O Pólo Agrícola da Quiminha, considerado o maior projecto integrado de agricultura em Angola, resultou de uma parceria públicoprivada que juntou especialistas israelitas, e deveria atingir, em 2018, a plena produção
Logo à entrada do projecto, o verde da plantação chama a atenção dando boas vindas aos visitantes.
Com uma área de mil hectares, o projecto agrícola da Quiminha, localizado em Icolo e Bengo, conta com produção o ano todo, com destaque para as hortícolas e os cereais.
Na fazenda, estão distribuídos 10 pivôs automáticos que funcionam o dia todo. Cada um tem a capacidade para regar uma área de 63,5 hectares, perfazendo um total de cerca de 635 hectares destinados à produção de milho, soja, feijão, cenoura e cebola.
Ainda entre os pivôs existe uma área com mais de 200 hectares onde são produzidas as hortícolas e raízes (tomate, beringela, alho francês, beterraba, curgete, abóbora, batata-doce, couveflor e o repolho roxo).
Para manter a produção o ano todo, o projecto dispõem de oito estufas, cada uma com um hectar, onde são produzidos o tomate, alface, ervas aromáticas, e posteriormente plantados o pepino e o feijão-verde.
De igual modo, os viveiros garantem a reposição dos produtos em diferentes épocas, as mudas das plantas permanecem durante um mês e, a seguir, são plantadas na terra.
A maior parte da produção da Quiminha é absorvida pelos grandes centros comerciais como a Maxi, Candando, Kibabo, Shoprite, AngoMart, como contou ao jornal OPAÍS o directorgeral deste perímetro agricola, Luís Assuceira.
À frente do projecto desde Maio de 2022, Luís Assuceira referiu que o facto de parte da produção se destinar a esses grandes compradores, exige da Quiminha mais trabalho e diversidade de culturas para atender às exigências.
Todavia, além de abastecer as grandes superfícies, os produtos são também vendidos a outros comerciantes privados que revendem no mercado informal.
O também responsável da Fazenda Agri Mumba disse que apesar das dificuldades no custo de produção, aquisição de sementes, variação da moeda, os produtos são comercializados a preços reduzidos.
Custos de produção
Neste momento, sublinhou Luís Assuceira, estão em produção cerca de 31 hectares de cenoura e a mesma quantidade para a cebola, com previsão de colheita no mês de Novembro, enquanto o milho ronda os 600 hectares de plantio.
Entretanto, a fonte queixa-se dos custos de produção e os insumos que na sua maioria são importados da Europa, África do Sul, Namíbia e Botswana, acrescentando que o mesmo acontece com os adubos essenciais para agricultura, como o cloreto de potássio e a ureia.
As falhas registadas no fornecimento de energia eléctrica e água agravam as dificuldades na produção da Quiminha, obrigando os seus gestores a recorrer em a geradores, o que aumenta ainda mais os custos de produção.
Recorde-se que o Pólo Agrícola da Quiminha, considerado o maior projecto integrado de agricultura em Angola, resultou de uma parceria público-privada que juntou especialistas israelitas, e deveria atingir, em 2018, a plena produção com a exportação para a Europa.
Mais de 200 pessoas empregadas
A plantação na Quiminha é feita manualmente, dividida por áreas, num total de 200 pessoas que, diariamente, trabalham no projecto.
Na secção da estufa nos deparamos com Domingas Fina que trabalha na fazenda há três anos.
A jovem referiu que trata da sementeira até a muda estar pronta para ser plantada na terra. Segundo ela, o processo passa por semear grão a grão nas paletes de diferentes mudas de alho francês, tomate, beterraba, repolho e abóbora.
No total, a jovem preenche 270 bandejas e encaminha para a incubadora. “Neste processo não se pode ainda introduzir os fertilizantes porque poderá queimar as mudas, só depois colocam- se os fertilizantes para maior desenvolvimento”, explicou.
No mesmo espaço, estava a jovem Feliciana João Bernardo que também cuida das mudas, mas já passou pelo trabalho no campo aberto, antes de ser transferida para o viveiro. Realçou que aprendeu muito sobre as etapas da agricultura, bem como os tipo de sementes que devem ser usadas para ter uma plantação saudável.
“O mais difícil na actividade é a plantação da salsa pelo facto de ser muito fina e tem de ser colocado(pé) um por um”, disse.
Na secção de harmonização das plantas encontramos Rosa António que trabalha no processo de pulverização, um processo que acelera o crescimento e impede que as plantas murchem.
A jovem, uma das mais de 200 pessoas que encontraram trabalho na Quiminha, disse que a sua jornada laboral começa às 7 horas e até ao fim do dia consegue pulverizar um espaço de até sete secções.
Aumentar a produção com pequenos produtores
Na Quiminha não estão apenas as grandes fazendas, sendo que o segmento dos pequenos produtores contribuem significativamente para o que é comercializado no mercado informal.
António Ferreira e a esposa Tânia Ferreira trabalham na Quiminha num espaço superior a três hectares destinados à produção de milho, ginguba, quiabo e outros produtos.
O que produzem e comercializam tem contribuído de forma significativa para a renda familiar, mas tal como quem produz em grande escala, reclamam dos preços elevados dos adubos e da subida do aluguer do tractor para preparar a terra, que saiu dos 30 mil kwanzas para 50 mil.
Tânia Ferreira e os outros pequenos produtores têm visto a situação complicar-se a cada dia que passa, sendo que os custos de produção têm impactado negativamente no lucro do negócio.
Referem que a situação piora quando registam restrições no abastecimento de energia e água, o que no último caso, por exemplo, vêm obrigados a comprar o líquido dos camiões-cisternas.
“Precisamos de máquinas e energia eléctrica para reduzir os custos na produção, embora dizem que já foram instalados alguns postos para a energia”, desabafa Tânia.