O Presidente da República, João Lourenço, será um dos líderes a discursar durante a Cimeira do Grupo 77 + China, que a cidade de Havana, Cuba, acolhe sob o tema desafios actuais do desenvolvimento e o papel da ciência, tecnologia e inovação
Face aos constantes golpes de Estado que têm estado a ocorrer ao nível do continente africano, sendo o mais recente o do Gabão, o analista em relações internacionais, Afonso Botáz, defende que o discurso do estadista angolano na cimeira deve incidir sobre a questão da segurança, além das questões relacionadas com o reforço económico.
“A intervenção do Presidente João Lourenço seria sugestiva se fosse às questões de segurança em África por conta do ‘sismo de golpes de Estados’ incontroláveis que se assiste, mas é já hora de assuntos de casa serem resolvidos em casa.
Entretanto, o mesmo deve olhar para questões de cooperação no âmbito económico por ser uma das áreas que Angola aparenta estar mais carente”, destacou.
O académico disse ainda que a participação de Angola, como convidada nesta cúpula, que reúne elementos importantes do xadrez internacional, é uma oportunidade para continuar a estreitar laços com parceiros de grande porte, pois o convite é sinal de que o país pode muito mais, aproveitando a credibilidade que tem de outras partes.
Igualmente, face ao posicionamento estratégico de Angola na parte ocidental da África Austral, é imperioso se ter em conta as pegadas que esta, desde há muito, tem vindo a deixar no cenário político internacional, mediante as suas intervenções em questões ligadas aos seus interesses.
“Nesta cimeira, Angola estará a receber mais uma oportunidade para alavancar a prossecução dos seus interesses.
Entretanto, deve lembrar as suas prioridades a nível interno e posteriormente externo, de modo a garantir uma boa prestação no processo de auto-desenvolvimento e cooperação internacional”, referenciou.
As prioridades internas de Angola, segundo aludiu o analista, acabam por ser em assuntos relacionados com a demora na tentativa de implementação das forças subsidiárias do Estado, o desafio da implantação das autarquias, saneamento básico, e o mais recente surto da inflação que reduziu o acesso da população ao mercado de consumo.
“A nível externo temos os desafios na busca constante de parceiros estratégicos, e não só, Angola agora acaba por assumir a presidência rotativa na Comunidade dos Países de Desenvolvimento da Africa Austral (SADC), é mais um motivo de continuarmos a estreitar laços em busca de capacitação e melhorias para atendermos as demandas que voltam à mesa”, rematou.
Tecnologias e ciências Por sua vez, o jurista e especialista em relações internacionais Mário Gerson acredita que o posicionamento do Presidente da República deverá incidir sobre o que tem sido feito por Angola no ramo das tecnologias e das ciências, pois este é o principal escopo da cimeira.
Daí que deverá solicitar parcerias para que investidores venham investir nesses sectores chaves do país, uma vez que têm sido dados vários passos nessa direcção com a assinatura de protocolos com organizações internacionais e Estados uma vez que este sector faz parte da vida das populações, atinente ao seu papel no quadro das indústrias.
Por outro lado, considera que os blocos regionais e internacionais vão mantendo tendências expansionistas, as guerras, os conflitos trazem, por outro lado, novas perspectivas de alianças. “Essa cimeira tem como escopo substancial a presença da China.
País rico e impactante e com uma geopolítica mundial visivelmente, sendo certo que muitos países pertencentes ao G77 são aliados naturais da China”.
Destacou ser imporante a participação de Angola, que nesta montra internacional deverá essencialmente colher experiências do ponto de vista das ciências, tecnologias, como fora referenciado pelo ministro das Relações Exteriores de Angola, Téte António, quando abordado sobre a participação do Presidente angolano na cimeira.
“Angola está a gerir dossiers importantíssimos relacionados com o Congo Democrático na região do Leste e também em Cabo Delgado, em Moçambique.
Nós temos de ter a nossa política diplomática expansionista, visionária, de tal modo que só trará peso e influência para o nosso país”, destacou o também académico.
Em termos comerciais e económicos, Angola mantém boas relações comerciais com vários Estados pertencente ao G77, substancialmente Cuba, ligações com países asiáticos, do ponto de vista do petróleo, o que de per si é uma mais-valia à participação de Angola na cúpula dos G77+China, organização que existe desde 1964.
Programa De acordo com o programa do evento, para hoje, Sexta-feira, 15, o Presidente da República, João Lourenço, vai discursar diante de Chefes de Estado e ou seus representantes convidados para o evento.
No debate geral, os Chefes de Estado e de Governo terão a oportunidade de exprimir as suas ideias e pontos de vista à volta do tema escolhido e outras considerações sobre a realidade actual do mundo.
O programa do Presidente João Lourenço reserva um encontro, nesta mesma noite, no Palácio da Revolução (sede do poder político em Cuba), durante uma recepção a ser oferecida pelo líder anfitrião, Miguel Diáz-Canel.
Por outro lado, o programa de trabalhos destaca a aprovação da Declaração Política previamente negociada pelo Grupo dos 77+China, em Nova Iorque.
Um dos pontos propostos na declaração é a celebração, de três em três anos, de uma reunião dos ministros da Ciência, Tecnologia e Inovação e a definição da data “16 de Setembro” como o Dia da Ciência, Tecnologia e Inovação do Sul.