Erguido em 2015, com uma capacidade para leccionar 80 cursos nas mais variadas áreas artísticas, o Complexo das Escolas de Arte (CEARTE) ministra apenas 22 cursos devido à falta de professores
É a única instituição de ensino médio técnico-profissional de arte no país. Está a funcionar há mais de seis anos, com a sua capacidade técnico-pedagógica reduzida em mais de 65% e foi erguida numa área de quatro hectares, no município de Talatona, Distrito Urbano da Camama 1, em Luanda.
Segundo apurou este jornal junto da direcção da escola, este importante complexo escolar de ciências artísticas conta com um total cinco áreas de especialidade, respectivamente Música, Teatro, Artes Plásticas, Cinema e Dança.
Entretanto, cada uma das áreas pode albergar pouco mais de 10 cursos direcionados, o que faz com que a instituição tenha uma capacidade para leccionar cerca de 80 cursos específicos.
De acordo com o director pedagógico do CEARTE, Gaspar Agostinho Neto, a escassez de professores é a maior razão que faz com que a instituição funcione com apenas 27,5% da sua capacidade de administração dos cursos, estando paralisados os restantes 73,5% da capacidade total.
“O CEARTE foi construído de raiz.
Tem mais de 75 salas de aulas para acolher cerca de 80 cursos, mas funcionam apenas 22 por causa da falta de professores.
É uma preocupação que todos os anos temos apresentado ao Ministério da Cultura e ao da Educação, mas até ao momento continuamos a aguardar por respostas”, adiantou o responsável.
A instituição, segundo o director, conta com 164 docentes para mais de 720 estudantes, distribuídos nas respectivas cinco áreas de especialidade, repartidas em 52 turmas. A área de Artes Visuais e Plásticas é a que mais estudantes alberga, num total de mais de 300.
Formação Artística e Pedagógica
O leque de formações administradas pelo CEARTE encontra-se repartido em duas vertentes: a formação artística e a pedagógica.
Ou seja, a instituição, para além de formar artistas, está vocacionada também a formar futuros professores para as diferentes especialidades de artes. Por outro lado, explica o director, o sistema de ensino do Complexo Escolar de Artes está igualmente repartido em dois níveis, o ensino de base, que compreende as classes da 7ª, 8ª e 9ª, e o ensino técnico-médio, que vai da 10ª à 13ª classe.
“Temos aqui alunos que estão a se formar para serem artistas nas diferentes áreas e outros que estão focados em ser professores de arte também nas diferentes áreas que nós administramos”, afirmou, acrescentando que alguns dos alunos finalistas acabam por se tornar professores do próprio CEARTE.
Mais de 300 artistas formados
Quanto ao número de artistas já formados, Gaspar Agostinho disse que, desde a sua fundação até ao momento, a instituição já formou mais de 300 estudantes nas diversas áreas artísticas e alguns deles hoje são docentes na própria escola.
Só no ano lectivo 2022/23, de acordo com o director, a escola teve um total de 72 finalistas, a maioria vindos dos cursos de música, artes visuais e plásticas e dança, ao passo que as áreas de teatro e cinema são as que apresentam um número reduzido de estudantes finalizados.
Apesar das limitações e carências, a escola de artes tem desempenhado, afincadamente, o seu papel no capítulo da formação técnico-profissional e artística, assim como na promoção das diferentes artes, através da realização de eventos acadêmicos multiculturais, como feiras, exposições e concursos de artes.
Para o presente ano lectivo, que arrancou oficialmente no dia 01 de Setembro, a direcção do CEARTE estima receber mais de 80 novos estudantes, repartidos nos variados cursos, mas adianta que o número seria maior se houvesse mais docentes, permitindo assim a abertura de novas turmas para 2023/2024.
Professores prontos para o arranque das aulas
A admissão de novos estudantes elevará o número destes e exigirá dos actuais docentes mais esforços devido à carência do quadro docente.
Apesar disso, os pedagogos garantem estar prontos para mais um desafio, enquanto aguardam pelo processo de admissão de novos quadros, que deverá ocorrer apenas via concurso público.
Professor e coordenador da área das artes plásticas, Virgílio João reconhece as limitações da instituição, sobretudo em relação ao número de professores, mas assegura que a sua coordenação está pronta para enfrentar mais um ano lectivo, com o mesmo rigor e profissionalismo do ano transacto.
“Neste momento, estamos numa fase de formação entre professores e a direcação, e continuamos com o mesmo profissionalismo.
Fazemos fé que o governo atenda o nosso pedido de realizar concursos para podermos ter mais professores e assim podermos abrir outros cursos que se encontram fechados”, apelou.
O professor explicou que a sua área comporta diversos cursos de especialidade, como escultura, cerâmica, gravura e pintura, estando outros cursos pendentes por falta professores.
Já na área de teatro, o professor José Teixeira, coordenador da respectiva área, afirmou estarem reunidas as condições técnicas e anímicas para o arranque de mais um ano lectivo, tendo acrescentado que o teatro é das áreas que mais profissionais já formou naquela instituição.
O profissional não escondeu a preocupação em relação à carência que a instituição apresenta, mas está optimista em dias melhores, sublinhando que, “com alguma criatividade e força de vontade, é possível formarmos bons profissionais, apesar das limitações que a escola apresenta”.
Quanto à área de cinema, o professor Chissano Guimarães, coordenador da área, fez saber que a mesma abarca quatro cursos específicos, nomeadamente produção, realização, câmara e iluminação e edição de imagens.
De acordo com o formador, a área carece de 20 professores para assegurar o seu normal funcionamento e permitir que outros cursos possam ser abertos, uma vez que é das áreas mais desafiantes e com um sistema curricular muito exigente e complexo.
“Temos alguma condição que nos permite administrar o básico, mas necessitamos de materiais específicos para poder proporcionar algo melhor em termos de ensino técnico.
O cinema é uma área que exige materiais e meios próprios, porque ela contempla cursos muito técnicos e práticos”, frisou.
Disse ainda que face às dificuldades, muitos professores têm feito um enorme esforço no sentido de adaptarem e chegam mesmo a utilizar materiais pessoais para administrar as aulas.
Apesar da situação, Chissano Guimarães afirma que a força de vontade e o comprometimento na formação dos estudantes tornam as coisas possíveis, razão pela qual os docentes têm buscado formas de se reinventar e transmitir os conhecimentos.
“Enquanto não há meios suficientes disponíveis, vamos procurando formas de ajeitar para que os alunos não fiquem sem aulas.
Alguns de nós recorrem ao uso de meios próprios, porque também fomos estudantes e nos colocamos na posição deles, e procuramos formas de transmitir os conhecimentos da melhor maneira possível”, salientou.
Sobre o CEARTE O Complexo das Escolas de Artes (CEARTE), afecto ao Ministério da Cultura, foi inaugurado a 5 de Janeiro de 2015, em cerimónia orientada pelo ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República, Edeltrudes Costa.
A infra-estrutura, construída de raiz, alberga as escolas médias de Artes Visuais e Plásticas, de Dança, de Música, de Teatro e de Cinema.
Possui 22 salas de aulas e conta com pouco mais de 720 alunos, espalhado nas diversas áreas. Tem ainda uma biblioteca, internato para 164 alunos, auditório com 300 lugares, pavilhão poli-desportivo, anfiteatro ao ar livre com 400 lugares, laboratórios de informática, física e química.
A instituição destina-se à formação de profissionais-intérpretes, criadores e docentes em diversas áreas culturais, inserindo-se no domínio do ensino artístico especializado.
Por: Bernardo Pires