A interpretação é subjectiva, portanto toda a interpretação é válida, deve ser respeitada, pois trata-se do entendimento que cada um tem sobre determinado assunto”.
Lemos, com alguma frequência, nos dias actuais, frases assim, e sem nenhum esforço mental, sem nenhuma análise séria acabamos por não contestar, talvez seja pela ingestão exagerada de aforismos segundo os quais “toda opinião é válida; não pensamos todos da mesma; o mundo é feito de diversidades; não existe o certo e o errado, apenas existem dias opostas, etc.”
Há tempos conversava com um amigo sobre a questão da liberdade na interpretação, dizia-me que se tratava de um assunto um pouco complexo, cuja discussão é ainda frequente entre aqueles que poderíamos considerar escolares— designação que não estou disposto a assumir como legítima por razões contextuais; cada escolar é segundo a sua realidade. Será que há mesmo liberdade na interpretação, no sentido de que cada um interpreta à sua maneira? Ou a liberdade de que se fala não é assim?
Sem perceber também mergulho no dilema da interpretação ao discorrer sobre ela, no entanto é um risco que vale a pena ser assumido.
Constatamos haver ideias norteadoras de um pensamento, ideias que não podem ser ignoradas ou distorcidas, pois são a alma do pensamento ou argumento que se pretende “analisar”.
Não seria essa constatação razão suficiente para dissipar alguma dúvida em relação à subjectividade na interpretação?
Um outro ponto interessante a se ter em conta está adstrito ao facto de que a interpretação depende do nível de compreensão, conhecimento que um indivíduo tem sobre o assunto exigido.
Quanto mais conhecimento sobre o assunto, maior concisão a interpretação acarreta; quanto menos conhecimento, menor também é a concisão na interpretação.
As seitas religiosas cristãs, por exemplo, são um facto evidente de que a interpretação constitui um objecto sério de estudo. Cada seita religiosa diz estar certa sobre a interpretação que faz da bíblia, acusando-se uma a outra de falsidade.
As sugestões em torno de uma interpretação concisa têm passado, necessariamente, sobre a observação de aspectos como o “tempo, o espaço, a questão sociopolítica, a mentalidade, etc”.
Portanto, com as constatações até aqui apresentadas, fica a ideia de que a interpretação exige a objectividade: a observação das ideias principais de um pensamento ou argumento, o conhecimento sobre o assunto.
Não é livre ou subjectiva no sentido de que cada um interpreta à sua maneira. Pois se assim fosse, tudo seria válido e aceite, não haveria certo e errado.
O grau da subjectividade na interpretação, então, deve ser entendido sob um outro sentido, diferente daquele em que tudo é “válido e aceite”, porém na acepção de que a interpretação converge com o estado intelectual e emocional de cada pessoa.
A lógica é um instrumento fundamental na questão da interpretação, pois permite a averiguação sistemática e metódica do que está a ser interpretado, deixando a interpretação cada vez mais objectiva no quesito epistemológico; permite avaliar a validade e a veracidade do pensamento, argumento.
Por: Manuel dos Santos