Para aqueles que pensam que o mais velho Mangwana, como já tem cabelo branco, já está na reforma ou tem que ser aposentado, eu digo ‘Não’. A arte não é assim. Vou continuar a minha missão nessa terra até ao fim”, afirmou o músico durante a sua homenagem realizada na última Sexta-feira pela RNA.
Com 70 anos de idade, Sam Mangwana mostra-se cada vez mais disposto a contribuir para engrandecimento da música nacional, e afirma que a sua missão é continuar a ensinar as novas gerações sobre a história da música e dos povos africanos, uma tarefa que o mesmo diz fazer com muito prazer e honra.
O ícone da música africana afirmou que o mais importante é construir uma sociedade capaz de preservar e valorizar os princípios e valores deixados pelos mais velhos, sobretudo no campo da cultura, em especial da música, para que o país siga em frente.
“Estou a trabalhar na educação das gerações de agora e as vindouras, porque a nossa missão [enquanto mais velhos] é deixar um legado para que o país continue a brilhar”, frisou.
Preparação de novo disco
Questionado sobre a preparação de um novo disco que poderá assinalar as seis décadas de carreira, Sam Mangwana adiantou que está a preparar uma novidade para os seus fãs e admiradores do seu trabalho, que poderá ser lançada no próximo ano, dependendo das condições e possibilidades.
Sem adiantar o título, o número de faixas ou as participações, Mangwana apenas avançou que será um álbum que irá reflectir os seus anos de carreira e acredita que o público angolano maravilhar-seá com a obra.
Homenagem
Mangwana foi a figura de destaque da gala referente à 33ª edição do Top dos Mais Queridos da RNA, realizada na última Sexta-feira,06, na tenda do Centro de Conferência de Belas (CC), no bairro do Futungo, em Luanda.
Em palco, o ícone da música angolana e da rumba congolesa levou o público ao delírio, entoando canções que marcaram o seu percurso artístico em diferentes partes do mundo. Para abertura, Mangwana começou a actuação com o sucesso “Suzana”, seguindo-se o “Fatimata”, “Pátria Querida” e “Galo negro”.
No mesmo compasso seguiramse outros grandes sucessos como “Maria Tebbo”, “Bana ba Cameroun”, e “Zela Ngai Nasala”. Acompanhado de bailarinas e da Banda Movimento, Mangwana deixou o público vibrante quando tirou da galeria o histórico tema “Tio António” que levou os mesmos a pedirem “bis”, pedido este que o músico imediatamente atendeu.
Após receber das mãos do presidente do Conselho de Administração da Rádio Nacional de Angola, Pedro Cabral, um diploma e menção honrosa, um acto que simboliza a homenagem ao artista e panafricanista, o ícone agradeceu o gesto e considerou ser uma homenagem que honra os seus trabalhos e o leva a reflectir sobre os seus feitos ao longo dos 60 anos de carreira.
Congratulado, Mangwana disse estar a viver a concretização de um sonho que há muito anseiava ver realizado.
“Estive fora do país por muitos anos e hoje estou cá, vejo este gesto, para mim é a concretização daquilo que eu sonhava há 60 anos. Estou muito agradecido”, expressou.
Percurso Histórico
Filho de pai zimbabweano e mãe angolana, Sam Mangwana nasceu a 21 de Fevereiro de 1945 na então Leopoldville, actual Kinshasa, capital da República Democrática do Congo (RDC). Mangwana fez a sua estreia profissional, em 1963, com a banda de rumba Congo-Kinshasa, African Fiesta, de propriedade e liderada por Tabu Ley Rochereau.
No mesmo ano, Mangwana atravessou o rio Congo para Brazzaville, onde formou um grupo de curta duração chamado Los Batchichas. Também trabalhou com a mais consagrada Banda Negro e Orquestra Tembo.
Ele então voltou para Kinshasa, onde se juntou a Tabu Ley, cuja banda passaria a ser conhecida como African Fiesta National.Em 1972, juntou-se ao TP OK Jazz, liderado por Franco.
Mangwana frequentemente actuou como vocalista em composições do guitarrista do OK Jazz, Simaro Lutumba. A sua popularidade aumentou durante esse período.
A colaboração com Simaro rendeu três sucessos: “Ebale ya Zaire”, “Cedou” e “Mabele”. Ele deixou o OK Jazz e voltou brevemente à banda de Tabu Ley, então sob o nome Afrisa. Ele então partiu novamente, desta vez mudando-se para Abidjan, Costa do Marfim, na África Ocidental. Em 1978 formou, junto com outros, a banda African All Stars, naquele país.
Quando os All Stars se separaram em 1979, ele se tornou um artista solo, tendo gravado os álbuns “Maria Tebbo” (1980) com remanescentes dos All Stars, “Coopération” (1982) com Franco, “Canta Moçambique” (1983) com Mandjeku, e álbuns com o saxofonista Empompo Loway sob os nomes Tiers Monde Coopération e Tiers Monde Révolution foram destaques da sua carreira na década de 1980. Devido às suas idas e vindas frequentes, ganhou o apelido de “pombo voyageur” (pombo viajante).
Na década de 2000, Mangwana passou a maior parte do tempo em Angola, surgindo periodicamente para realizar concertos na Europa.