O director dos Serviços de Ortopedia e Traumatologia do Hospital Geral de Benguela, Olímpio Chapuia, entende que muitos desses casos podiam ser evitados se os mototaxistas estivessem habilitados para o exercício da profissão
O relatório daquela unidade hospitalar, a que este jornal teve acesso, aponta para o registo de 187 casos de acidentes de viação, envolvendo mototaxistas, no último semestre de 2023.
A maior parte dos acidentes, conforme sustentou Olímpio Chapuia, têm resultado em mortes e amputações de membros (superiores e inferiores), deixando, em muitos casos, alguns cidadãos inabilitados para o exercício dessa ou daquela actividade.
Observa-se, no relatório, que a incidência das ocorrências predomina em cidadãos com idades compreendidas entre 20 e 35 anos de idade, cujo sexo é masculino. Entretanto, o documento exclui os casos de transferências intermunicipais e outros que, na óptica do hospital, não reuniram “critérios de inclusão”.
Nesta perspectiva, o director dos Serviços de Ortopedia e Traumatologia do Hospital Geral de Benguela salienta que 90 por cento dos casos de internamento e os que dão entrada naquela área têm sido motivados por acidentes, envolvendo, geralmente, mototaxistas, daí que se julgue, no seu ponto de vista, imperiosa a tomada de decisão por parte das autoridades para se inverter o actual quadro.
O doutor Olímpio Chapuia recua no tempo até 2018 para sustentar a tese de que o gráfico de acidentes envolvendo essa franja, nesse ano, tinha baixado consideravelmente por conta de uma medida da Polícia Nacional segundo a qual só circulava pelo casco urbano quem tivesse habilitado para tal.
Ou seja, em rigor, quem se fizesse acompanhar de capacetes e fosse portador do livrete que o habilitasse à condução.
Como resultado, continua o nosso interlocutor, pela cidade circulavam apenas cidadãos com comprovada documentação, relegando quem não a tivesse para a periferia. “Nós aqui, no Hospital Geral de Benguela, praticamente não registávamos acidentes. Tivemos uma baixa enorme nos números.
Se houver possibilidade de voltarem a colocar em prática controlorígido, eu acho que nós todos sairemos a ganhar”, resume a fonte, que lamenta o facto de serem frequentes casos de amputações de membros, ao que se junta, igualmente, os de politrauma, fratura e quebra da bacia.
Para o doutor Olímpio, tem sido doloroso, enquanto profissional, ter de decidir a amputação da perna ou braço de uma criança, tal como aconteceu, recentemente, naquela unidade, lá porque alguém se tenha posto à estrada sem habilitação.
Bastante comovida, a equipa médica teve de tomar uma das decisões mais difíceis, porque não daria para a menina, de 6 meses de vida, continuar com a perna partida, tal foi a brutalidade com que se deu a queda um acidente de motorizada – conta o médico.
“Tivemos mesmo de amputar a perna da criança. As outras doutoras a lamentarem “doutor, não faça isso “, mas não tivemos escolha”, explica o médico-cirurgião.
Por: Constantino Eduardo, em Benguela