Num primeiro momento houve as desconfianças quanto às medidas avançadas pelo Governo Provincial de Luanda que iriam culminar com o reordenamento da actividade de mototaxi na capital.
Quem vive em Luanda e noutros pontos do país, como diriam os brasileiros, está careca de observar os percalços que uma actividade praticamente desorganiza- da vai provocando. É exercido sobretudo por homens, a maioria dos quais sem qualquer habilitação, mas que diariamente se ocupam do transporte de centenas ou até mesmo milhares de cidadãos para os seus postos de trabalho, casa, escolas e noutros pontos que necessitem.
O que poderia passar por uma situação normal tornou-se um calvário. Tanto para os que viajam com eles, sem capacetes, como para outros que acabam nas estatísticas de mortos ou feridos vítimas da sinistralidade rodoviária. Muito por conta da má condução, desrespeito às regras de trânsito, embora se reconheça, igual- mente, que existam bons exemplos de jovens que exercem a actividade com brio.
Em todo o caso, o número elevado de jovens – e adultos envolvidos- acabaram por fazer destes uma força necessária para a locomoção dos cidadãos, sobretudo nas áreas em que os transportes públicos convencionais quase que não se fazem sentir. E o desemprego, segundo os responsáveis da associação que supostamente os congrega, a Amotrang, terá funcionado como élan para que o número de envolvidos no negócio crescesse de forma assustadora.
Infelizmente, o crescimento não foi acompanha- do por nenhuma medida que pudesse fazer com que os milhares de jovens se habilitassem. E isso fez com que qualquer um que pegue uma motorizada se colo- que na rua, busque um passageiro e inicie logo a actividade, colocando em risco a sua própria vida e de quem o acompanha. Como não havia quem tivesse vontade de colocar um travão, os próprios motoqueiros circulavam de forma impune, alguns dos quais tornando- se agressivos quando abordados por efectivos da Polícia Nacional. Pelo menos, foi o que ocorreu no Cazenga, há vários meses, onde depois de detidos alguns dos seus companheiros, outros se sentiram tentados em desacatar as ordens e criar alvoroço.
Quando se avançou, inicialmente, com a ideia de se organizar a actividade, houve quem se tivesse manifestado contra, com sectores da sociedade civil furiosos e outros até incentivando as passeatas que se organizaram no centro da cidade. Desconheço as razões, mas a verdade é que não se pode continuar a observar a balbúrdia que regressou nas estradas, provocadas principalmente pelos mototaxistas.
A ideia lançada pelo governador de se criar salas para instruir os jovens é o mínimo que se pode esperar no sentido de se inverter o quadro negro que se assiste diariamente. Mas, embora seja sua responsabilidade, não se trata unicamente de uma acção que se circunscreve ao Executivo angolano.
À semelhança do que vai ocorrendo noutros domínios, em que organizações não-governamentais se mobilizam, é estranho que não existam outros actores interessados em se debelar este problema que envolve quase 100 mil jovens.
Não basta só dar palpites quando a água está em ebulição ou incitar que estes- e outros- defendam fervorosamente os seus direitos. É imperioso que a mesma sociedade se sinta no direito de ajudar a colmatar os défices que alguns destes jovens mototaxistas possuem para que possam exercer as actividades sem sobressaltos.