Por pregarem uma profecia de esperança, realizações e cura a pessoas que estão aflitas, algumas correntes religiosas, rotuladas por seitas, vão ganhando protagonismo na sociedade angolana
O sociólogo Carlos Jorge considera que um dos fac- tores que dá azo à consolidação da proliferação das igrejas ou de denominações religiosas, na sociedade angolana, tem a ver com a crise social e espiritual, que se regista ultimamente. “Infelizmente, temos de admitir que as condições sociais e a carestia de vida impactam na adesão das pessoas a uma corrente religiosa, porque a tendência dos indivíduos, nessas circunstâncias, é encarar certas denominações religiosas como refúgio ou mesmo como uma forma de sobrevivência”, observou o sociólogo.
Ainda neste contexto, Carlos Jorge alerta para se ter cuidado com a vulgar teologia da libertação ou da cura, que considera a principal doutrina de atracção daqueles que procuram solução dos seus problemas. O académico endereça a mesma cautela ao Ministério da Cultura, assegurando que, através do seu Instituto Nacional para os Assuntos Religiosos (INAR), pode começar a resolver este problema, uma vez que essa instituição do Estado já tem anotadas quase duas mil igrejas esperando pela sua legalização.
Outra solução que o especialista em psicologia do trabalho e das organizações aponta é o que ele chama de estabelecimento de critérios mínimos de reconhecimento, como a exigência de formação mínima de teologia aos pastores, com grau de escolaridade até 12ª classe, tendo acrescentado que isso ajudaria muito na interpretação correcta da Bíblia Sagrada, com os requeridos sentido e coerência’ Carlos Conceição fala também da necessidade de se instruir os cidadãos com mínimos conhecimentos sobre teologia moral.
“A teologia ajuda as pessoas a comportarem-se e agirem, correctamente, na sociedade, por ser revestida de princípios ligados ao amor ao próximo, a instruir condutas ou a partilhar bens, ajudar os necessitados, como cuidar de viúvas e órfãos”, detalhou o sociólogo, para quem, olhada por esse lado da responsabilidade da religião, a referida instrução concorreria para se ter uma sociedade sã. O entrevistado asseverou que existem situações espirituais que só mesmo a teologia pode ajudar a manterem-se firmes.
“Por exemplo, deixar de amar o próximo, isso não é a ética ou a moral que vai resolver é mesmo uma questão teológica”, disse. Entretanto, o sociólogo reconhece ser preciso algum cuidado, para se evitar o extremismo religioso, ou seja, conflitos inter- religiosos, tal como acontece nas outras realidades do continente africano. “Nós, em Angola, nunca ainda registamos tal situação, as instituições que regulam o fenómeno religioso em Angola devem estar atentas a isso”, louvou o sociólogo.
Ligação antiga
Carlos Jorge recordou que a religião sempre esteve presente nas grandes transformações da sociedade, sendo que Angola não constitui excepção. Aliás, para si, desde a era colonial que a religião, no país, se faz presente na vida quotidiana dos seus cidadãos, apesar de várias mudanças e intromissão de variantes teológicas. “Algumas são de matriz neo- pentecostais, metodistas e outras, católica, mas, ainda as- sim, a educação religiosa continua actuante e a desempenhar papel crucial na moldagem de comportamentos dos cidadãos, daí que a regularização adequada deste sector não deve ser menosprezada.