Será o que nos distingue enquanto seres humanos o nosso tom de pele, a nossa localização geográfica, os nossos credos, as classes sociais a que pertencemos, ou seja, esta macedónia de elementos externos, ou será outra coisa que nos distingue uns dos outros?
Porventura serão estas coisas que nos fazem, ditam os nossos comportamentos, a forma como vivemos, olhamos para o mundo e conduzimos as nossas vidas ou haverá outra coisa responsável por isso? São questões que me sobrevieram em consequência de muitas idas aos nossos mercados, vulgo praças, às compras dos nossos legumes de cada dia.
Nestes locais onde as mulheres têm domínio e maioria absoluta, é impossível não reparar ou vislumbrar a bela compleição que aquelas comerciantes possuem, apesar das vestes simples, dos penteados pouco tratados, apesar do suor tatuado nos seus rostos, apesar da poeira que teima em se desgarrar dos seus corpos, a famosa baúca, é impossível não reparar na limpidez da sua melanina, da beleza e pureza dos seus olhos, é impossível não reparar nas curvas dos seus corpos.
Enquanto homem, é díficil não pensar que com o tratamento certo, até se nos atreveríamos a casar. Não é um sentimento muito diferente daquele que possuiu o Contratador João Fernandes, levando-o a casar com Xica da Silva, então escrava, fazendo dela Imperatriz do Tijuco, na famosa novela que conquistou o coração de todos os angolanos, produzida pela Rede Manchete nos finais do século passado.
Dou por mim absorto, olhando por breves instantes para aquelas mulheres e não consigo deixar de pensar no quanto a natureza as foi generosa.
Olho quase inebriado para aquelas mulheres de jeitos, modos e linguagens simples, e não consigo deixar de pensar que em função da sua beleza magnetizante, beleza esta que é notória e salta à vista teimosamente apesar de estarem num ambiente repleto de coisas que a poderiam obscurecer, elas têm tudo e mais alguma coisa para recorrerem a meios menos elogiosos e nobres para fazerem dinheiro, à semelhança das nossas irmãs que vendem não legumes, mas o que de mais valioso possuem: a si mesmas, os seus corpos e as suas almas, muitas delas sequer tão bonitas ou atraentes como esta mulher que acabou de me abordar questionando se não pretendo comprar também o alho por ela à venda, tratando-me por mano.
Foi dito por Albert Einstein que tudo aquilo que o homem ignora não existe para ele; por isso, universo de cada um se resume no tamanho do seu saber.
É uma análise deveras profunda e acredito ser essencialmente isto o que nos distingue enquanto seres humanos: o tamanho do nosso universo, intrínseco ao tamanho do nosso saber.
O que nos distingue é tão simples e meramente aquilo que sabemos, a distensão e consequente expansão do nosso conhecimento.
É a forma como pensamos que nos distingue.
O que pensamos sobre nós, sobre os outros, sobre o mundo, isto sim é o que faz de nós quem somos.
Certamente não será o nosso tom de pele à medida que há negros que pensam diferente.
O negro americano é diferente do negro sul-africano. Certamente não será a nossa etnia uma vez que existem judeus ateus.
No episódio bíblico onde Maria Madalena é flagrada cometendo adultério e levada a Jesus Cristo para endossar a intenção do povo de apedrejá-la até a morte, a única coisa que frustrou aquela sentença fatal foi o facto de Cristo os ter convidado a mudar a sua forma de pensar, mudando consequentemente a forma de pensar de Maria Madalena, a qual, à convite de Cristo, nunca mais voltou a pecar, tornando-se à partir de então seguidora do Messias.
O que leva um ateu a converter-se é a transformação da sua forma de pensar. Todos os elementos externos nele permanecem iguais, porém, alterandose a forma como pensa, deixa de ser o mesmo.
O que um dia levará a diminuição dos elevados níveis de promiscuidade e sodomia que muito se vêem na sociedade angolana é a transformação radical da forma como pensam as pessoas, desde os que deitam o lixo e mijam no chão aos trânsitos que pedem gasosa.
A corrupção, o nepotismo e tudo de errado que se possa pensar estão à distância de uma mudança de pensamento. Infelizmente o tamanho dos nossos universos ainda é demasiado pequeno e isso se reflete no tipo de sociedade que temos.
Por: EDUARDO PAPELO